Embora sem chilique de Braga, base de Bolsonaro quer cabeça de FlĂ¡via
Na reta final do ano, uma promessa nĂ£o cumprida para liberar cerca de R$ 600 milhões para projetos patrocinados por parlamentares nos estados entornou o caldo

Publicado em: 04/01/2022 Ă s 16:14 | Atualizado em: 04/01/2022 Ă s 20:51
O ano terminou em clima de insatisfaĂ§Ă£o no grupo de WhatsApp dos lĂderes partidĂ¡rios da CĂ¢mara dos Deputados, e o motivo das queixas Ă© a ministra FlĂ¡via Arruda, da Secretaria de Governo.
Embora integrante do PL e ex-presidente da ComissĂ£o Mista de Orçamento, Arruda prometeu e nĂ£o cumpriu compromissos nos Ăºltimos meses, segundo duas lideranças que integram o grupo. Para piorar, na Ăºltima semana nĂ£o atendeu o celular.
Isso irritou deputados como Hugo Motta, lĂder do Republicanos, partido que faz parte da base do governo Jair Bolsonaro. Em mensagem postada no grupo na semana passada, ele avisou aos colegas que, a partir de agora, defenderĂ¡ a demissĂ£o da ministra e que o governo que nĂ£o conte com ele, nem com seu partido.
Leia mais
Ministra agredida chama gritos de Braga de ‘machismo atrasado’
Motta foi o relator da PEC dos PrecatĂ³rios na CĂ¢mara, que passou com uma vantagem de apenas quatro votos alĂ©m do mĂnimo necessĂ¡rio no primeiro turno da votaĂ§Ă£o.
Ele nĂ£o Ă© o Ăºnico insatisfeito. Sob reserva, outros dois deputados relataram o clima azedo, que contaminou atĂ© parlamentares do PL e do PP. Juntos, os partidos formam o tripĂ© de sustentaĂ§Ă£o do governo Bolsonaro no Congresso.
HĂ¡ menos de um mĂªs, Arruda foi cobrada pelo lĂder do MDB no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), pela liberaĂ§Ă£o de emendas num episĂ³dio em que o parlamentar ofendeu a ministra pelo telefone.
“Na minha bancada nĂ£o tem um deputado satisfeito. NĂ£o Ă© sĂ³ questĂ£o de orçamento, mas tambĂ©m uma falta de respeito na relaĂ§Ă£o com os deputados da base”, diz Hugo Motta (Republicanos-PB). “A gente quer um ministro que cumpra os acordos”.
Ele afirma que o governo passou meses prometendo resolver pedidos de parlamentares para nomeações nos estados e nĂ£o entregou.
Na reta final do ano, uma promessa nĂ£o cumprida para liberar cerca de R$ 600 milhões para projetos patrocinados por parlamentares nos estados entornou o caldo.
A verba seria enviada via investimentos voluntĂ¡rios do MinistĂ©rio da Agricultura, mas o ano acabou e o dinheiro nĂ£o foi empenhado (o que significa que nem a primeira fase do gasto pĂºblico foi cumprida). Em outras palavras, a dĂvida nĂ£o serĂ¡ paga.
A aliados, FlĂ¡via Arruda tem dito que a culpa Ă© do MinistĂ©rio da Economia, que deveria ter feito uma portaria liberando a verba, mas nĂ£o fez. Um assessor de Paulo Guedes afirma, porĂ©m, que esse pedido nunca existiu.
“Quem pilotou o orçamento de 2021 foi ela e nĂ£o viu isso?”, questiona outro deputado, sob reserva. Arruda presidiu a comissĂ£o que elaborou o orçamento de 2021 e deixou o comitĂª para assumir a vaga no PalĂ¡cio do Planalto.
Agora Motta e outros lĂderes querem que Bolsonaro troque a ministra antes do previsto, o que deveria ocorrer somente em abril – como concorrerĂ¡ na eleiĂ§Ă£o deste ano, Arruda Ă© obrigada a deixar o cargo. O mais provĂ¡vel hoje Ă© que ela tente uma vaga para o Senado, pelo Distrito Federal.
Apesar da insatisfaĂ§Ă£o de Motta, ele nĂ£o pretende que a vaga seja entregue ao Republicanos. “Essa vaga Ă© do PL”, diz ele.
Leia mais no O Globo
Foto: Marcello Casal Jr/AgĂªncia Brasil