Manobra do Congresso por “pedalada” ao orçamento Ă© levada ao TCU

A aprovaĂ§Ă£o do orçamento, na semana passada, com acrĂ©scimo de mais R$ 26 bilhões Ă s emendas parlamentares acendeu o sinal de "pedalada fiscal" e impeachment

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Publicado em: 29/03/2021 Ă s 15:38 | Atualizado em: 29/03/2021 Ă s 15:38

Uma suposta manobra feita e aprovada no Congresso Nacional ao orçamento de 2021 serĂ¡ levada Ă  apreciaĂ§Ă£o do Tribunal de Contas da UniĂ£o (TCU). Tanto um grupo de parlamentares quanto o MinistĂ©rio da Economia estĂ£o dispostos a buscar essa consulta.

A aprovaĂ§Ă£o, na semana passada, com acrĂ©scimo de mais R$ 26 bilhões Ă s emendas parlamentares acendeu o sinal de “pedalada fiscal” e ameaça de impeachment, caso seja sancionado pelo presidente da RepĂºblica.

Dessa forma, o impasse em torno da pedalada nas despesas obrigatĂ³rias na votaĂ§Ă£o do orçamento deve ser judicializado no TCU, conforme reportagem do EstadĂ£o, republicada pelo Correio Braziliense.

Grupo de parlamentares se movimenta para apresentar, ainda nesta segunda-feira, 29, representaĂ§Ă£o na corte de contas para obter posicionamento sobre a legalidade da manobra feita para turbinar emendas parlamentares.

Congresso na contramĂ£o 

Na contramĂ£o das projeções oficiais do governo, que indicavam a necessidade de revisar esses gastos para cima, o Congresso cortou despesas obrigatĂ³rias para abrir espaço artificialmente e incluir a demanda de emendas parlamentares.

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O foco central Ă© saber se a execuĂ§Ă£o do orçamento pelo presidente Jair Bolsonaro se configurarĂ¡ em crime fiscal.

Nesse caso, o presidente teria de vetar o orçamento para ajustar as despesas às projeções do Ministério da Economia. 

A manobra nas despesas obrigatĂ³rias foi feita para acomodar R$ 26 bilhões de emendas do relator geral, senador MĂ¡rcio Bittar (MDB-AC).

Assim sendo, elevou-se o valor total das emendas parlamentares para R$ 51,6 bilhões (o maior nĂ­vel histĂ³rico), de acordo com levantamento mais recente da lei orçamentĂ¡ria aprovada na quinta-feira.

Congresso esquiva-se 

Com a aĂ§Ă£o no TCU, o grupo quer barrar tambĂ©m o discurso de que a responsabilidade pela aprovaĂ§Ă£o do orçamento Ă© do Congresso.

Dessa forma, o que se quer evitar Ă© que, no futuro, o presidente Bolsonaro diga que nĂ£o tem culpa de que os congressistas tenham aprovado uma lei orçamentĂ¡ria irresponsĂ¡vel.

HĂ¡ uma pressĂ£o polĂ­tica para o veto do presidente como medida corretiva. Se o presidente nĂ£o vetar, terĂ¡ de sustentar as razões pelas quais tomou essa decisĂ£o.

Sombra do impeachment 

O mesmo grupo jĂ¡ enviou carta ao presidente Bolsonaro, na sexta-feira, cobrando explicações sobre como o governo vai cumprir o teto de gastos, regra constitucional que limita o avanço das despesas Ă  inflaĂ§Ă£o, sem recorrer Ă  “pedalada fiscal”, que resultaria em crime de responsabilidade, passĂ­vel de impeachment. 

Para o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), o que se espera Ă© que o TCU dĂª uma saĂ­da para a revisĂ£o do orçamento.

“Se o orçamento continuar assim, vai dar tudo errado”, previu. O tribunal jĂ¡ determinou, no passado recente, que algumas despesas nĂ£o fossem pagas. 

Para o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), a representaĂ§Ă£o cobra uma posiĂ§Ă£o sobre as despesas obrigatĂ³rias, jĂ¡ que o tribunal teve posiĂ§Ă£o decisiva nas “pedaladas” do governo Dilma Rousseff.

O ex-presidente da CĂ¢mara ressaltou que o TCU precisa deixar claro que estĂ¡ ocorrendo o retorno do orçamento criativo. 

O deputado Vinicius Poit (Novo-SP), que assinou a carta ao presidente, informou que o partido terĂ¡ uma reuniĂ£o hoje para decidir se vai entrar com o pedido no TCU.

Ministério também recorre

Escaldados pelo processo que condenou as “pedaladas fiscais” cometidas no governo Dilma Rousseff – e que acabaram resultando no impeachment -, a Ă¡rea tĂ©cnica do MinistĂ©rio da Economia tambĂ©m cogita recorrer ao TCU no episĂ³dio do orçamento de 2021.

Os gestores nĂ£o querem ser responsabilizados e jĂ¡ falam internamente no risco de “apagĂ£o das canetas” (quando ninguĂ©m quer assinar um documento com medo de ser responsabilizado), segundo apurou o EstadĂ£o/Broadcast. 

HĂ¡ um acĂ³rdĂ£o do TCU que determina que conste no orçamento o quanto serĂ¡ gasto em cada operaĂ§Ă£o.

Uma das alternativas apontadas pelos tĂ©cnicos do governo Ă© que haja determinaĂ§Ă£o de que certas despesas obrigatĂ³rias nĂ£o possam ser modificadas.

Responsabilizados 

A AssociaĂ§Ă£o Nacional dos Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento, que representa Analistas e TĂ©cnicos de Planejamento e Orçamento (Assecor), se antecipou ao problema.

Em nota pĂºblica, diz que admitirĂ¡ que os profissionais de planejamento e orçamento sejam responsabilizados pelas manobras contĂ¡beis feitas na lei orçamentĂ¡ria.

A categoria diz que a forma como a lei foi aprovada representou um verdadeiro “acinte Ă  transparĂªncia no trato da coisa pĂºblica”.

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Foto: Pablo Valadares/CĂ¢mara dos Deputados – 25/3/2021