Enquanto coronavĂ­rus matava mulher, marido morria de infarto no banco

"A gente atĂ© vinha se preparando caso acontecesse alguma coisa com a nossa mĂ£e porque o estado dela era grave. SĂ³ que com o pai foi repentino", disse o rapaz

Enquanto coronavĂ­rus matava mulher, marido morria de infarto no banco

Publicado em: 13/11/2020 Ă s 12:59 | Atualizado em: 13/11/2020 Ă s 18:45

Um jovem, de 23 anos, soube da morte do pai e da mĂ£e ao mesmo tempo, em Curitiba. Na mesma manhĂ£, Ana morreu no hospital por complicações causadas pelo novo coronavĂ­rus, e Marcos sofreu um infarto fulminante dentro de uma agĂªncia bancĂ¡ria.

“Foi horrĂ­vel. A gente atĂ© vinha se preparando caso acontecesse alguma coisa com a nossa mĂ£e porque o estado dela era grave. SĂ³ que com o pai foi repentino, ainda mais no mesmo dia, praticamente na mesma hora. Eles nunca se separavam e, agora, descansaram juntos”, disse o filho mais velho Felipe Tiago Moraes.

Além dele, o casal também deixou uma filha de 13 anos. As mortes foram registradas na quarta-feira (4).

“Acabou que ela, por estar internada e sedada, nĂ£o soube que o pai veio a falecer, e ele tambĂ©m nĂ£o soube que ela havia morrido. Se a gente estĂ¡ conseguindo se virar hoje, Ă© muito do que eles sempre ensinavam. Eles acreditavam que filho se cria para o mundo”, contou.

A notĂ­cia

 

Felipe contou ao G1 que a mĂ£e Ana, de 42 anos, havia feito neste ano uma cirurgia para retirar um cĂ¢ncer benigno na cabeça. O pai Marcos, de 62, tinha feito uma cirurgia no coraĂ§Ă£o anos atrĂ¡s.

“A minha mĂ£e fez a cirurgia no Hospital Cajuru e foi um sucesso, ela ficou muito bem. Depois de umas trĂªs semanas, ela começou a apresentar sintomas da Covid-19. Teve falta de ar, daĂ­ chamamos o Samu, levaram atĂ© uma UPA e aĂ­ transferiram ela para um hospital”.

Segundo o filho, na primeira semana Ana ficou internada e estava bem. A partir da segunda semana, os mĂ©dicos decidiram entubĂ¡-la porque o quadro respiratĂ³rio se agravou. Foram trĂªs semanas entubada, atĂ© a morte por volta das 8h do dia 4.

“O pessoal do hospital me ligou dizendo que naquele dia eu tinha que levar um documento dela e um documento meu, daĂ­ eu jĂ¡ imaginei o que seria, mas eu fiquei esperando meu pai voltar para casa. Passou uma, duas horas, e ele nĂ£o voltava para levar a gente”, relembrou Felipe.

Pai demorava a voltar para casa

Depois de algumas horas esperando o pai voltar da agĂªncia bancĂ¡ria, ele, a irmĂ£ e uma tia foram atĂ© o hospital verificar o que tinha acontecido.

“Chegando lĂ¡, a tia falou para o mĂ©dico que o nosso pai tinha sofrido um infarto fulminante no banco e tinha morrido. AĂ­ o mĂ©dico entrou na sala para explicar que a minha mĂ£e tinha falecido e jĂ¡ informou tambĂ©m que naquela manhĂ£ o nosso pai tambĂ©m tinha morrido. Foi um choque”, relatou.

Felipe afirma que apesar do momento difĂ­cil, quer lembrar as coisas boas que viveu ao lado dos pais.

“A saudade vai ser para sempre. Éramos muito prĂ³ximos, gostĂ¡vamos de almoçar junto todo domingo, fazĂ­amos churrasco. GostĂ¡vamos muito de passear. A minha irmĂ£ estĂ¡ assimilando bem as coisas, apesar da idade”, disse ele.

A mĂ£e era professora de educaĂ§Ă£o fĂ­sica e o pai era contador.

Segundo o filho mais velho, em 2018, precisou trancar o curso na faculdade por causa de dívidas. Depois da morte dos pais, também descobriu que a casa em que eles moram foi leiloada.

“Fazia educaĂ§Ă£o fĂ­sica tambĂ©m, parei no Ăºltimo ano. Meu sonho agora Ă© me formar para orgulhar eles, mas a gente nĂ£o sabe como vai ser mais para frente”, contou.

 

Ajuda

 

Ex-colegas de faculdade, amigos e professores fizeram uma vaquinha na internet para auxiliar os irmĂ£os. AtĂ© esta quinta-feira (12), a campanha jĂ¡ havia arrecadado R$ 35 mil.

“A minha mĂ£e sempre foi muito carinhosa e atenciosa com todo mundo, atĂ© por isso muitas pessoas tĂªm nos ajudado em gratidĂ£o Ă  ela. O meu pai tambĂ©m sempre tentou fazer de tudo pela gente. NĂ£o gostava nem de contar os problemas para nĂ£o nos preocupar. Sou grato por todo apoio recebido nesse momento tĂ£o dolorido”, completou o jovem.

 

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Foto: Arquivo pessoal/Felipe Tiago Moraes