‘Quer ganhar eleição? É só botar a culpa na Marina Silva’
Declaração foi da própria ministra do Meio Ambiente diante de ataques de bolsonaristas, como Alberto Neto

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 02/07/2025 às 22:24 | Atualizado em: 02/07/2025 às 22:26
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, voltou a ser atacada, desta vez por deputados federais, e criticada pelo não asfaltamento da BR-319, que liga Manaus, no Amazonas, a Porto Velho, em Rondônia.
Em audiência de sete horas de duração, marcada por um clima tenso, na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira, 2 de julho, Marina Silva considerou que foi alvo de várias grosserias e que foi terrivelmente desrespeitada por parlamentares.
Quando foi questionada pelo deputado federal Alberto Neto (PL-AM) sobre sua posição contrária ao asfaltamento dos 400 quilômetros – trecho do meio – da BR-319, a ministra reagiu dizendo que agora ela é o bode expiatório da não realização dessa obra.
“Isso está sendo dito desde 2013. Mas, é fácil ter um bode expiatório, porque fica fácil também ganhar a eleição. É só botar a culpa na Marina. Eu virei o maior cabo eleitoral de algumas pessoas nessas regiões. Não fazem [a BR-319] por incompetência, falta de compromisso e a culpa é da Marina e vai ser para os próximos séculos, não tem problema”.
No entanto, Marina ressaltou que o ministro dos Transportes, Renan Filho, está empenhado em realizar os estudos de impactos ambientais da obra s e todas as etapas necessárias, contrastando com a inação dos quatro anos do governo Bolsonaro, que ela caracterizou como incompetência.
Avaliação ambiental
Em uma resposta contundente às críticas do deputado Aberto Neto, a ministra desmentiu acusações de paralisação da obra e acusou gestões anteriores de inação e incompetência na realização dos estudos ambientais necessários.
A ministra utilizou a BR-319 como um exemplo central de sua defesa, afirmando que, desde 2003, ela tem defendido a avaliação ambiental estratégica para os 400 quilômetros da rodovia.
Segundo ela, essa avaliação é uma ação complexa que exige a colaboração com o Ministério do Transporte.
A ministra foi enfática ao criticar o histórico de lentidão e inação na condução desses processos. Ela afirmou que a avaliação ambiental estratégica não foi realizada durante os quatro anos do governo Bolsonaro e os dois anos do governo Temer, e que a licença prévia para a obra só foi obtida no último segundo do segundo tempo.
“A interpretação da minha posição [sobre a BR-319], frequentemente resumida como contra a obra, é equivocada. Se você é favorável desde que, a leitura é que é contra. Eu estou dizendo o que é para fazer”, declarou Marina Silva.
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Governança na BR-319
Contrariando as críticas, a ministra assegurou que o atual governo, sob a liderança do presidente Lula, está fazendo agora avaliação ambiental estratégica, em colaboração com o ministro do Transporte, Renan Filho.
Ela ressaltou o enorme esforço para ter governança ao longo da estrada e explicou que a rodovia deve ser construída com governança para não ter que ter a criminalidade.
Isso, segundo ela, implica na contratação de bons estudos e no envolvimento de instituições acadêmicas e de pesquisa da região, como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).
Queimadas e incêndios
Ainda na longa audiência pública, Marina atribuiu o aumento das queimadas a incêndios criminosos e seca extrema.
“De fato, nós tivemos em 2024 um aumento dos incêndios no Brasil. Esse aumento de incêndio se deu em função de um extremo climático e não afetou apenas o Brasil, afetou o mundo inteiro”, afirmou a ministra.
“Qualquer pessoa que não seja negacionista sabe que a seca com baixa precipitação, temperatura alta, perda de umidade potencializa os incêndios”.
Desmatamento
A ministra do Meio Ambiente também apontou redução do desmatamento na Amazônia e no país como um todo, embora tenha sido abordada pelo presidente da comissão e autor do requerimento de audiência, o deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS).
Ele firmou que, sob a gestão de Marina, o desmatamento na Amazônia aumentou 482%. “As queimadas bateram recorde, e sua resposta tem sido o silêncio ou a burocracia”.
A ministra rebateu:
“O Ibama aumentou sua capacidade de fiscalização em 96%, o ICMBio aumentou sua capacidade de fiscalização em mais de 200%, nós aumentamos os nossos orçamentos, fizemos concursos, temos inúmeras operações, milhares de operações quando envolve terra indígena, desmatamento, exploração de madeira”.
Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil