Bolsonaro fecha mandato com um Rio de Janeiro de AmazĂ´nia devastada

Se esse estrago for comparado com a extensĂ£o da cidade de SĂ£o Paulo Ă© possĂ­vel dizer que uma capital paulista foi desmatada a cada 45 dias

Desmatamento e queimadas matam 12% da Amazônia em quatro décadas

Publicado em: 06/10/2022 Ă s 19:08 | Atualizado em: 06/10/2022 Ă s 19:08

O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleiĂ§Ă£o, deve terminar os quatro anos de gestĂ£o com um total de 47 mil km² de desmatamento na AmazĂ´nia. O nĂºmero representa o total da Ă¡rea destruĂ­da segundo as estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 2019 e 2022 e Ă© 60% maior do que o registrado nos quatro anos anteriores no governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

A Ă¡rea desmatada na gestĂ£o Bolsonaro Ă© maior que todo o estado do Rio de Janeiro, por exemplo, com seus 43 mil km².

Se esse estrago for comparado com a extensĂ£o da cidade de SĂ£o Paulo, equivale a dizer que, durante o governo do atual presidente, uma Ă¡rea de floresta equivalente Ă  capital paulista foi desmatada a cada 45 dias.

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Segundo o Inpe, o volume de desmatamento jĂ¡ consolidado de 2019, 2020 e 2021 soma 34 mil km² de vegetaĂ§Ă£o perdida. Neste ano, segundo os especialistas, uma projeĂ§Ă£o extremamente conservadora indica, pelo menos, mais 12 mil km² de derrubadas, mas os indicativos sĂ£o de que esse volume de 2022 deve ficar prĂ³ximo de 15 mil km².

Esses nĂºmeros estĂ£o fora da curva histĂ³rica. Os dados do Inpe indicam que, nos quatro anos anteriores, de 2015 a 2018, o volume total de desmatamento da AmazĂ´nia chegou a 28.583 km².

A reportagem questionou o MinistĂ©rio do Meio Ambiente (MMA) sobre os dados de desmatamento, mas a pasta declarou que nĂ£o iria comentar porque a questĂ£o deve ser respondida pela pasta da Justiça. Ă“rgĂ£os federais de combate ao desmatamento, como Ibama e o Instituto Chico Mendes (ICMBio), sĂ£o diretamente vinculados ao MinistĂ©rio do Meio Ambiente.

A operaĂ§Ă£o Guardiões do Bioma, que combate ilĂ­citos ambientais, Ă© coordenada pelo MinistĂ©rio da Justiça.

A aĂ§Ă£o – que reĂºne agentes da Força Nacional, do Ibama e do ICMBio – sĂ³ foi lançada em julho de 2021, dois anos e meio depois de Bolsonaro chegar ao PalĂ¡cio do Planalto. TambĂ©m questionado pela reportagem, o MinistĂ©rio da Justiça nĂ£o respondeu.

O consultor jurĂ­dico do Instituto Socioambiental (ISA), Mauricio Guetta, afirma que os dados expõem a forma como a gestĂ£o Bolsonaro sempre encarou a Ă¡rea ambiental.

“Desde o primeiro dia de 2019, o governo incentivou, sistematicamente, a criminalidade ambiental e desmontou todas as polĂ­ticas e instituições pĂºblicas de proteĂ§Ă£o do meio ambiente. O resultado Ă© o descontrole do desmatamento e de outras atividades ilegais, como o garimpo em terras indĂ­genas, alĂ©m do descumprimento das metas climĂ¡ticas”, diz.

Professor de Direito Ambiental, Guetta chama a atenĂ§Ă£o ainda para os danos externos que estes nĂºmeros produzem para a economia e imagem do Brasil. “Os prejuĂ­zos sĂ£o irreparĂ¡veis nĂ£o apenas nas esferas ambiental e social, mas tambĂ©m na econĂ´mica, com perda de investimentos e de credibilidade internacional.”

Para Marcio Astrini, secretĂ¡rio executivo do ObservatĂ³rio do Clima, hĂ¡ possibilidade de a “tragĂ©dia aumentar”, uma vez que Bolsonaro, caso reeleito, nĂ£o tem sinalizado para uma mudança de polĂ­ticas de preservaĂ§Ă£o da floresta. A rede Ă© formada por 68 organizações da sociedade civil brasileira que atuam na agenda socioambiental e do clima.

Carbono na AmazĂ´nia

Estudo realizado por 30 cientistas brasileiros e divulgado na quarta-feira (5) pelo ObservatĂ³rio do Clima mostra que os recordes de desmatamento e queimadas nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro causaram aumento de 89% nas emissões de gĂ¡s carbĂ´nico em 2019 e de 122% em 2020, na comparaĂ§Ă£o com a mĂ©dia anual registrada entre 2010 e 2018.

O estudo, coordenado pela pesquisadora do Inpe Luciana Gatti, aponta que em 2019 o aumento das emissões foi resultado da alta de 79% no desmatamento e de 14% na Ă¡rea queimada na AmazĂ´nia, na comparaĂ§Ă£o com a mĂ©dia dos nove anos que antecederam o atual governo.

No primeiro ano da gestĂ£o Bolsonaro, as multas ambientais aplicadas caĂ­ram 30%. A queda nas multas pagas foi ainda maior, de 74%. Em 2020, quando as emissões de COâ‚‚ mais que dobraram, o desmatamento subiu 74% e a Ă¡rea queimada teve alta de 42%. JĂ¡ as multas aplicadas despencaram 54%, enquanto as pagas despencaram 89%.

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Foto: divulgaĂ§Ă£o