Folha associa miséria à Zona Franca de Manaus e a chama de obsoleta

Publicado em: 13/09/2018 Ă s 07:04 | Atualizado em: 13/09/2018 Ă s 11:23
Por Neuton CorrĂªa, da redaĂ§Ă£o
Em nova estratĂ©gia de ataque Ă Zona Franca de Manaus (ZFM), o jornal Folha de SĂ£o Paulo voltou a atacar o modelo o desenvolvimento regional nesta quinta-feira, dia 13.
Dessa vez, o impresso paulista associa a ZFM Ă misĂ©ria, Ă invasĂ£o de terras na capital, chama o modelo fiscal que atrai investimentos para o Amazonas de obsoleto e volta a atacar a renĂºncia fiscal do governo federal que mantĂ©m o Polo Industrial de Manaus.
Na reportagem de pĂ¡gina inteira, o jornal mostra que mudou sua estratĂ©gia de ataque ao Amazonas.
Antes, abria espaço para formadores de opiniĂ£o criticarem o modelo e fazia reportagens a distĂ¢ncia.
Agora, enviou uma equipe de jornalistas que saiu em busca de problemas na cidade como invasĂ£o de terra, violĂªncia, deteriorizaĂ§Ă£o das ruas do distrito industrial e linka as renĂºncias com a perda da geraĂ§Ă£o de emprego.
Com isso, a Folha tenta mostrar que a ZFM estĂ¡ indo contra a lĂ³gica dos objetivos dos incentivos fiscais, que Ă© a geraĂ§Ă£o de emprego.
“Resultado do crescimento desordenado, Manaus tem o terceiro pior serviço de esgoto entre as capitais, com apenas 10,2% de cobertura em 2016. Na contramĂ£o do paĂs, Ă© um problema que cresce: em 2012, o percentual era de 27,5%, segundo o Instituto Trata Brasil”, diz um trecho da reportagem.
Os executivos da Honda aproveitaram a vinda da Folha de S. Paulo para se queixar, conforme mostra outro trecho da matéria:
“Ao mesmo tempo em que ganhamos benefĂcios fiscais para ficar aqui, nĂ£o tivemos a melhoria esperada em infraestrutura de logĂstica”, disse ao impresso paulista Paulo Takeuchi, diretor de relações institucionais da Honda.
“O executivo afirma que a estrutura do porto Ă© a mesma de 42 anos atrĂ¡s, quando a empresa se instalou na ZFM. Esse e outros entraves, como a falta de pavimentaĂ§Ă£o da BR-319 (que liga Manaus a Porto Velho), fazem com que o tempo de viagem por barco para o Sudeste continue o mesmo, 15 dias, explica Takeuchi”.
A Folha fala também do Centro de Biotecnologia da Amazonas, que até hoje nunca funcionou plenamente.
Suframa, como sempre, se cala e se curva
E o mais incrĂvel no registro da reportagem Ă© que o titular da SuperintendĂªncia da Zona Franca de Manaus (Suframa), Appio Tolentino, nĂ£o atendeu Ă reportagem e ainda fez o jornal lembrar de seu padrinho polĂtico, que estĂ¡ em campanha polĂtica:
“A reportagem procurou o superintendente da Suframa, Appio Tolentino, mas o pedido de entrevista nĂ£o foi atendido. No cargo hĂ¡ 15 meses, Tolentino Ă© indicado polĂtico do senador Omar Aziz (PSD-AM), candidato a governador”.
Leia a reportagem, na Ăntegra
Obsoleta, Zona Franca de Manaus consome R$ 24 bi em renĂºncia fiscal  Polo tem infraestrutura aos pedaços e centro de pesquisas subutilizado
Fabiano Maisonnave Lalo de Almeida
Francineide de Souza,37, foi demitida em 2013 da fĂ¡brica de videogames na Zona Franca de Manaus onde trabalhava havia oito anos. Sem emprego fixo desde entĂ£o, participou, em agosto deste ano, da invasĂ£o de um terreno do Distrito Industrial 2, inicialmente destinado a uma empresa. Suaesperança agora, como muitos ali, Ă© conseguir um lote e fugir do aluguel. Criado no regime militar, o polo industrial amazĂ´nico vĂª os empregos minguarem e a infraestrutura se deteriorar ou nem sequer sair do campo das promessas, processo acelerado pela crise dos Ăºltimos seis anos.
‘As pessoas ganhavam muito dinheiro, mas sabemos que o distrito industrial caiu”, diz Souza, que recentemente se formou em serviço social, vende roupas e cosmĂ©ticos para sustentar os trĂªs filhos. “Na minha famĂlia, estĂ¡ todo mundo desempregado.”
A crise econĂ´mica atingiu em cheio as fĂ¡bricas da ZFM, que fecharam cerca de 43 mil postos de trabalho desde 2012 –ou 1 de cada 3 existentes.
No segundo trimestre do ano, a taxa de desocupaĂ§Ă£o na capital amazonense chegou a 17,2%, acima da mĂ©dia nacional de 12,4%. Os dados sĂ£o do IBGE.
A recessĂ£o acelerou a ocupaĂ§Ă£o desordenada de Manaus, que, com a implantaĂ§Ă£o da ZFM, hĂ¡ 51 anos, viu os 311 mil habitantes que tinha em 1970 superarem os 2 milhões.
Vindos sobretudo do interior da AmazĂ´nia, os primeiros trabalhadores nĂ£o tinham onde morar e acabavam tomando terrenos prĂ³ximos das fĂ¡bricas. Algumas invasões ganharam nome de empresas da ZFM, como Sharp, e outras, de polĂticos locais, uma estratĂ©gia para ganhar respaldo contra ações de despejo.
“Ficam sem saneamento, sem escola. Fica um povo abandonado pelo poder pĂºblico”, afirma o ex-operĂ¡rio Luis Odilo Reis, presidente do Iaci (Instituto AmazĂ´nico da Cidadania), que denuncia casos de corrupĂ§Ă£o envolvendo a administraĂ§Ă£o pĂºblica.
Localizado na zona leste, o Distrito Industrial 2 segue esse tipo de ocupaĂ§Ă£o. A regiĂ£o, uma das mais pobres e violentas da capital amazonense, tem centenas de barracos construĂdos em Ă¡reas invadidas, muitas delas da Suframa (SuperintendĂªncia da Zona Franca de Manaus), erguidos ao lado de galpões fechados.
A invasĂ£o onde estĂ¡ Souza, JoĂ£o Paulo 2º Quarta Etapa, começou no inĂcio de agosto. Em dias, o terreno foi todo recortado em lotes – parte deles, Ă custa de um fragmento de floresta que resistia ali.
A assessoria da Suframa nĂ£o informou o total de Ă¡reas invadidas existente em Manaus.
Resultado do crescimento desordenado, Manaus tem o terceiro pior serviço de esgoto entre as capitais, com apenas 10,2% de cobertura em 2016. Na contramĂ£o do paĂs, Ă© um problema que cresce: em 2012, o percentual era de 27,5%, segundo o Instituto Trata Brasil.
Os gargalos de infraestrutura nĂ£o poupam nem as avenidas que circundam a Honda, a maior fĂ¡brica da ZFM, com 5.500 funcionĂ¡rios diretos (no auge, em 2011, eram 12 mil).
Por causa de uma controvĂ©rsia entre a Suframa e a Prefeitura sobre a responsabilidade da manutenĂ§Ă£o, as vias apresentam buracos e rachaduras. Com os diversos galpões vazios, compõem uma imagem de abandono e decadĂªncia.
“Ao mesmo tempo em que ganhamos benefĂcios fiscais para ficar aqui, nĂ£o tivemos a melhoria esperada em infraestrutura de logĂstica”, diz Paulo Takeuchi, diretor de relações institucionais da Honda.
O executivo afirma que a estrutura do porto Ă© a mesma de 42 anos atrĂ¡s, quando a empresa se instalou na ZFM. Esse e outros entraves, como a falta de pavimentaĂ§Ă£o da BR-319 (que liga Manaus a Porto Velho), fazem com que o tempo de viagem por barco para o Sudeste continue o mesmo, 15 dias, explica Takeuchi.
“Temos uma planta que investe para se modernizar e se tornar mais produtiva, mas nĂ£o temos a compensaĂ§Ă£o de toda a infraestrutura ainda. O futuro da regiĂ£o se tornarĂ¡ crĂtico se nĂ³s tivermos essa constante reduĂ§Ă£o do benefĂcio sem a contrapartida das melhorias de infraestrutura.”
Outra tarefa incompleta da ZFM, que neste ano terĂ¡ R$ 24 bilhões em isenĂ§Ă£o fiscal, Ă© o Centro de Biotecnologia da AmazĂ´nia (CBA), aberto em 2002 e mantido pela Suframa.
Dezesseis anos depois, o prĂ©dio de 12 mil m? Ă© subutilizado, com Ă¡reas como alojamento para pesquisadores e incubadoras desativadas.
O CBA conta apenas com pesquisadores-bolsistas, cujos contratos precisam ser renovados anualmente. SĂ£o 45 hoje, mas a instituiĂ§Ă£o jĂ¡ chegou a contar com cerca de 120.
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Foto/arte: BNC Amazonas