“Economia liberal nĂ£o existe e Bolsonaro nĂ£o quer acabar ZFM”, diz Omar

Senador diz que tucano José Serra planejou acabar a ZFM

CPI PSD Omar

Publicado em: 17/01/2020 Ă s 05:00 | Atualizado em: 17/01/2020 Ă s 05:21

Neuton CorrĂªa, Israel Conte e Aguinaldo Rodrigues, da RedaĂ§Ă£o

 

O senador Omar Aziz (PSD) criticou nesta quinta-feira, dia 16, a profissĂ£o de fĂ© do ministro da Economia, Paulo Guedes, que tenta acabar com os incentivos fiscais da indĂºstria da Zona Franca de Manaus (ZFM) baseado na ideia da nĂ£o intervenĂ§Ă£o estatal na produĂ§Ă£o.

“NĂ£o existe isso de fazer uma economia liberal. Essa economia liberal, falada, Ă© da boca pra fora. NĂ£o tem forma de isso acontecer nem aqui nem em lugar nenhum. Todos os paĂ­ses tĂªm subsĂ­dios. A França subsidia o vinho, a Inglaterra, a Holanda. Todo mundo subsidia”, disse o parlamentar, em entrevista que concedeu ao site BNC Amazonas.

Omar disse que atĂ© as superpotĂªncias China e Estados Unidos protegem suas economias.

“Os Estados Unidos nĂ£o zeram a renĂºncia fiscal”, citou, em seguida lembrando a guerra comercial entre os dois paĂ­ses:

“Sabe por que a guerra com a China? Porque a China subsidia os produtos. A China exporta alguns bilhões para os Estados Unidos. A balança comercial Estados Unidos-China Ă© muito favorĂ¡vel Ă  China e os Estados Unidos disseram: ‘Eles estĂ£o levando nosso dinheiro e nĂ£o compram nada da gente’. AĂ­ o Trump se posicionou em defesa dos Estados Unidos”.

A crĂ­tica Ă© parte dos argumentos do senador para que o governo federal mantenha os crĂ©ditos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do polo de concentrados da ZFM, sob o risco de acontecer o que jĂ¡ aconteceu com a Pepsi, que deixou o Amazonas assim que o ex-presidente cortou Ă  metade a renĂºncia tributĂ¡ria para o setor.

 

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“Para onde a Pepsi foi? Foi para o Uruguai, nĂ£o foi pra SĂ£o Paulo. Saiu de Manaus e foi para fora do Brasil”, disse ele, advertindo para o que pode acontecer com as multinacionais Coca-Cola e Ambev.

“Se a Coca-Cola deixar de produzir concentrado em Manaus, ela nĂ£o vai se mudar para outro estado. Ela vai voltar para os Estados Unidos e exportar concentrado para o Brasil, pagando IPI de 4%”, comentou o senador, lembrando que a cadeia produtiva dessas duas marcas emprega uma grande mĂ£o-de-obra no interior do Amazonas.

Segundo ele, sĂ£o mais de 2 mil trabalhadores sĂ³ no municĂ­pio de Presidente Figueiredo, a 107 quilĂ´metros de Manaus. Para Omar, a saĂ­da dessas duas marcas da ZFM pode mandar um recado de desestĂ­mulo ao mercado em relaĂ§Ă£o ao modelo implantado no Amazonas.

 

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Corredor da morte

Sobre o recuo do governo na reduĂ§Ă£o do crĂ©dito de IPI de 10 para 4%, que o presidente voltou atrĂ¡s prometendo um novo decreto para fixar o incentivo em 8%, com escalonamento que vai levar o subsĂ­dio Ă  extinĂ§Ă£o, o senador disse que isso serĂ¡ mortal para o setor e para toda a indĂºstria instalada na ZFM.

“Assim, vocĂª estĂ¡ dizendo o dia que ela vai morrer. VocĂª coloca esse setor no corredor da morte e diz: ‘Olha, vocĂª vai ter que entrar hoje, o ano que vem a tua vida vai diminuir e daqui a dois anos vocĂª vai ser morto'”.

Para ele, essa situaĂ§Ă£o gera insegurança jurĂ­dica no polo industrial do Amazonas.

“Isso cria uma sĂ©rie de problemas para quem trabalha, para os trabalhadores do distrito industrial, para os trabalhadores de qualquer setor, porque isso Ă© uma insegurança jurĂ­dica muito grande. Por um decreto do presidente se pode acabar com um segmento todo, que produz na zona franca e que gera emprego”.

 

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Bolsonaro e ZFM

Apesar de apontar as dificuldades no trato do tema, o senador Omar Aziz poupa o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele foca sua crĂ­tica na equipe econĂ´mica do governo.

“O presidente Bolsonaro nĂ£o quer a ZFM acabada, mas ele tem uma equipe econĂ´mica muito difĂ­cil da gente tratar”.

Ainda poupando o chefe do Executivo, ele disse que, historicamente, a ZFM sempre foi atacada.

“NĂ£o Ă© uma questĂ£o de Bolsonaro. As pessoas precisam conhecer um pouco da histĂ³ria da Suframa [SuperintendĂªncia da Zona Franca de Manaus]. NĂ£o Ă© o Bolsonaro”.

E completou dizendo que a ZFM sĂ³ nĂ£o acabou porque o ex-ministro do governo do presidente da RepĂºblica Fernando Henrique Cardoso, o paulista JosĂ© Serra, hoje senador do PSDB-SP, perdeu a eleiĂ§Ă£o.

“Se preparou para acabar com a zona franca quando botaram o Mauro Costa aqui, que foi superintendente da Suframa [1996-1999], colocado aqui pelo Serra. SĂ³ nĂ£o acabou porque o Lula ganhou a eleiĂ§Ă£o. Se o Serra tivesse ganhado a eleiĂ§Ă£o, a ZFM jĂ¡ teria acabado”.

 

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Trama passava pelo controle do PPB

Omar contou o que sabe sobre essa histĂ³ria, que atacava a definiĂ§Ă£o dos processos produtivos bĂ¡sicos (PPB) do polo industrial da ZFM, ainda hoje definidos em BrasĂ­lia.

“Olha qual foi a jogada: colocaram o Mauro Costa aqui na superintendĂªncia da Suframa. Ele chegou aqui como se fosse o paladino da moralidade. A primeira coisa que ele fez foi tirar a discussĂ£o do PPB de Manaus e jogar para BrasĂ­lia”.

Com essa decisĂ£o, acrescentou Omar, Serra colocou a palavra final sobre os PPB da ZFM nas mĂ£os de SĂ£o Paulo, estado considerado inimigo do modelo.

“Com os ministĂ©rios da IndĂºstria e ComĂ©rcio e de CiĂªncia e Tecnologia para discutir o PPB, aĂ­ nĂ£o era mais uma decisĂ£o dos amazonenses. Passou a ser uma discussĂ£o feita por paulistas e outras regiões”.

 

 

 

 

Picaretas da AfrebrĂ¡s

Nessa entrevista exclusiva ao BNC Amazonas, o senador apontou artilharia para a AssociaĂ§Ă£o dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (AfrebrĂ¡s), da qual diz ter sido alvo de ataque por causa de sua atuaĂ§Ă£o em defesa da ZFM.

“A AfrebrĂ¡s fez uma matĂ©ria contra mim, atacando a minha famĂ­lia, a minha mulher, usando uma sĂ©rie de coisas que atĂ© hoje nĂ£o foi provado absolutamente nada. Eu estou me defendendo e Ă© um direito que eu tenho, e eu vou morrer me defendendo dessas acusações”.

Omar diz que foi escolhido como alvo por causa da força que tem no Congresso Nacional, como presidente da ComissĂ£o de Assuntos EconĂ´micos do Senado (CAE), alĂ©m de ser o coordenador da bancada parlamentar do Amazonas.

“A AfrebrĂ¡s sabe da força que eu tenho em BrasĂ­lia para defender. Se fosse um zĂ© qualquer, eles nĂ£o iam perder tempo. EntĂ£o, a AfrebrĂ¡s, que Ă© um bando de empresas picaretas, de fundo de quintal, principalmente do ParanĂ¡ e Santa Catarina, criou atĂ© uma frente de parlamentares no Congresso para atacar a Zona Franca de Manaus”.

 

Fotos: BNC Amazonas