Bancos estrangeiros fecham as portas aos bancos brasileiros

A circulação de dinheiro ficou mais restrita -​ até porque houve grande destruição de riqueza nas últimas semanas por conta da pandemia, diz Febraban

Bancos estrangeiros fecham as portas aos bancos brasileiros

Publicado em: 02/04/2020 às 09:43 | Atualizado em: 02/04/2020 às 09:43

Os bancos estrangeiros suspenderam praticamente todo o financiamento aos bancos no Brasil, em meio à crise do coronavírus, segundo informou o presidente​ da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney.

Isso veio agravar a​ situação de restrição de liquidez decorrente da hecatombe da Covid-19, a elevação​ dos riscos e aumento das taxas de captação.

Mesmo com importantes medidas anunciadas pelo Banco Central, destinadas a​ prover liquidez ao sistema financeiro, “a circulação de dinheiro ficou mais restrita -​ até porque houve grande destruição de riqueza nas últimas semanas em todo o​ planeta”, ressaltou ele.​

Ainda assim, Sidney assegurou, em sua primeira entrevista no cargo, que as taxas de​ juros média nas operações de varejo, tanto de pessoas físicas quanto pessoas​ jurídicas, ficaram de forma geral estáveis neste período.

“Isso é especialmente válido​ no caso das prorrogações e nos casos de varejo (PF e PJ) que concentram a imensa​ maioria dos clientes”, disse ele.​

Se houve uma elevação nos juros, conforme matéria publicada na edição de ontem​ do Valor, ela teria sido “alguma alta muito pontual, mas posso afirmar que, de acordo com as nossas informações, as taxas de juros ficaram estáveis no decorrer​ das últimas semanas, desde a eclosão da crise do coronavírus”, segundo Sidney.​

Nas operações com grandes empresas e nas operações novas, às vezes o cenário é​ um pouco distinto, disse ele, sobretudo com linhas mais longas (acima de um ano),​ porque o custo de captação aumentou substancialmente.

Se um título pré-fixado​ com prazo de dois anos era negociado a juros de 4,33% no início do mês passado,​ passou a ter juros de 6,12% no fim do mês, com aumento de pouco mais de 40%.​

“Mas aqui estamos falando de grandes empresas, que demandam volumes​ significativos de recursos (de bilhões de reais) com impactos relevantes sobre a​ liquidez do setor bancário”, completou.​

Entidades do segmento de varejo enviaram ao Banco Central um documento onde​ reclamam de elevação de até 70% nos juros dos financiamentos dos bancos,​ conforme matéria publicada pelo Valor.

Sobre isso, o presidente da Febraban disse:​ “Não estamos aqui para acusar ninguém, mas também não gostaria de assumir​ responsabilidades que não são nossas”.

Afirmou, também, que os bancos são “tão​ vítimas” (da crise) como os demais setores e a população brasileira.​

“Nós, bancos, não produzimos essa crise, não é produtivo procurar culpados e nem​ apontar o dedo; é momento de mais racionalidade e serenidade”, completou​.

No início da crise, segundo Sidney, os bancos anunciaram a prorrogação por 60 dias de todos os vencimentos de dívidas dos clientes que estavam em dia com suas obrigações.

Isso sem prejuízo de todos os processos normais de renegociação que​ estavam em curso antes da crise. Tanto os bancos privados quanto os públicos anunciaram também, uma nova linha​ de crédito para financiamento da folha de pagamento de pequenas e médias​ empresas (com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões).

 

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O risco e o​ funding dessa linha, de R$ 40 bilhões, serão compartilhados entre o Tesouro​ Nacional e os bancos na proporção de 85% e 15%, respectivamente.​

“Esse é um exemplo muito significativo de cooperação entre os setores público e​ privado”, salientou Sidney.

Essa nova linha ainda depende de aprovação de uma​ medida provisória mas os bancos pretendem disponibiliza-la ainda nos primeiros​ dias de abril.​

“Os bancos trabalham com análise de risco. E o risco de toda economia, brasileira e​ mundial, mudou tudo nas últimas semanas. As bolsas caíram fortemente de suas​ máximas históricas. O mercado de câmbio tem outra precificação. Veja o que​ aconteceu com o dólar aqui no Brasil. A expectativa de crescimento do PIB brasileiro​ e mundial desabou. Nesse contexto, há uma reprecificação geral do risco, aqui e lá​ fora”, admitiu o presidente da Febraban.​

“Os bancos estão agindo e vão agir para preservar, em primeiro lugar, vidas, além​ dos empregos das pessoas e das empresas”, disse Sidney.

“Não seremos apenas​ meros partícipes, os bancos não pouparão esforços para apoiar a sociedade nesta​ crise.”​

O presidente da Febraban ressaltou, também, que seja na crise ou fora dela, o papel​ do sistema bancário é se manter líquido e saudável para evitar um efeito contágio e​ uma crise sistêmica.​

Ele considerou, ainda, que sem contar o setor de saúde, “sem dúvida nenhuma, o​ setor bancário foi o que mais se mobilizou e contribuiu não só para a crise de saúde,​ mas também para a recuperação econômica mais rapidamente possível”.

Disse que​ são milhares de pessoas trabalhando para que a população tenha suas​ necessidades financeiras atendidas.

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Foto: BNC Amazonas