Mulher leva marido morto hĂ¡ 12 horas para ‘prova de vida’ no banco
A ida ao banco era porque ela precisava de uma nova senha de letras para acessar a conta bancĂ¡ria do marido, com quem ela alegou estar casada havia 10 anos, pois tinha esquecido a anterior

Publicado em: 15/10/2020 Ă s 16:41 | Atualizado em: 15/10/2020 Ă s 16:42
Um laudo do Instituto Médico Legal apontou que um homem levado em cadeira de rodas para uma prova de vida, em um banco, estava morto havia pelo menos 12 horas.
O caso aconteceu em Campinas (SP) no dia 2 de outubro, mas o resultado do exame sĂ³ foi divulgado nesta quinta-feira (15).
A mulher que levou a vĂtima deve prestar novo depoimento e pode ser indiciada por fraude.
A mulher, identificada como J. S. M., de 58 anos, buscou atendimento na agĂªncia do Banco do Brasil que fica no centro da cidade, acompanhada do marido e de um casal.
O marido, LaĂ©rcio Della Colleta, de 92, escrivĂ£o da polĂcia reformado, estava sentado na cadeira de rodas, imĂ³vel.
Enquanto o casal ficou com LaĂ©rcio na Ă¡rea de atendimento, a mulher subiu ao primeiro andar da agĂªncia e disse para uma funcionĂ¡ria que o marido passava mal.
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A ida ao banco era porque ela precisava de uma nova senha de letras para acessar a conta bancĂ¡ria do marido, com quem ela alegou estar casada havia 10 anos, pois tinha esquecido a anterior.
Como precisava fazer a comprovaĂ§Ă£o de que ele estava vivo, jĂ¡ que nĂ£o tinha procuraĂ§Ă£o, levou o homem ao local.
Atendente desconfiou
Foi quando um dos atendentes, que tinha ido buscar a senha, estranhou a situaĂ§Ă£o.
Quando se aproximou, notou que LaĂ©rcio estava morto. O funcionĂ¡rio do banco pediu a ajuda de um bombeiro civil da prĂ³pria agĂªncia, que tambĂ©m constatou o Ă³bito.
Um mĂ©dico do Grupo de Resgate e Atendimento a UrgĂªncias (Grau), do Corpo de Bombeiros, tambĂ©m foi chamado para verificar a situaĂ§Ă£o.
Por causa do estado do corpo e do inchaço, ele levantou a suspeita de que o aposentado estaria, na verdade, morto hĂ¡ bastante tempo.
Contradições
A Guarda Municipal foi acionada. Aos guardas, J. disse que tinha conversado com o marido na manhĂ£ do mesmo dia, quando combinaram a ida ao banco.
A mulher tambĂ©m relatou que LaĂ©rcio “tinha saĂºde perfeita”, mas que, desde setembro, passou a ficar mais debilitado.
Na delegacia, a mulher entrou em contradiĂ§Ă£o. Contou ao delegado CĂcero SimĂ£o da Costa, do 1º Distrito Policial de Campinas, que conversou com o marido no dia anterior, quando teria ido comprar uma cadeira de rodas.
“É um caso absolutamente incomum. Agora que temos o resultado vamos ouvi-la novamente para tentar entender o que aconteceu”, disse.
O corpo de LaĂ©rcio foi levado ao Hospital MĂ¡rio Gatti e enterrado no CemitĂ©rio Flamboyant no dia 3.
A Aepesp (AssociaĂ§Ă£o dos EscrivĂ£es de PolĂcia do Estado de SĂ£o Paulo) informou que o homem era associado e que foi nomeado escrivĂ£o no dia 15 de janeiro de 1940, porĂ©m nĂ£o foi comunicado quando se aposentou.
PossĂvel fraude bancĂ¡ria ou contra a previdĂªncia
O UOL tentou falar com J., mas nĂ£o a localizou.
A reportagem apurou que LaĂ©rcio era viĂºvo, mas as fontes ouvidas nĂ£o souberam informar se ele havia se casado com J..
O casal que acompanhou J. atĂ© o banco seria morador do prĂ©dio onde a mulher reside, e teriam ido ajudĂ¡-la, jĂ¡ que o homem estava em uma cadeira de rodas.
J. pode responder por estelionato e vilipĂªndio de cadĂ¡ver (expor um morto), que tem pena prevista de atĂ© trĂªs anos de detenĂ§Ă£o.
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