FlĂ¡vio Bolsonaro vota contra, mas Lei Paulo Gustavo ganha de lavada
Foram 68 votos a favor e cinco contra, entre eles, o do senador FlĂ¡vio Bolsonaro (Patriota-RJ). O texto segue para anĂ¡lise da CĂ¢mara dos Deputados

Publicado em: 25/11/2021 Ă s 16:55 | Atualizado em: 25/11/2021 Ă s 16:56
O Senado aprovou, nesta quarta-feira (24), o projeto de lei complementar (PLP 73/21), conhecido como Lei Paulo Gustavo, que prevĂª o repasse de R$ 3,8 bilhões para o setor cultural, a fim de amenizar o impacto negativo econĂ´mico e social dos trabalhadores e negĂ³cios da Ă¡rea.
Foram 68 votos a favor e cinco contra, entre eles, o do senador FlĂ¡vio Bolsonaro (Patriota-RJ). O texto segue para anĂ¡lise da CĂ¢mara dos Deputados.
Criada conjuntamente por mais de oito senadores, a proposta tem o objetivo de visibilizar e proteger o setor que foi atingido severamente pelas medidas – necessĂ¡rias – de isolamento social durante a pandemia, Ă© o que diz o relator, Eduardo Gomes (MDB-TO).
“Os autores da matĂ©ria ressaltam que o setor cultural foi o primeiro a parar em decorrĂªncia da atual pandemia e, possivelmente, serĂ¡ o Ăºltimo a voltar a operar”, disse ao defender o substitutivo apresentado por ele.
“DaĂ a necessidade de continuar a ajuda, iniciada em 2020 pela lei Aldir Blanc, aos artistas, aos criadores de conteĂºdo e Ă s empresas que, juntos, compõem uma cadeia econĂ´mica equivalente a 2,67% do Produto Interno Bruto e que sĂ£o responsĂ¡veis por cerca de 5,8% do total de ocupados no paĂs, cerca de 6 milhões de pessoas”, pontuou Eduardo.
O filho do presidente da repĂºblica, FlĂ¡vio Bolsonaro, e o lĂder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE) votaram contra a proposta. FlĂ¡vio chegou a dizer que o projeto “esvazia a Secretaria Especial de Cultura, que tem feito um grande trabalho com o secretĂ¡rio Mario Fria”, sem prover recursos “Ă queles que sempre foram atendidos pelos governos passados, sem nenhum critĂ©rio, apenas na base do compadrio”. JĂ¡ Fernando, disse que vĂª “dificuldade para execuĂ§Ă£o” da lei.
O PLP, aprovado na forma do substitutivo do relator, determina que o valor serĂ¡ deslocado do Fundo Nacional de Cultura aos estados, municĂpios e ao Distrito Federal. Caso seja aprovado pela CĂ¢mara dos Deputados, a PresidĂªncia da RepĂºblica deverĂ¡ editar uma medida provisĂ³ria que viabilize o repasse.
Entre as principais mudanças feitas por Eduardo, estĂ¡ a retirada de artigos que alteravam a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei Rouanet que proibiam e limitavam o empenho dos recursos do Fundo Nacional de Cultura. De acordo com o relator, os dispositivos fugiam ao objeto principal da matĂ©ria, que Ă© a concessĂ£o de ajuda emergencial.
Um dos criadores da matĂ©ria, o senador Paulo Rocha (PT-PA) ressaltou que o setor Ă© de relevĂ¢ncia “crucial para o paĂs” e que sem ela, a naĂ§Ă£o “desconhece seu passado, que ignora seu presente e compromete seu futuro”.
“Esta lei, que nĂ³s batizamos de Paulo Gustavo, discute a questĂ£o do Fundo Nacional de Cultura, que Ă© uma conquista do setor, que jĂ¡ Ă© um fundo do setor, que Ă© apenas gerido pelo governo. Portanto, a nossa lei Ă© uma lei simples”, afirma.
“A Lei Paulo Gustavo financia o coletivo da cultura, os setores da cultura, e tambĂ©m tem um impacto local, na economia dos municĂpios e dos estados (…). Ela tambĂ©m valoriza a riqueza do nosso paĂs Ă medida que tem impacto fundamental na economia. NĂ£o Ă© Ă toa que setores empresariais investem muito em cultura, porque hĂ¡ essa questĂ£o do impacto na nossa economia”, declara Paulo.
