PF se cala e Lula evita polêmica sobre escuta ilegal na casa do petista
A afirmação sobre a escuta está na nova biografia de Lula, escrita pelo jornalista Fernando Morais

Publicado em: 18/11/2021 às 10:51 | Atualizado em: 18/11/2021 às 10:51
Tanto a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto a Polícia Federal (PF), que estavam em campos opostos durante o auge da Operação Lava Jato, evitam se posicionar a respeito do relato de que houve a instalação de uma escuta ilegal na casa do petista em 2016.
A afirmação sobre a escuta está na nova biografia de Lula, escrita pelo jornalista Fernando Morais, mas nunca foi questionada às autoridades pelos advogados do ex-presidente —o que é incomum diante de diversas e reiteradas manifestações feitas à Justiça pela defesa nos últimos anos.
Segundo Morais, em março de 2016, ao realizar buscas no apartamento de Lula em São Bernardo do Campo, a Polícia Federal instalou embaixo do sofá da sala, grudado com velcro, um discreto microfone para escutas clandestinas.
O dispositivo, diz o biógrafo do ex-presidente, foi encontrado numa varredura realizada poucas horas após a saída dos agentes e desativado antes mesmo de começar a operar.
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A assessoria de imprensa do ex-presidente Lula confirma o que está no livro.
A defesa de Lula, no entanto, prefere não comentar o relato do texto. Fernando Morais tem dito que os advogados nunca questionaram as autoridades sobre o grampo porque não tinham provas para vinculá-lo à ação policial, o que os advogados não confirmam.
“Na condição de advogados do ex-presidente Lula, traçamos uma estratégia jurídica que contemplou o apontamento de inúmeras ilegalidades e que se mostrou correta e vitoriosa, razão pela qual não faremos neste momento qualquer comentário fragmentado de desvios ou abusos praticados ao longo da autointitulada operação ‘lava jato'”, disse, em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins.
À época das buscas, quando houve também a condução coercitiva do ex-presidente, a defesa divulgou nota destacando outros pontos.
Dizia que “houve, inegavelmente, grave atentado à liberdade de locomoção” de Lula. Afirmava que a tentativa de vinculá-lo ao esquema de corrupção na Petrobras “apenas atende anseio pessoal das autoridades envolvidas na operação, além de configurar infração de dever funcional”.
O PT, partido do ex-presidente, também não repercutiu o assunto no período. De acordo com a assessoria de Lula, o partido não sabia da escuta à época dos fatos.
A Polícia Federal, também procurada pela reportagem, não quis se manifestar sobre o conteúdo do livro.
Além disso, a entidade não quis falar de outro assunto publicado na biografia: o suposto uso de câmeras secretas para monitorar o que acontecia dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em 2018, antes de Lula se entregar.
Morais diz que a polícia havia infiltrado no sindicato “não um nem dois, mas vários agentes” e que eles captaram com pequenas câmeras tudo o que ocorria no local, acompanhadas em tempo real pela superintendência da corporação em São Paulo.
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Foto: reprodução/redes Sociais