CanSino desmente lĂder do governo e Aziz viu mentiras Ă CPI
Na avaliaĂ§Ă£o de Aziz, Barros "quer usar a CPI, o mecanismo de investigaĂ§Ă£o, para se defender, nĂ£o para falar a verdade"

Publicado em: 12/08/2021 Ă s 16:41 | Atualizado em: 12/08/2021 Ă s 16:41
O presidente da CPI da covid, Omar Aziz (PSD-AM), decidiu encerrar a sessĂ£o de hoje e afirmou que o lĂder do governo na CĂ¢mara, Ricardo Barros (PP-PR), voltarĂ¡ Ă comissĂ£o como convocado. A aĂ§Ă£o acontece apĂ³s a cĂºpula da CPI acreditar que Barros mentiu ao longo do depoimento.
Na avaliaĂ§Ă£o de Aziz, Barros “quer usar a CPI, o mecanismo de investigaĂ§Ă£o, para se defender, nĂ£o para falar a verdade”.
Ainda para Aziz, Barros esteve “desde o primeiro momento defendendo a imunizaĂ§Ă£o de rebanho” e ficou “provado” que o lĂder estĂ¡ no “radar de todo mundo que vende vacina por intermediaĂ§Ă£o”. IntermediĂ¡rios estĂ£o no centro de negociações investigadas pela CPI.
“Sempre tem uma narrativa, uma desculpa, um pretexto [de Barros]. Posso assegurar: ainda nĂ£o chegamos nem na metade das perguntas que o [relator] senador Renan [Calheiros] tinha para fazer. Tinha muito mais novidade, perguntas e provas que serĂ£o guardados para o prĂ³ximo dia que vamos marcar porque convocado ele jĂ¡ estĂ¡.”
Os senadores independentes e da oposiĂ§Ă£o tambĂ©m se irritaram quando Barros acusou que a comissĂ£o estaria afastando do Brasil empresas que vendem vacinas contra o novo coronavĂrus. Para esses senadores, esta foi uma das principais “mentiras” ditas por Barros.
“Quero lembrar aos senhores senadores que o mundo inteiro quer comprar vacinas, e espero que essa CPI traga bons resultados para o Brasil, que produza um efeito positivo para o Brasil. Porque o negativo jĂ¡ produziu muito: afastou muitas empresas interessadas em vender vacina ao Brasil”, declarou o lĂder do governo.
A declaraĂ§Ă£o de Barros causou reaĂ§Ă£o imediata de senadores contrĂ¡rios ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que nĂ£o concordaram com o lĂder.
ApĂ³s muito bate-boca, a sessĂ£o acabou suspensa por Aziz prĂ³ximo das 13h20. A sessĂ£o foi retomada por volta das 15h15, mas, entĂ£o, logo encerrada apĂ³s pedido do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), prontamente atendido por Aziz.
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Na condiĂ§Ă£o de convocado, Barros nĂ£o poderĂ¡ optar por faltar Ă ComissĂ£o Parlamentar de InquĂ©rito, ao contrĂ¡rio de quando hĂ¡ um convite. No entanto, o prĂ³prio Barros vinha pressionando para ser ouvido pelo colegiado. A data e o horĂ¡rio do novo depoimento ficam a critĂ©rio da CPI.
Inicialmente, Barros jĂ¡ seria convocado, mas Aziz transformou o chamamento em convite por “deferĂªncia” a pedido do lĂder.
ApĂ³s encerrar a sessĂ£o, Aziz disse que a convocaĂ§Ă£o Ă© “para quem a gente perde o respeito” ou “quem desrespeita o trabalho da CPI”. Ele negou ter politizado a situaĂ§Ă£o.
A primeira a reagir Ă acusaĂ§Ă£o de Barros de que a CPI estaria espantando empresas de vacinas foi a senadora Simone Tebet (MDB-MS): “Isso nĂ£o Ă© verdade”. Em seguida, ela foi acompanhada por diversos senadores independentes e de oposiĂ§Ă£o.
Omar Aziz disse que “afastamos as vacinas que vocĂªs do governo queriam tirar proveito, rapaz”. O bate-boca continuou e, diante da falta de diĂ¡logo e da irritaĂ§Ă£o da maioria dos senadores, Aziz decidiu suspender a sessĂ£o.
Quando Aziz jĂ¡ tinha comunicado a decisĂ£o de suspender a sessĂ£o, Simone afirmou ainda ao microfone que nĂ£o poderia “ficar calada” ao ouvir Barros, porque, antes de a CPI começar os trabalhos, hĂ¡ menos de trĂªs meses, o Brasil jĂ¡ registrava quase 400 mil vidas perdidas para a covid-19.
Senadores governistas rebateram com “aceite a realidade” e um novo bate-boca se formou.
Em coletiva apĂ³s a confusĂ£o, Ricardo Barros disse que estar Ă disposiĂ§Ă£o da CPI, mas que seu “direito de opiniĂ£o nĂ£o pode ser cerceado em nenhum momento”.
Ele deu as declarações Ă imprensa ao lado dos senadores governistas da comissĂ£o, como FlĂ¡vio Bolsonaro (Patriota-RJ), o lĂder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos RogĂ©rio (DEM-RO).
Mais tarde, em nova coletiva, Barros justificou que ao menos duas empresas estariam evitando o Brasil por terem descredenciado representantes em territĂ³rio nacional, uma das condições para que possam vender vacinas ao MinistĂ©rio da SaĂºde, disse.
A fabricante indiana Bharat Biotech decidiu acabar com a parceria com a Precisa Medicamentos para a venda da Covaxin em 23 de julho apĂ³s denĂºncias e suspeitas de irregularidades no processo virem Ă tona. No entanto, a Bharat afirmou que continuaria a trabalhar junto Ă Anvisa (AgĂªncia Nacional de VigilĂ¢ncia SanitĂ¡ria) para obter as aprovações necessĂ¡rias para a liberaĂ§Ă£o do uso da Covaxin.
JĂ¡ a farmacĂªutica chinesa CanSino afirmou que rompeu o acordo com a representante Belcher FarmacĂªutica, no final de junho, mas seguir interessada em vender vacinas ao Brasil, segundo senadores da oposiĂ§Ă£o. Isso contraria a fala de Barros.
A Belcher Ă© sediada em MaringĂ¡, no ParanĂ¡, terra-natal de Barros. O lĂder confirmou ser amigo dos donos da empresa.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que a comissĂ£o consultarĂ¡ o STF (Supremo Tribunal Federal) para saber como proceder “se o deputado voltar aqui e insistir nas mentiras”.
Deputado diz que Bolsonaro teria citado Barros em ‘rolo’
Em depoimento na CPI da Covid, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro citou o nome de Barros por possĂvel envolvimento em eventuais irregularidades no MinistĂ©rio da SaĂºde ao ouvir a denĂºncia sobre pressĂ£o para a importaĂ§Ă£o da vacina indiana Covaxin.
Segundo Miranda, Bolsonaro teria, inclusive, usado o termo “rolo” ao se referir a Barros.
Ricardo Barros nega qualquer envolvimento com supostas irregularidades no processo da Covaxin e afirma nĂ£o ser o parlamentar citado por Bolsonaro.
A suposta pressĂ£o pela importaĂ§Ă£o da Covaxin foi revelada pelo servidor Luis Ricardo Miranda, irmĂ£o do deputado Luis Miranda, que atua na Ă¡rea tĂ©cnica do MinistĂ©rio da SaĂºde responsĂ¡vel por autorizar ou nĂ£o pedidos de importaĂ§Ă£o.
Supostamente pressionado a dar celeridade ao aval para chegada da Covaxin ao paĂs, o funcionĂ¡rio teria se recusado a agir dessa forma e disse que sua equipe havia identificado falhas de documentaĂ§Ă£o e inconsistĂªncias no acordo firmado com o laboratĂ³rio indiano Bharat Biotech e a sua intermediĂ¡ria no Brasil, a Precisa Medicamentos.
Ao lado do irmĂ£o, Luis Miranda relatou as supostas reações de Bolsonaro apĂ³s tomar conhecimento da denĂºncia em conversa no PalĂ¡cio da Alvorada. Na versĂ£o do deputado, o mandatĂ¡rio reconheceu a gravidade dos fatos e comunicou que repassaria o assunto Ă PolĂcia Federal.
No entanto, oficialmente, nĂ£o chegou pedido Ă PolĂcia Federal. O ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, chegou a tentar rebater as acusações dos irmĂ£os Miranda, mas hĂ¡ suspeitas de senadores de que, para tanto, tenha utilizado documento falso. Onyx e Luis Miranda deverĂ£o comparecer a uma acareaĂ§Ă£o na CPI na prĂ³xima quarta (18).
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Foto: Leopoldo Silva/AgĂªncia Senado