Espaços de trabalho continuam mudando com a pandemia
A tendência é existir cada vez mais lugares voltados a promover o encontro de pessoas e não servir apenas como estação de trabalho

Publicado em: 03/01/2021 às 11:49 | Atualizado em: 03/01/2021 às 21:42
A pandemia trouxe ao menos uma certeza para empresas focadas em inovação e ligadas em transformação digital. O escritório como local para bater ponto na entrada e na saída e sentar em frente ao computador das 8h às 18h ficou definitivamente no passado.
A tendência é existir cada vez mais lugares voltados a promover o encontro de pessoas e não servir apenas como estação de trabalho.
O período enfrentado em home office (ainda em voga) serviu para chefes e equipes se prepararem para uma jornada híbrida, com capacidade para superar as dificuldades de formas presencial e on-line.
A mudança, claro, não é uma novidade pensada a partir do coronavírus. Grandes empresas e startups nacionais, inspiradas em polos internacionais de inovação como o Vale do Silício, nos Estados Unidos, vêm nos últimos anos promovendo essa transformação arquitetônica. O surto de covid-19 tornou ainda mais urgente o movimento.
A Ioasys, empresa de consultoria e transformação digital, tem uma história curiosa nesse processo de mudança. A startup nasceu em Belo Horizonte, em 2012, com um escritório que servia como estação de trabalho e espaço para interação. Em 10 de março deste ano, inauguraram uma unidade moderna na zona sul de São Paulo, mas não deu tempo de aproveitar a novidade.
Dois dias depois, tiveram de fechar as portas por causa da pandemia. “Imagina nossa frustração, tudo novinho e sem poder funcionar”, lamentou o sócio Walter Galvão Neto. Ele e Gilson Vilela Jr, parceiro de negócio, haviam investido R$ 2 milhões no projeto de expansão.
O que parecia um grande problema, aos poucos, tornou-se a confirmação de que os frutos deverão ser colhidos mais adiante.
Para enfrentar o período on-line, promoveram inovação e também mantiveram hábitos corriqueiros feitos presencialmente, como o café de toda equipe no final da tarde, agora com cada um em frente ao seu computador.
Não era a mesma coisa, obviamente. Mas essa nova realidade serviu para validar uma ideia.
“A gente anteviu uma tendência, clara agora, quando pensamos no escritório em São Paulo. Projetamos um lugar voltado somente para interação. Focado na experiência do cliente, com eventos, workshops… Um espaço intimista, com possibilidade de assar um pão de queijo e passar o café no coador. Somos mineiros, né? Um espaço de happy hour para falar de inovação e tecnologia”, conta Neto.
A startup ajudou grandes empresas como Latam, Vale e Boche a conectar seus funcionários e clientes durante o home office.
Criaram, por exemplo, plataformas para a realização de eventos para mais de cem mil pessoas. Cresceram 50% no ano e devem fechar 2020 com faturamento de R$ 30 milhões.
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O saldo positivo ajudará na criação de uma nova sede, em Aracaju, também idealizada apenas para promover encontros. A previsão é inaugurar em 2021 e não ter de fechar dois dias depois.
“O espaço em São Paulo tem capacidade para até cem pessoas trabalharem, se for necessário. Mas a ideia não é essa. Como temos muitas empresas tradicionais no portfólio, como bancos e companhias aéreas, queremos trazer também o time do cliente para passar alguns dias no espaço. Queremos diversificar o lugar com experiências diversas”, afirma Neto. A unidade na capital paulista reabriu em outubro para atender demandas específicas de colaboradores. Ainda aguarda o fim da pandemia para poder funcionar plenamente.
Parque de inovações
Pensar em espaços interativos não é exclusividade de empresas de tecnologia. Na pandemia, a Natura concentrou esforços e conseguiu inaugurar em novembro um parque tecnológico com laboratórios e equipamentos de última geração para ampliar pesquisas e promover encontros. Foram investidos cerca de R$ 35 milhões no local que fica em Cajamar, nos arredores da capital paulista.
“É um espaço onde a gente convida as consultoras, a rede de colaboradores, consumidores e estudiosos para vir construir com a gente esse mundo em que a gente acredita. Tudo conectado com o propósito de gerar bem-estar. O segundo andar do prédio, chamado de espaço maker, é para a realização desses encontros. De juntar agência, fomento, startup e universidade. Estabelecer projetos em conjunto”, conta Gleycia Leite, diretora de recursos humanos da Natura.
A empresa, que possui 15 mil colaboradores, será dividida em terços. O funcionário que optar pela volta presencial trabalhará uma semana no escritório e duas em casa. A única certeza é a de que todos já estão se preparando para enfrentar uma nova realidade. “A comunicação direta e rápida com as pessoas é fundamental, já que o líder vai trabalhar com equipes híbridas, uma parte no escritório e outra em casa.”
A XP Investimentos também caminha para a criação de um local para promover interação, aplicação de tecnologia de ponta e ainda sendo abastecido por energia renovável. Em dezembro, a JHSF divulgou comunicado para informar a venda de um terreno em São Roque de 705 mil metros quadrados, por R$ 98,6 milhões, para a empresa financeira construir a Villa XP.
Em junho, o presidente da XP, Guilherme Benchimol, também comparou sua Villa ao complexo da Apple. A construção da nova sede acontece simultaneamente a uma mudança de pensamento na forma dos colaboradores trabalharem.
A companhia informou a seus funcionários sobre a iniciativa de todos passarem a trabalhar remotamente, mesmo após a pandemia. Ou seja, a Villa XP também será voltada para essa troca de experiências e não necessariamente servirá como estação de trabalho.
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Foto: Guilherme Missumi/Estadão