Médicos projetam média de 3 mil mortes/dia na segunda quinzena de julho
Infectologistas e epidemiologistas apontam um cenário ruim no segundo semestre se o ritmo da vacinação continuar lento

Publicado em: 19/06/2021 às 15:45 | Atualizado em: 19/06/2021 às 15:45
Trágico, horrendo, pavoroso, nefasto ou ultrajante. Nenhuma dessas palavras basta para definir o impacto das 500 mil mortes causadas pela covid-19 no Brasil. Se faltam palavras, sobram perguntas, e uma das principais dúvidas que nos afligem é: o que ainda nos aguarda pela frente?
Em busca de respostas, o G1 ouviu 106 médicos de duas especialidades fundamentais na pandemia entre os dias 8 e 14.
O objetivo era responder quatro questões que apontam perspectivas para o 2° semestre no Brasil.
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Os entrevistados são infectologistas (médicos especializados em doenças infecciosas e parasitárias) e epidemiologistas (especializados no controle de doenças em grupos populacionais) que apontam, em sua maioria, que:
entre 50 e 70% da população receberá ao menos uma dose da vacina até o fim do ano;
não acreditam que adolescentes começarão a ser vacinados ainda em 2021;
acreditam que não devemos deixar de usar máscaras ainda neste ano;
acreditam que teremos outro período com mais de 2 mil mortes na média móvel diária.
Veja abaixo os detalhes de cada uma das perguntas que levaram ao apontamento destas perspectivas e, ao fim da reportagem, a metodologia e o nome dos médicos participantes.
1 – Qual percentual da população terá recebido a primeira dose até o fim do ano?
Entre 50 e 70% – “Outros países do mundo estão verificando essa dificuldade. A cobertura vacinal, talvez até o final do ano, não será de 100% da população. Talvez consigamos 70%, 75%, 80% no máximo da população de 18 anos com uma dose. E talvez uns 60% da população com duas doses. Isso atrapalha, mas é ao mesmo tempo um grande desafio. Vai possibilitar talvez oferecermos a vacina para toda população elegível acima de 18 anos porque, infelizmente, as coberturas vacinais não serão as ideais” – Renato Kfouri, infectologista, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Apesar de a aplicação da 1ª dose ser um termômetro da disponibilidade de doses e do ritmo da vacinação no Brasil, os especialistas são unânimes em alertar que a imunidade contra a covid só será conquistada com o regime completo com as duas doses.
2 – O Brasil vai começar a vacinar adolescentes acima de 12 anos ainda em 2021?
NÃO – “Por que não terá vacina suficiente para vacinar este grupo e possivelmente não terá finalizado a vacinação da população acima de 18 anos. Esse não é o grupo com maior risco de adoecimento e morte. Vacinar antes dos pais não será efetivo” – Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde
3 – Será possível mudar os atuais protocolos (máscara, distanciamento e ventilação) com qual cobertura vacinal?
Entre 70% e 90% – “De acordo com o estudo feito em Serrana, foi necessário vacinar em torno de 70% da população da cidade para reduzir número de mortes e manifestações graves da doença.Considerando que temos outras vacinas no PNI com eficácia global mais alta, talvez a porcentagem de vacinados para relaxamento destas medidas seja menor.” – Pedro Rodrigues Curi Hallal, epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
4 – Entre março e maio de 2020, a média diária de mortes ficou acima de 2 mil. Teremos novo período com média acima desse número?
SIM – “Teremos um cenário de aumento de casos projetados, principalmente a partir da 2ª metade de julho/21 com o consequente aumento de óbitos em agosto; diversas instituições que projetam cenários e modelos epidemiológicos (como o Institute for Health Metrics and Evaluation – IHME), inferem que poderá haver até 3mil/óbitos/dia nesse período.” – Alfredo Scaff, epidemiologista da Fundação do Câncer.
Metodologia do levantamento
A consulta aos 106 especialistas foi realizada pela equipe do G1 entre terça-feira (8) e segunda-feira (14) por meio de um formulário on-line. Os especialistas foram acionados com a ressalva de que cada resposta individual seria anônima. Aquelas que foram citadas abertamente nesta reportagem foram autorizadas pelos autores.
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Foto: Márcio James/Semcom