Como abuso de preço empurra Petrobrás de volta à venda direta de combustíveis
Cresce a ideia de a empresa estatal retomar a comercialização e distribuição, quebrando a cartelização.

Publicado em: 04/08/2025 às 11:15 | Atualizado em: 04/08/2025 às 11:15
O aumento nos preços dos combustíveis nos postos, mesmo com queda nas refinarias da Petrobrás, reacendeu o debate sobre a volta da estatal ao setor de distribuição e revenda. O objetivo seria frear o que técnicos e sindicalistas classificam como abuso na margem de lucro de distribuidoras e revendedoras privadas.
A Petrobrás deixou esse segmento após a privatização da BR Distribuidora (hoje Vibra), concluída em 2021, durante o governo Jair Bolsonaro. Também saiu do mercado de gás de cozinha com a venda da Liquigás, em 2020. Agora, com o controle de preços nas mãos do setor privado, qualquer redução nos valores repassados pela estatal tem pouco ou nenhum impacto nas bombas.
Desde janeiro de 2023, o preço médio nas refinarias caiu 17,5%, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep). Nos postos, porém, o valor subiu 21,5%.
A representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da estatal, Rosangela Buzanelli, também defende o retorno à revenda de combustíveis. “Assim como defendi que ela retome projetos de produção de fertilizantes e na área petroquímica”, declarou.
A presidente da estatal, Magda Chambriard, embora não tenha falado diretamente sobre a revenda, já afirmou que a empresa “perdeu o controle sobre o preço final”, por ter deixado de ser verticalizada. Hoje, a Petrobrás não entrega mais ao consumidor.
Os números confirmam a crítica. Estudo do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) mostra que, entre 2020 e 2025, a margem de lucro de distribuidores e postos subiu 109% na gasolina, 60% no gás e 53% no diesel.
Para o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, há uma “anomalia no mercado de combustíveis” que nem as fiscalizações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) conseguem conter. A solução, diz ele, passa pela volta da Petrobrás à venda direta.
Embora não haja estudos oficiais dentro da empresa, integrantes do governo e do setor já falam em possibilidades. Uma delas seria a recompra da Vibra. Outra, a criação de uma nova distribuidora, o que hoje é vetado por cláusulas contratuais da privatização, válidas até 2029.
Enquanto isso, Bacelar sugere um caminho intermediário: vender combustíveis diretamente a grandes consumidores, como o agronegócio e a indústria. Segundo ele, seria uma forma de quebrar o monopólio informal criado pela saída da Petrobras da cadeia.
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Foto: Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil