Brasil tem defasagem de 10 mil mortes do coronavĂrus nos dados atuais
A demora pode ser ainda maior em estados que tiveram sobrecargas em seus sistemas de saĂºde, como o Amazonas, e acabaram ficando com exames pendentes

Publicado em: 20/07/2020 Ă s 17:24 | Atualizado em: 20/07/2020 Ă s 17:27
O Brasil chegou Ă s 70 mil mortes por covid-19 notificadas pelo MinistĂ©rio da SaĂºde no dia 10 de julho. Este marco, no entanto, pode ter sido atingido muitos dias antes.
A causa é a diferença entre a data em que a morte aconteceu e o dia em que ela foi anunciada oficialmente.
Ao comparar dados dos registros de ocorrĂªncias das mortes com as notificações feitas pelo ministĂ©rio e pelas secretarias da saĂºde estaduais e municipais, o UOL descobriu que os marcos de Ă³bitos estĂ£o sendo divulgados pelo governo com pelo menos 10 mil mortes de atraso.
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Os dados oficiais sĂ£o apurados pelas autoridades de saĂºde locais e consolidados por BrasĂlia em nĂvel nacional.
Ministério divulgou dado defasado
Por exemplo, em 21 de maio, quando o ministĂ©rio anunciou que o Brasil tinha 20 mil Ă³bitos por covid-19, na prĂ¡tica, o paĂs jĂ¡ tinha chegado aos 30 mil mortos pelo novo coronavĂrus.
O motivo? Demora para inclusĂ£o no sistema nacional, atraso de resultados laboratoriais confirmando coronavĂrus, falta de equipamentos, entre outros.
Nos casos mais extremos, a janela entre a data em que o Ă³bito ocorreu e a notificaĂ§Ă£o pode se aproximar de quatro meses.
Especialistas ouvidos pelo UOL apontam que o sistema de notificações adotado pela pasta Ă© o mais adequado dentro das possibilidades atuais, mas destacam que a subnotificaĂ§Ă£o atrapalha no combate Ă doença e que o governo poderia coordenar melhor a organizaĂ§Ă£o destes dados.
Estados sobrecarregados
A demora pode ser ainda maior em estados que tiveram sobrecargas em seus sistemas de saĂºde e acabaram ficando com exames pendentes.
Em Pernambuco, por exemplo, o boletim da Ăºltima quinta (16) apontou que, entre as 67 mortes registradas em 24 horas, uma ocorreu em 24 de abril — quase trĂªs meses antes.
Uma das explicações para esse atraso pode estar no perĂodo inicial da pandemia, quando havia uma grande deficiĂªncia de insumos para a testagem.
“NĂ³s nĂ£o chegamos a parar de fazer exames aqui, mas algumas vezes ficamos bem perto disso. Houve um problema imenso com a chegada dos insumos”, conta Felipe Naveca, pesquisador na Ă¡rea de virologia da Fiocruz (FundaĂ§Ă£o Oswaldo Cruz) AmazĂ´nia.
“NĂ³s tiramos recursos para comprar, mas os fornecedores nĂ£o tinham para vender, por conta da alta demanda, em especial fora do paĂs. Como grande parte desses insumos Ă© importado, seja como produto acabado, seja como matĂ©ria-prima, isso foi um problema sĂ©rio”, afirma Naveca.
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Foto: MĂ¡rcio James/Semcom