“El País” diz que Bolsonaro faz gestão irresponsável na pandemia

Em seu editorial deste sábado, jornal espanhol comenta que a atitude do presidente pode causar inúmeras mortes

Da Redação do BNC AMAZONAS

Publicado em: 04/04/2020 às 09:19 | Atualizado em: 04/04/2020 às 09:19

O editorial do jornal “El País” deste sábado faz uma dura crítica ao presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

Com o título “El deber de Bolsonaro“, a publicação diz que o dirigente brasileiro, na pandemia, tem uma “atitude imprudente e irresponsável”.

“A atitude do líder do maior país da América do Sul”, acrescenta o editorial, “ameaça causar inúmeras mortes se ele não adotar imediatamente medidas de contenção apoiadas pela comunidade científica internacional e seguidas pela maioria dos governantes do mundo”.

O El País é da Espanha, país que relaxou nas medidas de contenção social para reduziu a circulação do novo coronavírus e hoje é o segundo do mundo em número de mortos (11.744).

No Brasil, desde o começo da crise da doença, o presidente tem menosprezado o potencial da doença, que chegou a chamar de “gripezinha”.

Do mesmo modo, Bolsonaro destoou de sua equipe. Ao invés do confinamento, defendeu a volta das aglomerações nas escolas e no comércio para manter aquecida a economia.

Porém, três semanas depois, o vírus já matou 365 brasileiros.

Mais grave é que, agora, lugares como São Paulo, Rio, Ceará, DF e Amazonas estão à beira do colapso nos seus sistemas de saúde.

 

Revolta social

Por sua vez, o editorial critica a atividade de Bolsonaro nas redes sociais, o confronto dele com governadores e prefeitos e diz que estes podem incentivar “revolta social”.

“Suas declarações e o uso de redes sociais também não apenas causam confusão em um país onde alguns governadores e prefeitos estão sendo forçados a adotar medidas que o governo federal desdenha, mas podem incentivar a revolta social”.

O editorial conclui dizendo que “haverá tempo para o presidente […] tomar, imediatamente, todas as medidas necessárias”.

“Ele deve isso, não à ciência que despreza, mas ao povo brasileiro”.

 

Leia o editorial

O dever de Bolsonaro

A principal obrigação de qualquer governante em uma democracia é proteger a vida e o bem-estar de seus cidadãos, mas o que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está fazendo com sua administração da pandemia é exatamente o oposto. A atitude imprudente e irresponsável do líder do maior país da América do Sul ameaça causar inúmeras mortes se ele não adotar imediatamente medidas de contenção apoiadas pela comunidade científica internacional e seguidas pela maioria dos governantes do mundo, incluindo aqueles que, num primeiro momento, estavam céticos sobre a verdadeira gravidade da situação.

Desdenhando a ciência desde o início e baseando suas decisões em opiniões pessoais sem fundamento empírico, Bolsonaro teve dificuldade em reconhecer que a população brasileira como um todo enfrenta qual pode ser sua maior ameaça nos 197 anos de história do país. Depois de insistir inicialmente que a doença causada pelo coronavírus era “uma gripe” e dizer coisas tão chocantes quanto o brasileiro não pegar “porque ele é capaz de mergulhar em um esgoto e nada acontece com ele”, ele repetidamente desdenhava a idéia de confinamento total da população em suas casas recomendado pela Organização Mundial da Saúde, reivindicando também os danos que isso causaria à economia. Ele percorreu os mercados e incentivou a não interromper a atividade econômica. O resultado é que o Brasil perdeu um tempo precioso.

Suas declarações e o uso de redes sociais também não apenas causam confusão em um país onde alguns governadores e prefeitos estão sendo forçados a adotar medidas que o governo federal desdenha, mas podem incentivar a revolta social. Assim, Bolsonaro se permitiu colocar em suas redes sociais – impossível saber por que motivo – imagens de escassez em algumas áreas do país, que mais tarde ele teve que se retratar por serem falsas. O presidente pediu desculpas, mas o estrago já foi feito. Até as redes sociais mais importantes até excluíram as mensagens de Bolsonaro por violarem os termos das notícias falsas. Um fato inédito e revelador. Também é significativo que o Exército contradisse o presidente desde o início e considerasse o Covid-19 como o principal desafio que já enfrentou.

Durante uma crise sanitária global, não faz sentido pensar no que poderia ter sido feito melhor ou não. Haverá tempo depois. O urgente é parar a propagação do vírus e seu rastro de mortes. Bolsonaro tem a obrigação de tomar imediatamente todas as medidas necessárias para fazê-lo. Ele deve isso, não à ciência que despreza, mas ao povo brasileiro.

 

Foto: Carolina Antunes/Presidência da República