MPF move 12 novas ações na rota da operaĂ§Ă£o Maus Caminhos

11 Maus Caminhos ex-secretĂ¡rios

Publicado em: 23/10/2018 Ă s 17:41 | Atualizado em: 23/10/2018 Ă s 17:41

O MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) apresentou Ă  Justiça Federal nove novas ações de improbidade administrativa e trĂªs ações criminais contra empresĂ¡rios, servidores pĂºblicos, ex-secretĂ¡rios de governo e empresas envolvidas em desvios milionĂ¡rios de recursos da saĂºde do Amazonas, revelados a partir da operaĂ§Ă£o Maus Caminhos.

Superfaturamento em serviços prestados, pagamentos efetivados sem a contraprestaĂ§Ă£o do serviço e pagamento de propina a agentes pĂºblicos estĂ£o entre as condutas que levaram o MPF a ajuizar as ações.

O empresĂ¡rio e mĂ©dico Mouhamad Moustafa e a empresĂ¡ria Priscila Marcolino Coutinho, que integravam a cĂºpula da organizaĂ§Ă£o criminosa que articulou os desvios, sĂ£o rĂ©us em todas as ações de improbidade e criminais.

Entre os rĂ©us nas ações de improbidade administrativa estĂ£o tambĂ©m as empresas Salvare, D. de Azevedo Flores, Alessandro Viriato Pacheco e AmazĂ´nia Serviços e ComĂ©rcio, fornecedoras do Instituto Novos Caminhos (INC).

Para o MPF, elas receberam pagamentos superfaturados por serviços prestados a unidades de saĂºde administradas pelo INC: UPA Campos Sales, em Manaus; Centro de ReabilitaĂ§Ă£o em DependĂªncia QuĂ­mica Ismael Abdel Aziz (CRDQ), em Rio Preto da Eva; e maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga.

 

Superfaturamento chegava a 100%

Segundo o ministério, as investigações demonstraram que as empresas incluíam nas notas fiscais dos serviços prestados percentual que variava de 33 a 100% do valor real do serviço.

O valor superfaturado, apĂ³s o pagamento oficial ao fornecedor, era sacado no banco e entregue, em espĂ©cie, a Priscila e a Moustafa, para benefĂ­cio prĂ³prio deles ou para pagamento de propina a terceiros.

Outra situaĂ§Ă£o identificada pelas investigações foi a de pagamento realizado a fornecedor sem a devida contraprestaĂ§Ă£o do serviço.

Um dos casos foi o recebimento de mais de R$ 1,5 milhĂ£o por parte da empresa Salvare em razĂ£o de suposto fornecimento de software hospitalar ao CRDQ que nĂ£o chegou a ser entregue.

HĂ¡ tambĂ©m, segundo o MPF, um contrato de prestaĂ§Ă£o de serviços assistenciais, incluindo tĂ©cnicos de enfermagem, farmacĂªuticos, psicĂ³logos, cuidadores, enfermeiros, entre outros serviços, firmado pelo INC com a Salvare para atendimento a demandas do CRDQ, cujo pagamento sem a prestaĂ§Ă£o do serviço foi identificado em R$ 2,7 milhões.

A empresa D. de Azevedo Flores teria recebido mais de R$ 780 mil do INC sem emissĂ£o de notas fiscais por prestaĂ§Ă£o de serviços.

Nas ações que envolvem pagamentos superfaturados ou sem a contraprestaĂ§Ă£o do serviço a unidades de saĂºde administradas pelo INC, os diretores que assinaram as notas fiscais atestando os serviços tambĂ©m figuram como rĂ©us.

 

Pagamento de propina

Outras trĂªs ações de improbidade administrativa envolvem pagamento de propina a ex-secretĂ¡rios do Governo do Estado e servidores pĂºblicos estaduais em troca de benefĂ­cios para as empresas vinculadas Ă  organizaĂ§Ă£o.

O MPF requer nas ações a responsabilizaĂ§Ă£o da cĂºpula da organizaĂ§Ă£o, responsĂ¡vel pelo pagamento de mais de R$ 5 milhões em propina, dos servidores pĂºblicos e dos ex-secretĂ¡rios Evandro Melo (Sead/administraĂ§Ă£o) e Afonso Lobo (Sefaz/fazenda), suspeitos de receber os valores.

Empresas utilizadas para ocultar os pagamentos e seus responsĂ¡veis legais tambĂ©m foram processados pelo MPF nas ações de improbidade.

 

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Ações criminais

O superfaturamento praticado pelas empresas D. de Azevedo Flores, AmazĂ´nia Serviços e ComĂ©rcio e Salvare tambĂ©m foi alvo de trĂªs ações criminais ajuizadas pelo MPF.

AlĂ©m de Moustafa e Priscila, sĂ£o rĂ©us os ex-presidentes do INC (Jennifer Naiyara Silva e Paulo Roberto GalĂ¡cio), os empresĂ¡rios Alessandro Viriato Pacheco e Davi Flores, e a ex-diretora da UPA Campos Sales MĂ¡rcia Alessandra Nascimento.

O MPF pediu Ă  Justiça Federal a condenaĂ§Ă£o dos rĂ©us pelo crime de peculato, previsto no artigo 312 do CĂ³digo Penal, e Ă  reparaĂ§Ă£o dos danos causados com a devoluĂ§Ă£o dos valores recebidos indevidamente, que ultrapassam R$ 8 milhões.

As ações seguem em tramitaĂ§Ă£o na Justiça Federal. Os nĂºmeros das ações para acompanhamento na Justiça sĂ£o:

1004257-59.2018.4.01.3200 – Réus: Alessandro Viriato, Davi Flores, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva, D de Azevedo Flores – ME e Instituto Novos Caminhos.

1004270-58.2018.4.01.3200 – RĂ©us: MĂ¡rcia Alessandra Nascimento, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva, Salvare Serviços MĂ©dicos Ltda. e Instituto Novos Caminhos.

1004261-96.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Alessandro Viriato, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva, Paulo Roberto GalĂ¡cio, Alessandro Viriato Pacheco – EPP e Instituto Novos Caminhos.

1004265-36.2018.4.01.3200 – Réus: Pablo Gnutzmann, Aila Maria Souza, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva, Salvare Serviços Médicos Ltda. e Instituto Novos Caminhos.

1004268-88.2018.4.01.3200 – Réus: Pablo Gnutzmann, Paulo César Almeida de Souza, Rossycleia Silva, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva, Salvare Serviços Médicos Ltda. e Instituto Novos Caminhos.

1004258-44.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Davi Flores, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva, Paulo Roberto GalĂ¡cio, D de Azevedo Flores – ME e Instituto Novos Caminhos.

1004272-28.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Isaac Bemerguy, Ney Jefferson Barroso de Souza, Bianca Montezuma Rodrigues, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva, Paulo Roberto GalĂ¡cio, Barroso e Reis Ltda – ME, Salvare Serviços MĂ©dicos Ltda. e Instituto Novos Caminhos.

1004278-35.2018.4.01.3200 – Réus: Evandro Melo, Marinete Mendes, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho e Jennifer Naiyara Silva.

1004279-20.2018.4.01.3200 – Réus: Afonso Lobo, Sílvio Barbosa de Assis, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Lorcam Consultoria Financeira Ltda – ME e VG de Assis Fato Online – ME.

0014271-22.2018.4.01.3200 – Réus: Alessandro Viriato, Davi Flores, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho e Jennifer Naiyara Silva.

0013542-93.2018.4.01.3200 – RĂ©us: Alessandro Viriato, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho, Jennifer Naiyara Silva e Paulo Roberto GalĂ¡cio.

0014401-12.2018.4.01.3200 – RĂ©us: MĂ¡rcia Alessandra Nascimento, Mouhamad Moustafa, Priscila Coutinho e Jennifer Naiyara Silva.

 

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Saiba mais sobre a Maus Caminhos e suas etapas

Em 2016, a operaĂ§Ă£o Maus Caminhos desarticulou um grupo que desviava recursos pĂºblicos por meio de contratos firmados com o governo do estado para a gestĂ£o de trĂªs unidades de saĂºde em Manaus, Rio Preto da Eva e Tabatinga, feita pelo INC, instituiĂ§Ă£o qualificada como organizaĂ§Ă£o social.

As investigações que deram origem Ă  operaĂ§Ă£o demonstraram que, dos quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de SaĂºde (FNS) ao Fundo Estadual de SaĂºde (FES), mais de R$ 250 milhões teriam sido destinados ao INC.

A apuraĂ§Ă£o indicou o desvio de, pelo menos, R$ 50 milhões em recursos pĂºblicos, alĂ©m de pagamentos a fornecedores sem contraprestaĂ§Ă£o ou por serviços e produtos superfaturados, movimentaĂ§Ă£o de grande volume de recursos via saques em espĂ©cie e lavagem de dinheiro pelos lĂ­deres da organizaĂ§Ă£o criminosa.

AtĂ© agora, mais 40 ações penais resultantes da operaĂ§Ă£o Maus Caminhos jĂ¡ foram ajuizadas pelo MPF na Justiça Federal, uma delas com condenaĂ§Ă£o judicial cujas penas, somadas, ultrapassam 36 anos de prisĂ£o.

O MPF ajuizou tambĂ©m mais de 40 ações de improbidade administrativa decorrentes da investigaĂ§Ă£o.

As operações Custo PolĂ­tico, Estado de EmergĂªncia e Cashback, desdobramentos da operaĂ§Ă£o Maus Caminhos, mostraram, ainda, o envolvimento de agentes pĂºblicos, polĂ­ticos da alta cĂºpula do Executivo estadual, entre eles o ex-governador JosĂ© Melo, e pessoas ligadas a agentes pĂºblicos em um esquema de propina criado para acobertar e colaborar com os desvios feitos pelo grupo que geria as unidades de saĂºde, liderado pelo mĂ©dico Mouhamad Moustafa.

Fonte: MPF/Assessoria de comunicaĂ§Ă£o

 

Foto: ReproduĂ§Ă£o/TV