Michelle tinha contas pagas por contratada de Bolsonaro, diz PF
Entenda como militares da Ajudância de Ordens da Presidência da República estão envolvidos nessa trama.

Publicado em: 13/05/2023 às 13:19 | Atualizado em: 13/05/2023 às 13:25
Uma empresa com contratos públicos na gestão de Jair Bolsonaro é apontada como a origem de transferências feitas a um militar da Ajudância de Ordens da Presidência da República. Segundo a Polícia Federal (PF), o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis recebeu dinheiro e utilizou parte dele para pagar despesas do cartão de crédito usado por Michelle Bolsonaro. Além disso, o militar fez depósitos em dinheiro na conta de uma tia da ex-primeira-dama. A informação é dos jornalistas Aguirre Talento, Amanda Rossi e Pedro Canário, publicada no portal UOL.
Contratos com a Codevasf
A empresa Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção, sediada em Goiânia e com contratos com o governo federal, é apontada como a origem dos depósitos feitos na conta do sargento Dos Reis. A Cedro do Líbano possui um contrato principal com a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba), estatal que já foi alvo de investigações de corrupção no Nordeste no ano passado.
Transações suspeitas
Segundo a Polícia Federal, Vanderlei Cardoso de Barros, pai de uma sócia da Cedro do Líbano, realizou depósitos na conta do sargento Dos Reis. Em pelo menos uma ocasião, o dinheiro foi transferido da própria conta da empresa Cedro do Líbano. Após receber os valores, o sargento sacava o dinheiro em um caixa eletrônico e era responsável por fazer pagamentos para pessoas ligadas à então primeira-dama e outros militares da Ajudância de Ordens da Presidência da República.
Pagamentos na conta de amiga de Michelle
A Polícia Federal identificou que o sargento Dos Reis fez três depósitos na conta de Rosimary Cardoso Cordeiro, uma amiga de Michelle Bolsonaro. Rosimary emitia um cartão de crédito usado pela primeira-dama, e os depósitos feitos por integrantes da Ajudância de Ordens da Presidência da República eram utilizados para pagar a fatura desse cartão. Essa situação já havia sido revelada anteriormente em uma reportagem do portal Metrópoles.
Pagamentos mensais para a tia da primeira-dama
Além dos depósitos feitos na conta de Rosimary, o sargento Dos Reis também realizou 12 depósitos para Maria Helena Graces de Moraes Braga, tia de Michelle Bolsonaro. Outros militares da Ajudância de Ordens da Presidência, incluindo o segundo-sargento Murilo José Geromini Zilotti, também participaram dos pagamentos. A Polícia Federal concluiu que Zilotti foi o responsável pelas transações.
Defesa de Bolsonaro e Michelle alega proteção à privacidade
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro rejeitou as conclusões de que recursos de um fornecedor da Codevasf tenham sido utilizados para pagar os gastos pessoais de Michelle.
Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação e advogado, afirmou que Michelle não conhece o militar responsável pelos pagamentos e negou qualquer relação entre eles.
Ele explicou que o ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, usava o cartão da conta privada do presidente para fazer pagamentos de contas pequenas, fornecedores informais e despesas pessoais, a fim de preservar a privacidade da família Bolsonaro. Segundo a defesa, não houve confusão entre contas, e os valores saíam exclusivamente da conta do presidente.
Wajngarten também destacou que não há ilegalidade nas transações em dinheiro vivo, argumentando que pagamentos a fornecedores informais e prestadores de serviços menores eram feitos dessa forma para proteger a identidade do presidente. Segundo ele, muitos desses fornecedores nem sabiam que estavam prestando serviços para a primeira-dama.
Vanderlei Cardoso de Barros, responsável pelas transferências para o militar sargento Luis Marcos dos Reis, inicialmente afirmou não se recordar das transações, mas depois afirmou que o sargento era seu amigo e havia pedido dinheiro emprestado.
egundo Vanderlei, as transferências eram, na verdade, um empréstimo, e ele não tinha conhecimento sobre o destino dos recursos. Ele também esclareceu que a empresa Cedro do Líbano, mencionada nas investigações, pertence à sua esposa e está devidamente registrada como vendedora de máquinas agrícolas.
O segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, destinatário das transferências da Cedro do Líbano, não foi localizado para comentar o assunto.
O advogado de Mauro Cid, Bernardo Fenelon, informou que a defesa se manifestará apenas nos autos do processo em respeito ao Supremo Tribunal Federal.
A assessoria de Michelle Bolsonaro não respondeu aos contatos feitos pelo UOL até o momento, assim como as assessoras Giselle dos Santos Carneiro da Silva e Cintia Borba Nogueira Cortes, citadas na decisão do ministro Alexandre de Moraes.
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil