PF aponta fortes indĂcios que Ricardo Salles estĂ¡ envolvido em corrupĂ§Ă£o
OperaĂ§Ă£o Akuanduba, deflagrada na semana passada, tem tambĂ©m como alvo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

Publicado em: 26/05/2021 Ă s 17:56 | Atualizado em: 27/05/2021 Ă s 12:04
A PolĂcia Federal (PF) afirma, em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que hĂ¡ indĂcios de prĂ¡tica de crimes por parte do presidente do Ă³rgĂ£o Ibama, Eduardo Fortunato Bim, e de outros servidores da Ă¡rea.
As provas foram obtidas na investigaĂ§Ă£o sobre o MinistĂ©rio do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenovĂ¡veis (Ibama)
Segundo a PF, facilitaĂ§Ă£o de contrabando, advocacia administrativa e dificuldades Ă aĂ§Ă£o de fiscalizaĂ§Ă£o ambiental do poder pĂºblico sĂ£o “crimes jĂ¡ configurados” por Bim Ă frente do Ă³rgĂ£o.
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O Ibama Ă© responsĂ¡vel por fiscalizar crimes ambientais.
HĂ¡ suspeitas de outros crimes. Neste caso, as investigações precisam ser aprofundadas.
As afirmações constaram de documento enviado ao STF e obtido pela Folha, a partir do qual o ministro Alexandre de Moraes autorizou a OperaĂ§Ă£o Akuanduba, deflagrada na semana passada e que tem tambĂ©m como alvo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Sobre Salles, no mesmo documento, a PF afirma existirem “fortes indĂcios de envolvimento [nas suspeitas] do atual ministro do Meio Ambiente”.
Servidor afastado
Por determinaĂ§Ă£o de Alexandre de Moraes, Bim foi afastado do cargo por 90 dias.
O presidente do Ibama participou de reuniĂ£o com empresĂ¡rios e congressistas em que se discutiu modelo menos rigoroso de fiscalizaĂ§Ă£o para a exportaĂ§Ă£o de madeira.
Um despacho interpretativo flexibilizou a exportaĂ§Ă£o de madeira, em fevereiro de 2020. O despacho tambĂ©m foi suspenso pelo STF.
“Cremos que a documentaĂ§Ă£o e demais dados coligidos nos presentes autos”, disse a PF, “apontam, fortemente, para a possĂvel existĂªncia de grave esquema de facilitaĂ§Ă£o ao contrabando de produtos florestais, dentre outros crimes”.
Datado de 25 de fevereiro, o despacho da presidĂªncia do Ibama eliminou a exigĂªncia de autorizaĂ§Ă£o de exportaĂ§Ă£o de madeira por parte do Ă³rgĂ£o ambiental federal, com a exceĂ§Ă£o de espĂ©cies sob risco de extinĂ§Ă£o.
A pedido da PF, esse despacho foi suspenso em carĂ¡ter liminar (provisĂ³rio) por Moraes.
Flexibilizando normas
Uma das principais crĂticas ao despacho de Bim era que ele permitia a exportaĂ§Ă£o apenas com os documentos de transporte, como guias florestais emitidas pelos governos estaduais e facilmente fraudadas.
Os principais estados produtores de madeira nativa, Mato Grosso e ParĂ¡, nĂ£o estĂ£o integrados ao Sinaflor (Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais), como prevĂª o CĂ³digo Florestal, de 2012.
A polĂcia afirmou que “as circunstĂ¢ncias e os acontecimentos que antecederam e se sucederam Ă emissĂ£o do referido despacho” revelam “empenho pessoal do presidente do Ibama” no sentido de atender a demanda apresentada por empresas interessadas em legalizar exportações jĂ¡ realizadas.
Esvaziamento do Ibama
Para os investigadores, ficou tambĂ©m demostrada, sob o comando de Bim, uma gestĂ£o voltada ao esvaziamento do Ibama, notadamente dos setores incumbidos da fiscalizaĂ§Ă£o.
Em nota sobre as suspeitas leventadas pela PF, o Ibama afirmou que “os fatos serĂ£o plenamente esclarecidos nos autos do inquĂ©rito”.
O advogado de Salles, Fernando Fernandes, disse que “todas as questões relativas Ă investigaĂ§Ă£o serĂ£o prestadas nos autos do inquĂ©rito, tĂ£o logo se tenha acesso”.
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Foto: ReproduĂ§Ă£o/ Twitter/ Ricardo Salles