Por que será que Trump poupou vistos de Fux, Mendonça e Nunes Marques?

EUA poupam três ministros do STF de sanção: gesto tem leitura política

Da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 19/07/2025 às 15:20 | Atualizado em: 19/07/2025 às 15:20

A decisão do governo dos Estados Unidos de revogar os vistos de entrada de oito dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) gerou forte impacto político e diplomático, mas chamou atenção o fato de três ministros não terem sido atingidos: André Mendonça, Kassio Nunes Marques e Luiz Fux.

O gesto, longe de ser casual, tem sido interpretado como um recado político direto à composição e conduta do Supremo.

Queridinhos de Trump

Entre os três preservados da medida, dois — Mendonça e Nunes Marques — foram indicados por Jair Bolsonaro ao STF e costumam adotar posicionamentos alinhados à ala conservadora do tribunal.

Já Luiz Fux, embora indicado por Lula em 2009, é frequentemente associado a uma postura moderada e institucionalista, e evitou protagonismos nas recentes decisões contra o ex-presidente.

Ao isentar esses nomes da retaliação diplomática, os EUA de Donald Trump sinaliza apoio indireto à ala bolsonarista do Supremo e reforça uma crítica implícita à atuação de ministros como Alexandre de Moraes, acusado por aliados de Trump e Bolsonaro de extrapolar os limites constitucionais.

Mensagem política

Fontes próximas ao Partido Republicano afirmam, sob reserva, que os ministros poupados representam o que consideram o “eixo da contenção” dentro do STF — ou seja, aqueles que, na visão deles, atuaram com mais moderação em casos sensíveis envolvendo liberdade de expressão, combate às fake news e investigações sobre atos antidemocráticos.

Na prática, o gesto divide o Supremo e reforça um discurso adotado pela direita internacional: o de que o STF brasileiro teria se transformado em um tribunal político, onde alguns ministros atuariam como agentes de repressão ideológica.

Trump fortalece aliados

A exclusão de Moraes, Barroso, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Fachin, Toffoli, Zanin e Flávio Dino do circuito diplomático com os EUA se dá no contexto de um reposicionamento global promovido por Donald Trump, que busca construir pontes com forças conservadoras nos países latino-americanos.

A “poupança seletiva” de três ministros visa também reforçar a imagem de que não se trata de sanção contra o Judiciário como um todo, mas contra uma parte dele — aquela que, na avaliação de Washington, concentrou poder excessivo e atuou politicamente contra a direita populista brasileira.

Fux preservado

A presença de Luiz Fux entre os não atingidos intriga setores políticos.

Apesar de não integrar a ala bolsonarista, explícitamente, Fux tem histórico de críticas ao ativismo judicial e, nos bastidores, buscou moderar embates entre Judiciário e Executivo nos últimos anos.

Sua inclusão entre os “poupados” pode ser lida como um sinal de respeito ao equilíbrio institucional, ainda que seja difícil dissociar o gesto de suas decisões mais recentes, menos duras contra Bolsonaro.

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Reações e consequências

O gesto americano já repercute nos bastidores do STF, onde ministros consideram a medida “um ataque à soberania judicial do país”.

No entanto, a exclusão dos três nomes tende a gerar constrangimento interno e aprofundar fissuras no tribunal.

Politicamente, a direita tenta explorar o gesto como prova de que há parcialidade no Supremo, enquanto o governo Lula trata o episódio como uma afronta diplomática de viés ideológico, “uma medida arbitrária”.

Gesto claro

Ao deixar de fora os ministros considerados mais moderados ou alinhados ao conservadorismo, os Estados Unidos cravam um gesto político inédito contra a cúpula do Judiciário brasileiro.

A exclusão de André Mendonça, Nunes Marques e Luiz Fux parece menos um acaso e mais uma declaração de princípios do novo governo Trump, com impactos diretos sobre a política doméstica do Brasil e sobre a imagem institucional do STF.

Foto: divulgação/STF