MPF pede 136 anos de prisĂ£o para Pedro Elias e 26 para Alecrim

Publicado em: 22/05/2018 Ă s 11:51 | Atualizado em: 22/05/2018 Ă s 12:15
O MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) no Amazonas denunciou criminalmente Ă Justiça Federal os ex-titulares da Secretaria de Estado de SaĂºde (Susam) Wilson Alecrim e Pedro Elias de Souza por envolvimento em desvios de verbas da saĂºde estadual.
De acordo com as investigações, os ex-agentes pĂºblicos receberam propina, paga com dinheiro pĂºblico, para colaborar com o esquema de corrupĂ§Ă£o revelado pela OperaĂ§Ă£o Maus Caminhos, que era coordenado pelo mĂ©dico Mouhamad Moustafa e pela empresĂ¡ria Priscila Marcolino, tambĂ©m alvos das denĂºncias criminais.
A participaĂ§Ă£o dos agentes pĂºblicos nos desvios de verba foi revelada em dezembro de 2017, a partir da deflagraĂ§Ă£o da OperaĂ§Ă£o Custo PolĂtico, desdobramento da OperaĂ§Ă£o Maus Caminhos.
Nas ações penais encaminhadas Ă Justiça, o MPF pede a condenaĂ§Ă£o dos denunciados pelos crimes de corrupĂ§Ă£o ativa e passiva e tambĂ©m ao pagamento de multa e de mais de R$ 5 milhões como reparaĂ§Ă£o pelos danos causados ao patrimĂ´nio pĂºblico.
Caso seja condenado, a pena de Pedro Elias de Souza pode chegar a 136 anos de prisĂ£o, em decorrĂªncia de vantagens recebidas por diversos meios – dinheiro em espĂ©cie, passagens aĂ©reas, diĂ¡rias em hotĂ©is e vantagens a terceiros.
JĂ¡ Mouhamad e Priscila podem ser condenados a atĂ© 162 anos de reclusĂ£o cada um. Para Wilson Alecrim, que foi beneficiado com dinheiro em espĂ©cie, a pena mĂ¡xima Ă© estimada em 26 anos. As ações penais tramitam na 4ª Vara da Justiça Federal do Amazonas e aguardam decisĂ£o judicial.
DistribuiĂ§Ă£o de propina
Como secretĂ¡rio de saĂºde do Estado, cargo no qual permaneceu entre os anos de 2010 e 2015 – abrangendo duas gestões de governo – Wilson Alecrim foi peça-chave nos processos de seleĂ§Ă£o e qualificaĂ§Ă£o do Instituto Novos Caminhos (INC) como organizaĂ§Ă£o social, alĂ©m da celebraĂ§Ă£o de contratos de gestĂ£o pelo INC das unidades de saĂºde, contribuindo para que a entidade saĂsse vencedora nos processos de chamamentos pĂºblicos realizados pela secretaria e, consequentemente, fosse destinatĂ¡ria de recursos pĂºblicos, destaca o MPF nas denĂºncias.
Segundo as investigações, o valor mensal da propina paga Wilson Alecrim era de mais de R$ 133 mil em espĂ©cie, de forma sistemĂ¡tica e ininterrupta, conforme foi constatado em mensagens de texto trocadas entre Mouhamad e Priscila.
O montante total recebido por Alecrim é estimado em R$ 2,2 milhões, correspondente a valores recebidos entre fevereiro de 2015 e setembro de 2016.
JĂ¡ o mĂ©dico Pedro Elias de Souza, que assumiu a Secretaria de Estado de SaĂºde (Susam) em julho de 2015, apĂ³s a saĂda de Wilson Alecrim, tambĂ©m exercia atuaĂ§Ă£o relevante dentro do mesmo nĂºcleo, podendo assinar aditivos aos contratos mantidos pelo INC e as outras empresas comandadas por Mouhamad Moustafa, alĂ©m de fiscalizar contratos.
Em retribuiĂ§Ă£o Ă s facilidades concedidas ao instituto e Ă s empresas, Pedro Elias recebia, mensalmente, R$ 100 mil. Estima-se que, sozinho, o ex-secretĂ¡rio tenha recebido ao menos R$ 1,6 milhĂ£o em propina, alĂ©m de vantagens direcionadas a familiares dele, como viagens, pagamento de hospedagens em hotĂ©is, transferĂªncias bancĂ¡rias vultosas e atĂ© disponibilizaĂ§Ă£o de seguranças.
Custo PolĂtico
Em dezembro do ano passado, a PolĂcia Federal cumpriu, em quatro estados brasileiros, trĂªs mandados de prisĂ£o preventiva, nove mandados de prisĂ£o temporĂ¡ria, 27 mandados de busca e apreensĂ£o, 27 conduções coercitivas e 18 mandados de sequestro de bens mĂ³veis e imĂ³veis, determinados pela Justiça.
A aĂ§Ă£o, que contou com o apoio do MPF e da Controladoria-Geral da UniĂ£o, foi deflagrada para investigar a participaĂ§Ă£o de agentes pĂºblicos – dentre eles cinco secretĂ¡rios estaduais – em esquema de propina que desviou cerca de R$ 20 milhões em recursos destinados Ă saĂºde no estado.
O nome da operaĂ§Ă£o faz referĂªncia Ă expressĂ£o usada por Mouhamad Moustafa para denominar a propina paga aos ex-secretĂ¡rios.
AlĂ©m do repasse de valores, tambĂ©m foram identificados outros tipos de benefĂcios usufruĂdos pelos investigados como retribuiĂ§Ă£o por contribuĂrem com o esquema, como vinhos de alto valor, ingressos para shows de artistas nacionais e jogos da Copa do Mundo de 2014, diĂ¡rias de hotĂ©is de luxo em BrasĂlia e no Rio de Janeiro e disponibilizaĂ§Ă£o de carros de luxo com motorista em SĂ£o Paulo.
Maus Caminhos
Em 2016, a OperaĂ§Ă£o Maus Caminhos desarticulou um grupo que possuĂa contratos firmados com o governo do estado para a gestĂ£o da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, em Manaus; da Maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga; e do Centro de ReabilitaĂ§Ă£o em DependĂªncia QuĂmica (CRDQ) do Estado do Amazonas, em Rio Preto da Eva.
A gestĂ£o dessas unidades de saĂºde era feita pelo Instituto Novos Caminhos (INC), instituiĂ§Ă£o qualificada como organizaĂ§Ă£o social.
As investigações que deram origem Ă operaĂ§Ă£o demonstraram que dos quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de SaĂºde (FNS) ao Fundo Estadual de SaĂºde (FES), mais de R$ 250 milhões teriam sido destinados ao INC.
A apuraĂ§Ă£o indica o desvio de R$ 50 milhões em recursos pĂºblicos, alĂ©m de pagamentos a fornecedores sem contraprestaĂ§Ă£o ou por serviços e produtos superfaturados, movimentaĂ§Ă£o de grande volume de recursos via saques em espĂ©cie e lavagem de dinheiro pelos lĂderes da organizaĂ§Ă£o criminosa.
Texto: MPF
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Fotos: BNC Amazonas