ChefĂ£o da Braskem/Odebrecht confirma propinas de US$ 250 milhões

Jose Carlos Grubisich fez a declaraĂ§Ă£o de culpa nesta quinta-feira (15) no tribunal federal do Brooklyn, Nova York. O executivo estĂ¡ em prisĂ£o domiciliar nos Estados Unidos

ChefĂ£o da Braskem, do grupo Odebrecht, conta golpe de US$ 250 milhões

Publicado em: 15/04/2021 Ă s 19:07 | Atualizado em: 15/04/2021 Ă s 19:11

O ex-presidente da Braskem SA, maior empresa petroquímica do Brasil, confessou ter participado de fraudes em balanços e de ter permitido um esquema de suborno estimado em US$ 250 milhões. O caso envolveria também a controladora da companhia, a Odebrecht SA.

Jose Carlos Grubisich fez a declaraĂ§Ă£o de culpa nesta quinta-feira (15) no tribunal federal do Brooklyn, Nova York. O executivo estĂ¡ em prisĂ£o domiciliar nos Estados Unidos.

O advogado Fernando Cunha, que representa o executivo no Brasil afirma, porĂ©m, que Grubisich nĂ£o foi formalmente acusado nem admitiu ter obtido benefĂ­cios financeiros a partir das prĂ¡ticas de suborno na Braskem.

Grubisich admitiu ter conspirado para violar as disposições antissuborno da Lei de PrĂ¡ticas de CorrupĂ§Ă£o no Exterior, alĂ©m de ter falsificado os registros e relatĂ³rios financeiros da Braskem para ocultar subornos. Ele foi acusado de suborno de autoridades em um processo de 2019.

Procurada, a defesa do empresĂ¡rio confirma que Grubisich de fato buscou um acordo com a Justiça americana por estar “em condições muito duras” desde quando foi preso no aeroporto  John F. Kennedy, em Nova York, em novembro de 2020, e que o acordo prevĂª a transferĂªncia do executivo para o Brasil.

Fernando Cunha diz, no entanto, que o executivo nĂ£o obteve vantagens financeiras pessoais com o esquema.

Grubisich, segundo o advogado, afirmou ter participado de uma fraude contĂ¡bil que maquiava a existĂªncia de um caixa 2 nos balanços da Braskem.

“Ele Ă© acusado em fraudes nos balanços e assumiu a responsabilidade por isso. No arquivamento das informações, havia imprecisões porque hĂ¡ a acusaĂ§Ă£o da presença de um caixa 2”, afirmou Cunha.

O empresĂ¡rio tambĂ©m admitiu ter facilitado o pagamento de subornos a agentes pĂºblicos para a obtenĂ§Ă£o de um contrato em que a Braskem foi escolhida como sĂ³cia da Petrobras de uma planta de polipropileno em PaulĂ­nia, no interior de SĂ£o Paulo.

“Ele Ă© acusado de ter facilitado, por meio desse caixa 2 na Braskem, que outras pessoas da empresa pagassem subornos para a obtenĂ§Ă£o de um contrato de uma unidade de polipropileno, o que tambĂ©m consta no acordo. Mas (o executivo) nĂ£o Ă© acusado nem admitiu ter tido qualquer proveito financeiro nessas operações”, afirmou o advogado.

O ex-presidente da Braskem chefiou a empresa entre 2002 e 2008 e comandou tambĂ©m as operações da produtora de etanol Atvos, ambos os negĂ³cios controlados pela Odebrecht, onde o executivo trabalhou de 2001 a 2012.

Hoje, o ex-executivo da Braskem é credor com títulos de cerca de R$ 120 milhões a receber da Odebrecht, e trava litígios judiciais com a companhia.

Leia mais

Homem das propinas da Braskem/Odebrecht Ă© preso nos EUA

Os promotores americanos disseram que, entre 2002 e 2014, um esquema do qual Grubisich fez parte desviou US$ 250 milhões da Braskem para um fundo secreto, mantido na unidade de Operações Estruturadas da Odebrecht, que “funcionava efetivamente como um departamento autĂ´nomo de suborno”.

Os fundos foram entĂ£o supostamente usados para pagar subornos a funcionĂ¡rios do governo brasileiro para conquistar e reter negĂ³cios para a Braskem, incluindo um grande projeto da estatal brasileira de petrĂ³leo, a Petrobras.

Ainda segundo os promotores, alguns subornos autorizados por Grubisich foram pagos depois que ele deixou seu cargo, em 2008.

Grubisich, de 64 anos, pode pegar atĂ© 10 anos de prisĂ£o nas duas acusações de conspiraĂ§Ă£o em sua sentença marcada para 5 de agosto e concordou em pagar US$ 2,2 milhões. Ele apresentou sua petiĂ§Ă£o perante o juiz distrital dos EUA, Raymond Dearie.

Em dezembro de 2016, a Braskem e a Odebrecht se declararam culpadas e concordaram em pagar US$ 3,5 bilhões ao Departamento de Justiça para liquidar as acusações de suborno apresentadas por reguladores dos EUA, Brasil e Suíça.

Em dezembro, a Odebrecht mudou seu nome para Novonor SA para superar sua histĂ³ria carregada de escĂ¢ndalos, dizendo que seria “estritamente pautada pela Ă©tica, integridade e transparĂªncia”.

Leia mais do O Globo

Foto: ReproduĂ§Ă£o