Sigilo centenĂ¡rio de Pazuello tentou preservar EB e seu comandante

A CGU atendeu recurso da Folha e, na prĂ¡tica, derruba em parte a decisĂ£o do ExĂ©rcito de impor um sigilo de 100 anos sobre o caso.

Vai cair sigilo do Exército sobre atitudes do general Pazuello

Publicado em: 24/08/2021 Ă s 15:54 | Atualizado em: 24/08/2021 Ă s 15:54

O sigilo de 100 anos do procedimento administrativo do ExĂ©rcito Brasileiro sobre o caso do general Eduardo Pazuello tentou preservar o ex-ministro da SaĂºde e o comandante da Força, o general Paulo SĂ©rgio Nogueira de Oliveira. Assim como o prĂ³prio ExĂ©rcito, nos preceitos e hierarquia.

No entanto, a CGU (Controladoria-Geral da UniĂ£o) enviou na noite de ontem (23) Ă  Folha de S.Paulo cĂ³pia de documento em que determina que o ExĂ©rcito forneça os extratos do procedimento administrativo que livrou de puniĂ§Ă£o o general da ativa Eduardo Pazuello.

Isso, portanto, em um prazo mĂ¡ximo de 20 dias.

Dessa forma, a CGU atendeu parcialmente a recurso apresentado pela Folha por meio da Lei de Acesso Ă  InformaĂ§Ă£o e, na prĂ¡tica, derruba em parte a decisĂ£o do ExĂ©rcito de impor um sigilo de 100 anos sobre o caso.

Por isso, em sua decisĂ£o, a CGU destacou argumentos feitos pelo ExĂ©rcito para a manutenĂ§Ă£o do sigilo. Por exemplo, a afirmaĂ§Ă£o de que a publicidade dos documentos irĂ¡ afetar a imagem do seu comandante. Como destaca o site NotĂ­cias ao Minuto.

“[O comando do ExĂ©rcito] defendeu que (…) a questĂ£o em tela [o sigilo de 100 anos] objetiva preservar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem do oficial [Pazuello], bem como resguardar os preceitos constitucionais da hierarquia e da disciplina, no Ă¢mbito das Forças Armadas”, diz o texto citado na instruĂ§Ă£o do caso pela CGU.

A instruĂ§Ă£o da controladoria prossegue:

“A divulgaĂ§Ă£o de processo administrativo disciplinar afeta a imagem do superior hierĂ¡rquico [o general Paulo SĂ©rgio] com reflexos na liderança e menoscabo dos preceitos hierĂ¡rquicos e disciplinares, imprescindĂ­veis Ă  sobrevivĂªncia das Forças Armadas”.

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Caso

Ou seja, em maio, Pazuello, entĂ£o jĂ¡ ex-ministro da SaĂºde, subiu em um palanque no Rio de Janeiro ao lado de Bolsonaro. Conforme a reportagem divulgada pelo NotĂ­cias ao Minuto.

Na ocasiĂ£o, o presidente atacou as medidas de prevenĂ§Ă£o Ă  covid e, ao lado do general, afirmou: “Meu ExĂ©rcito jamais irĂ¡ Ă s ruas para manter vocĂªs dentro de casa.”

Nesse sentido, a vedaĂ§Ă£o de participaĂ§Ă£o em atos polĂ­ticos, existente para militares da ativa, estĂ¡ prevista no regulamento disciplinar do ExĂ©rcito. Isso, vigente por decreto desde 2002, e no Estatuto dos Militares, uma lei em vigor desde 1980.

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NĂ£o puniĂ§Ă£o do ExĂ©rcito

Desse modo, a decisĂ£o de nĂ£o punir Pazuello foi do comandante do ExĂ©rcito. Ele cedeu Ă  pressĂ£o de Bolsonaro, que agiu para que o aliado nĂ£o fosse punido.

EntĂ£o, a costura da absolviĂ§Ă£o passou pelo gabinete do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto.

Depois do episĂ³dio, portanto, Pazuello ganhou um cargo no PalĂ¡cio do Planalto.

Foto: Leopoldo Silva /AgĂªncia Senado