Desastres climĂ¡ticos jĂ¡ causaram ao Brasil perdas de R$ 139,7 bilhões

Esses prejuĂ­zos abrangem danos a habitações, instalações pĂºblicas como escolas e hospitais, sistemas de transporte e assistĂªncia mĂ©dica emergencial.

Publicado em: 20/05/2024 Ă s 14:03 | Atualizado em: 20/05/2024 Ă s 14:04

A loja de roupas masculinas de Mickael Breitenbach, de 31 anos, em Arroio do Meio, Rio Grande do Sul, enfrentou uma tragĂ©dia em maio de 2024. Tradicionalmente, Mickael e seu sĂ³cio, que compartilham o aniversĂ¡rio em 5 de maio, organizam um grande evento para impulsionar as vendas. Contudo, quatro dias antes deste ano, chuvas intensas atingiram a regiĂ£o, fazendo com que a Ă¡gua subisse 2,5 metros dentro do estabelecimento. AlĂ©m dos danos causados pela enchente, a loja sofreu saques, resultando em um prejuĂ­zo de R$ 550 mil.

Desde 2015, chuvas fortes e deslizamentos de terra tĂªm causado ao Brasil perdas significativas, totalizando R$ 139,7 bilhões, de acordo com o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID). Esses prejuĂ­zos abrangem danos a habitações, instalações pĂºblicas como escolas e hospitais, sistemas de transporte e assistĂªncia mĂ©dica emergencial, alĂ©m de impactos na agricultura, pecuĂ¡ria, indĂºstria, comĂ©rcio e serviços.

Mickael relata que, apesar dos desafios, ele e seu sĂ³cio estĂ£o determinados a se reerguer. “Lavamos as peças que deixaram e vamos fazer uma promoĂ§Ă£o para conseguir algum capital de giro pelo menos. Mas sĂ³ poderemos abrir depois de colocar outra porta”, explicou.

O S2ID, ativo desde 2013, permite que estados e municĂ­pios comuniquem ocorrĂªncias de desastres Ă  Secretaria Nacional de ProteĂ§Ă£o e Defesa Civil.

A partir desses registros, a UniĂ£o pode declarar emergĂªncias ou calamidades e repassar recursos Ă s Ă¡reas afetadas. Dados mostram que, em quase dez anos, 1,9 milhões de casas, 14,3 mil escolas e 6,5 mil unidades de saĂºde foram danificadas ou destruĂ­das no Brasil.

Na esfera pĂºblica, os maiores prejuĂ­zos foram na Ă¡rea de transporte, somando R$ 17 bilhões, enquanto na iniciativa privada, a agricultura sofreu perdas de R$ 39,3 bilhões.

Pedro FontĂ£o, coordenador do LaboratĂ³rio de Climatologia da Universidade Federal do ParanĂ¡ (UFPR), aponta que as mudanças climĂ¡ticas estĂ£o intensificando esses eventos, como a recente tragĂ©dia no Rio Grande do Sul.

Em 2024, jĂ¡ se registra o maior nĂºmero de desabrigados e desalojados desde 2013, com prejuĂ­zos no estado alcançando R$ 9 bilhões.

O aumento da populaĂ§Ă£o em Ă¡reas de risco tambĂ©m agrava a situaĂ§Ă£o. Segundo o Plano Nacional de Defesa Civil, 1.942 municĂ­pios tĂªm populaĂ§Ă£o em regiões suscetĂ­veis a deslizamentos, enxurradas e enchentes, afetando 8,9 milhões de pessoas.

Desde 2022, mais da metade dos R$ 139,7 bilhões em prejuízos foi registrada, com uma média de mais de uma morte por dia devido a chuvas e deslizamentos.

Casos trĂ¡gicos ilustram essa realidade. Em março de 2023, Edivaldo Oliveira testemunhou um deslizamento no bairro Jorge Teixeira, em Manaus, que resultou na morte de oito pessoas. Em fevereiro de 2024, em Japeri, Rio de Janeiro, um deslizamento matou um bebĂª de 1 ano e 8 meses, enquanto a irmĂ£ gĂªmea foi resgatada.

O fenĂ´meno climĂ¡tico El Niño, que contribui para chuvas intensas no Sul e secas no Norte do Brasil, estĂ¡ para acabar.

Segundo FontĂ£o, a NASA deve oficializar o fim do El Niño em breve. ApĂ³s isso, um perĂ­odo de neutralidade climĂ¡tica Ă© esperado, mas hĂ¡ uma alta probabilidade de formaĂ§Ă£o do La Niña, que pode trazer secas ao Sul e enxurradas ao Norte do Brasil jĂ¡ a partir de agosto de 2024.

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Foto: BNC Amazonas