O senador Omar Aziz (PSD-AM) fez questĂ£o de ressaltar, no voto, que o projeto acertou em nomear a lei com o nome de Paulo Gustavo e lembrou da ajuda do artista Ă Manaus, durante a crise sanitĂ¡ria no primeiro trimestre do ano.
“Projeto de lei que leva o nome de uma pessoa por quem nĂ³s, do Amazonas, temos um respeito e a quem somos muito gratos, que Ă© o ator Paulo Gustavo, falecido, que, na Ă©poca em que faltou oxigĂªnio, foi uma das primeiras pessoas a auxiliar o Amazonas”, pontuou.
Paulo Gustavo, sĂmbolo da comĂ©dia nacional atual, morreu de covid-19 em maio de 2021, apĂ³s quase dois meses internado. AlĂ©m de ator, ele era diretor, humorista, roteirista e apresentador. O artista de 42 anos deixou dois filhos pequenos, Gael e Romeu, e o marido, Thales Bretas.Â
DivisĂ£o para setores da cultura
O texto determina que, dos R$ 3,862 bilhões que serĂ£o repassados, R$ 2,797 bilhões devem ser direcionados exclusivamente a ações voltadas ao setor audiovisual, salas de cinema, mostras, festivais e ações de capacitações.
A prioridade Ă© justificada pelos senadores pela fonte dos recursos. O Fundo Setorial do Audiovisual, uma categoria do Fundo Nacional de Cultura, serĂ¡ o principal financiador desse repasse. Originalmente, o texto dividia os recursos por entes federativos, mas o relator decidiu fazer a mudança.
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JĂ¡ R$ 1,065 bilhĂ£o, valor restante, deverĂ¡ ser destinado a ações emergenciais atendidas pelo Fundo em outras Ă¡reas do setor. SĂ£o exemplos de aĂ§Ă£o editais, chamadas pĂºblicas e outras formas de seleĂ§Ă£o para apoio a projetos e iniciativas culturais, assim como para manutenĂ§Ă£o de espaços culturais. Neste caso, metade do valor irĂ¡ para estados e o DF, e a outra para municĂpios e o DF. A destinaĂ§Ă£o dos recursos deverĂ¡ ser feita atĂ© o fim de 2022.
PrestaĂ§Ă£o de contas
O uso dos valores deverĂ¡ ser rigorosamente descrito para prestar contas. As informações poderĂ£o ser fornecidas de trĂªs maneiras: in loco (quando o apoio recebido tiver valor inferior a R$ 200 mil); em relatĂ³rio de execuĂ§Ă£o do objeto; ou em relatĂ³rio de execuĂ§Ă£o financeira. Cada modalidade tem caracterĂsticas e destinatĂ¡rios diferentes e sĂ£o descritas no texto.
Caso as contas sejam reprovadas, a devoluĂ§Ă£o dos recursos Ă© exigida; ou um plano de ações compensatĂ³rias deve ser apresentado.
AlĂ©m disso, Ă© proibido aos entes federativos destinar os recursos da Lei Paulo Gustavo para os beneficiĂ¡rios da Lei Aldir Blanc.
Contrapartidas
Projetos ou instituições beneficiadas pelos recursos deverĂ£o se comprometer a realizar ações de contrapartida social.
No caso do setor audiovisual, as atividades deverĂ£o ser acordadas com o gestor cultural de cada ente federativo, no entanto, sĂ£o obrigatĂ³rias exibições gratuitas dos conteĂºdos com a seguridade da acessibilidade a todos os grupos necessĂ¡rios; alĂ©m de envolvimento com a rede de ensino local.
Para os outros setores de cultura, as contrapartidas sĂ£o direcionadas prioritariamente a alunos e professores de escolas pĂºblicas e universidades pĂºblicas ou privadas, caso tenham estudantes do Prouni.
Profissionais de saĂºde envolvidos no combate Ă pandemia tambĂ©m devem receber alguma contrapartida, como exibições via internet ou exibições pĂºblicas com gratuidade nos ingressos.
AlĂ©m disso, outros grupos prioritĂ¡rios devem ter a participaĂ§Ă£o estimulada nas ações do setor cultural, como mulheres, indĂgenas, pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiĂªncia e negros.
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