“NĂ£o soube me conter diante de tanto poder”, diz Cabral

Publicado em: 09/06/2018 Ă s 06:42 | Atualizado em: 11/06/2018 Ă s 12:48

“NĂ£o soube me conter diante de tanto poder e tanta força polĂ­tica”. A declaraĂ§Ă£o Ă© do ex-governador do Rio de Janeiro, SĂ©rgio Cabral, em  depoimento Ă  7ª Vara Federal do Rio de Janeiro nesta sexta-feira, dia 8.

No  depoimento, que ocorreu trĂªs dias apĂ³s conhecer o neto no mesmo local, o ex-governador demonstrou alta carga emocional.

O ex-governador disse ter se perdido diante de tanto poder e lamentou os excessos. Cabral negou, porĂ©m, ter solicitado propina a empreiteiras ou a outras empresas. “Nunca pedi sobrepreço em obra. Nunca pedi a um empresĂ¡rio que incluĂ­sse um percentual qualquer em nenhuma obra ou serviço do meu governo”.

O depoimento ocorreu dentro de uma das ações movidas pelo MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) a partir das investigações da OperaĂ§Ă£o EficiĂªncia, que por sua vez Ă© um dos desdobramentos da OperaĂ§Ă£o Lava Jato no Rio de Janeiro. Neste processo, investigam-se a ocultaĂ§Ă£o e lavagem de dinheiro de recursos recebidos supostamente como propina no perĂ­odo em que Cabral foi governador.

TambĂ©m figuram como rĂ©us Wilson Carlos, SĂ©rgio de Castro Oliveira e Carlos Miranda, apontados como operadores de esquemas de corrupĂ§Ă£o, e os irmĂ£os Marcelo Chebar e Renato Chebar, doleiros que teriam dissimulado o dinheiro obtido de forma ilegal.

 

R$ 20 milhões para fins pessoais

O ex-governador do Rio de Janeiro, SĂ©rgio Cabral, admitiu, no depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas que, entre 2007 e 2016, usou cerca de R$20 milhões de verba de campanhas eleitorais para fins pessoais. ApĂ³s a confissĂ£o, ele foi questionado pelo magistrado se teria interesse de se desfazer de bens pessoais para ressarcir danos e reparar erros e Cabral respondeu afirmativamente.

O assunto foi retomado ao fim da audiĂªncia com o advogado de defesa Rodrigo Rocca que buscou esclarecimentos. Bretas disse que, caso o ressarcimento ocorra, o montante serĂ¡ destinado aos cofres do estado ou da UniĂ£o.

Assim como em outras ocasiões, Cabral admitiu envolvimento em esquemas de caixa 2 e acrescentou que a movimentaĂ§Ă£o de recursos de doações eleitorais teria sido da ordem de R$500 milhões ao longo de aproximadamente 15 anos.

“O modelo [de financiamento de campanha] era esse. Eu nĂ£o inventei. Ele existia antes de mim. (…) Eu pedia dinheiro de campanha e era muito dinheiro sim. Porque eu nĂ£o era responsĂ¡vel sĂ³ pela minha campanha. E, de uma maneira vaidosa, quis eleger prefeitos, vereadores”, disse. Ele, no entanto, nĂ£o quis nomear demais polĂ­ticos beneficiados com os recursos arrecadados.

Propina

Parte da denĂºncia se baseia nas declarações de Carlos Miranda, que fechou acordo de delaĂ§Ă£o premiada e alega ter movimentado recursos de propina. Cabral afirma ser mentira. Segundo ele, Carlos Miranda era um administrador pessoal que tambĂ©m participava das campanhas, mas nĂ£o do governo. Por essa razĂ£o, nĂ£o teria conhecimento da origem dos recursos que movimentava e nem teria condições de dizer que era propina.

Questionado pelo juiz Marcelo Bretas se as reformas em imĂ³veis seus e da ex-mulher nĂ£o seriam verba de propina, Cabral disse terem sido realizadas com sobras de campanha. Ele isentou Wilson Carlos e SĂ©rgio de Castro de participaĂ§Ă£o em atos ilĂ­citos e disse que eles nĂ£o foram beneficiados pelos recursos.

Reagendado

Inicialmente, o interrogatĂ³rio havia sido marcado para 27 de fevereiro, quando Cabral estava preso em Curitiba. Na ocasiĂ£o, a audiĂªncia ocorreu por videoconferĂªncia e o ex-governador optou por se manter em silĂªncio. Com a autorizaĂ§Ă£o da volta ao Rio de Janeiro, os advogados pediram que ele fosse reinterrogado.

Cabral Ă© rĂ©u em mais de 20 processos que se desdobraram da OperaĂ§Ă£o Lava Jato. Em cinco, ele foi condenado em primeira instĂ¢ncia a penas que somam 100 anos de prisĂ£o. No mĂªs passado, uma dessas condenações, de 14 anos e 2 meses, foi mantida em segunda instĂ¢ncia.

O ex-governador estĂ¡ cumprindo pena no Complexo PenitenciĂ¡rio de GericinĂ³, em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ontem (7), o MPF apresentou  mais uma denĂºncia contra Cabral.

Fonte: Folha de SP e  AgĂªncia Brasil

 

Foto: ReproduĂ§Ă£o/Vagner RosĂ¡rio/VEJA.com)