Golpe: minutas, documentos, Torres, Cid e tudo que desmente Bolsonaro
Na delaĂ§Ă£o premiada de Mauro Cid, ex-auxiliar de Jair Bolsonaro, Ă© revelada uma reuniĂ£o sobre uma minuta golpista.

Publicado em: 22/09/2023 Ă s 13:25 | Atualizado em: 22/09/2023 Ă s 13:25
Em um dos depoimentos fornecidos como parte de sua delaĂ§Ă£o premiada com a PolĂcia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar de confiança de Jair Bolsonaro, revelou uma reuniĂ£o entre o ex-presidente, a cĂºpula das Forças Armadas e ministros militares de seu governo. O propĂ³sito do encontro era discutir os detalhes de uma minuta que cogitava a possibilidade de uma intervenĂ§Ă£o militar.
Este evento, inicialmente divulgado pela colunista Bela Megale do GLOBO, aconteceu nas semanas apĂ³s o segundo turno das eleições do ano passado, quando Bolsonaro foi derrotado pelo presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT).
A primeira minuta de teor golpista veio Ă tona quando foi encontrada na residĂªncia de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Torres foi preso no inĂcio do ano sob acusações de leniĂªncia com extremistas, enquanto ocupava o cargo de secretĂ¡rio de Segurança PĂºblica do Distrito Federal.
O documento apreendido pela PF na posse de Torres propunha a decretaĂ§Ă£o de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e concedia a Bolsonaro poderes para interferir na atuaĂ§Ă£o da Corte, o que claramente violava a ConstituiĂ§Ă£o.
A minuta alegava que sua finalidade era preservar a “lisura e correĂ§Ă£o do processo eleitoral presidencial de 2022” e sugeria a suspensĂ£o do sigilo de correspondĂªncia e comunicaĂ§Ă£o de magistrados do TSE. AlĂ©m disso, o texto criava uma “ComissĂ£o de Regularidade Eleitoral” sob o comando do MinistĂ©rio da Defesa.
A minuta de Torres tambĂ©m abordava o controle do acesso Ă s dependĂªncias do TSE, ampliando sua abrangĂªncia a todas as Ă¡reas relacionadas ao processo eleitoral presidencial de 2022, incluindo o tratamento de dados telemĂ¡ticos e as sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais.
A PF tambĂ©m encontrou textos semelhantes, mas distintos do material de Torres, nos dispositivos mĂ³veis de Mauro Cid. Esses textos incluĂam uma minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e “estudos” destinados a apoiar um possĂvel golpe de estado.
É importante observar que, de acordo com a legislaĂ§Ă£o brasileira, um decreto de GLO sĂ³ pode ser emitido em casos excepcionais, quando as forças tradicionais de segurança pĂºblica nĂ£o conseguem controlar graves perturbações da ordem.
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O documento encontrado no telefone de Cid tambĂ©m mencionava a possibilidade de decretar o Estado de SĂtio, uma medida extrema reservada para situações excepcionais, como em tempos de guerra. O texto declarava o Estado de SĂtio como um passo para a “restauraĂ§Ă£o do Estado DemocrĂ¡tico de Direito no Brasil”, seguido pela decretaĂ§Ă£o da OperaĂ§Ă£o de Garantia da Lei e da Ordem.
A relaĂ§Ă£o entre o conteĂºdo encontrado com Cid e a reuniĂ£o mencionada por ele em sua delaĂ§Ă£o premiada ainda nĂ£o estĂ¡ clara.
Durante o encontro, o almirante Almir Garnier Santos, entĂ£o comandante da Marinha, teria manifestado prontidĂ£o para apoiar um chamamento para o golpe do entĂ£o presidente Bolsonaro.
No entanto, o comando do ExĂ©rcito declarou na Ă©poca que nĂ£o apoiaria tal plano.
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Foto: Roberto Suguino/AgĂªncia Senado