Mas, com quais itens sonham as crianças?

O mundo bovino é ainda muito masculino

Dassuem Nogueira, especial para o BNC Amazonas

Publicado em: 26/06/2023 às 15:05 | Atualizado em: 26/06/2023 às 15:36

Os itens dos bois, masculinos, femininos e coletivos, compõem o imaginário infantil. Mas, como parte de uma sociedade machista, racista e outros istas, os bois também o são.

O mundo bovino é ainda muito masculino. A ver, por exemplo, que não existe artista de ponta do universo feminino que assine alegoria. Embora existam trabalhadoras nos galpões, elas não ocupam o protagonismo das criações. Entre os compositores, as mulheres se contam nos dedos de uma mão.

Os itens individuais femininos defendem cada uma sua temática. Porém, cunhã-poranga (mulher bonita em nheengatu, língua indígena intertribal), rainha do folclore, porta-estandarte e sinhazinha da fazenda, carregam ainda o tom de misses de beleza. Elas foram introduzidas no espetáculo na década de 1980, pois não são personagens do auto do boi.

Ao contrário dos itens individuais masculinos, levantador, apresentador e amo do boi, elas não têm voz na arena. Contudo, ao longo dos festivais, têm estendido seu valor com performances de dança cada vez mais especializadas. Elas usam outra linguagem para comunicar o seu empoderamento. Definitivamente, não são apenas um rostinho bonito.

Mas, são! E é muito importante para as meninas de Parintins verem seus rostos indígenas como ícones de beleza. Pois o padrão comumente comercializado ainda é o branco e loiro.

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Meninas vaqueiras

Por serem pesadas, entende-se que as mulheres não são capazes de carregar os cerca de vinte quilos das lanças da vaqueirada. Porém, essa é uma barreira que começa a ser quebrada.

A corte dos bois começa a ter também vaqueiras. E nesse lugar agora também podem sonhar mulheres e meninas em fazer a honrosa guarda de seu boi.

Na passeata do Garantido, no dia 24 de junho, o boi segue envolto pelos vaqueiros oficiais do boi. Sem cavalinhos e lanças, eles fazem um cordão de mãos. Vão abrindo passagem na multidão para a sua evolução nas fogueiras.

A depender do tumulto, qualquer pessoa é chamada a compor o cordão. Eu mesma fui capturada nessa função. Ao me verem, mulher entre os homens, duas meninas seguraram em minhas mãos. Brinquei com elas todo o caminho.

“Quer dizer que tu tá guardando o Garantido? Vocês aguentam uma lança?”. Elas se olhavam e riam, balançando a cabeça que sim.

Fotos: Secom/Parintins