Garantido vai revolucionar, afirma presidente
Em meio à troca de impugnações de jurados entre os bois-bumbás, Góes disse que os bois fazem um trabalho de bastidores na tentativa de influenciar os jurados e que não vê problema nisso.

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 27/06/2025 às 11:20 | Atualizado em: 27/06/2025 às 13:33
Em entrevista à imprensa realizada na tarde deste dia 26 de junho, na Cidade Garantido, o vice-presidente do boi, Marialvo Brandão, afirmou que “o Garantido está assustador de tão grandioso”.
O presidente Fred Góes disse que, neste ano, irão revolucionar o formato de apresentação do festival de Parintins, tal como ocorreu em 1999.
A associação chamou para compor a mesa da entrevista as lideranças que, segundo informaram, foram consultadas para a construção do espetáculo.
“Vamos mostrar os mitos indígenas de forma atualizada. Hoje a fundamentação é feita pelos próprios representantes dos povos indígenas. O boi Garantido os consultou previamente para a realização dos rituais deste ano”, disse Alvatir Carolino, membro da comissão de artes.
Ele citou, por exemplo, o ritual kulina, cujo texto base foi elaborado pela professora Marlene Kulina e validado por seu povo em assembleia.
Isabel Munduruku, membro da comissão de artes e articuladora da participação indígena no Garantido, destacou que a participação dos povos indígenas é necessária para que não haja atropelos nem invenção de narrativas sobre eles.

Tem que participar
Estiveram na mesa Keila Sankofa, do quilombo do bairro Praça 14, em Manaus, o primeiro urbano do Brasil, Jamapoty Tupinambá, liderança de São Paulo de Olivença (BA); João Paulo Barreto, líder espiritual e antropólogo do povo tukano, do alto rio Negro, no Amazonas; e pajé Dato, liderança do povo tupinambá do baixo rio Tapajós, Santarém (PA).
Brandão disse que a agremiação tem como objetivo não apenas cantar a Amazônia, mas participar, politicamente, de suas lutas.
Conforme o boi-bumbá de Parintins, está intrinsecamente ligado à questão indígena e negra em Parintins.
Segundo o presidente, o boi pretende provocar a consciência humana a partir da exaltação da mistura: “precisamos mais do que nunca nos misturar, precisamos proteger a nós mesmos enquanto mistura”.
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A disputa pelo manto
Neste ano, nota-se que os bois Garantido e Caprichoso disputaram também a utilização do manto tupinambá.
O boi Garantido afirmou à imprensa que está desde janeiro deste ano realizando reuniões com o povo tupinambá para a autorização do uso do manto confeccionado em São Paulo de Olivença.
A mediação de Isabelle Nogueira teria sido fundamental para o processo.
Os tupinambás e o Garantido acordaram que o manto poderia ser representado apenas artisticamente, sendo desfeito logo em seguida.
Jamapoty ressaltou que o manto não é uma indumentária qualquer, é um espírito e que não era prudente para eles a reprodução do manto de qualquer forma.
Daco, pajé do povo tupinambá do baixo rio Tapajós, ressaltou que o manto é uma força espiritual de cura, um espírito sagrado que dá a cura e traz força de resistência.
“O manto vive, passou 386 anos na Dinamarca e hoje está no Brasil. O manto é Garantido e viemos garantir essa vitória”, disse Jamapoty.
Jurados em suspeição
Em meio à troca de impugnações de jurados entre os bois-bumbás, Góes disse que os bois fazem um trabalho de bastidores na tentativa de influenciar os jurados e que não vê problema nisso.
O problemático, na opinião do presidente, é a interferência direta sobre eles.
Concordou que já era hora de discutir critérios de escolha que acolham a grandiosidade que o Festival Folclórico de Parintins alcançou.
Disse ainda que, hoje, a rivalidade tomou o Brasil, muitos jurados conhecem ou já vieram ao festival e que é possível que tenham preferência por algum boi.
Contudo, Góes disse que não devem ser colocados em suspeição por conta disso, já que são profissionais com carreira acadêmica, com bons salários e estariam em mais uma função de seu trabalho sendo jurados de Parintins.
Fotos: Dassuem Nogueira/ especial para o BNC Amazonas