Amazônia: ouro vira motor do crime organizado no Brasil e na América Latina

Na era dos crimes digitais, o ouro ilegal emerge como motor silencioso e lucrativo do crime organizado na Amazônia.

Adrissia Pinheiro, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 25/06/2025 às 10:54 | Atualizado em: 25/06/2025 às 11:08

A extração e o comércio ilegais de ouro estão se consolidando como uma das principais frentes de atuação do crime organizado no Brasil e em outros países da América Latina. Impulsionada pela alta do preço do metal no mercado internacional, a atividade clandestina na Amazônia cresce de forma acelerada, associando-se a redes de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, trabalho escravo e degradação ambiental.

Segundo Mark Shaw, diretor da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, com sede em Genebra, o comércio ilícito de ouro é hoje um dos mercados que mais chamam atenção de autoridades e especialistas.

“O que está ocorrendo agora é uma expansão em vários mercados relativamente novos, sendo o comércio ilícito de ouro provavelmente o mais proeminente”, afirmou Shaw em entrevista ao jornal Valor Econômico.

Ele destaca a região amazônica, especialmente no Brasil, Peru e Colômbia, como epicentro dessa nova dinâmica do crime transnacional.

A expansão ilegal ocorre em territórios já fragilizados por ausência do Estado, violência e vulnerabilidade social.

Na bacia do rio Tapajós, no Pará, por exemplo, estima-se que dois terços do ouro sejam extraídos sem qualquer controle legal.

Facções criminosas utilizam rotas já conhecidas do narcotráfico para escoar o metal e financiar outras atividades ilícitas, em um sistema que opera dentro e fora das fronteiras nacionais.

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Danos ambiental e social

Além dos danos ambientais provocados pelo uso de mercúrio, desmatamento e contaminação de rios, há impactos severos sobre a população local.

Um relatório da ONU revelou que cerca de 40% dos garimpeiros atuam em condições análogas à escravidão, e mais de 70% sofrem com distúrbios mentais ligados ao trabalho.

Também foram registrados casos de exploração sexual de mulheres e adolescentes nas áreas de garimpo.

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Como combater?

O cenário está sendo discutido nestes dias 24 e 25 de junho, em São Paulo, durante a conferência “Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina: Construindo uma Agenda de Ação”, com a participação de pesquisadores, autoridades e lideranças políticas.

O evento busca construir propostas concretas para enfrentar essa nova frente do crime organizado.

Apesar de algumas iniciativas de controle, como a exigência de notas fiscais eletrônicas, o rastreamento da origem do ouro ainda é ineficaz.

Estima-se que até 80% do ouro produzido na Amazônia entre no mercado de forma ilegal, o que evidencia a urgência por políticas públicas que combinem repressão, transparência e proteção social.

Sem um sistema eficaz de rastreabilidade e combate ao garimpo clandestino, o Brasil arrisca ver sua maior floresta convertida em território de expansão do poder paralelo.

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Foto: Polícia Federal/divulgação