Brasil lidera reação global contra Trump e arranca apoio de 40 países na OMC
Aliança internacional fortalece discurso brasileiro e isola política de coerção tarifária dos EUA.

Da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 25/07/2025 às 10:15 | Atualizado em: 25/07/2025 às 10:15
O Brasil assumiu, nesta semana, a linha de frente em uma articulação política e diplomática inédita na Organização Mundial do Comércio (OMC), ao denunciar o uso de tarifas comerciais como instrumento de retaliação política — sem citar nominalmente os Estados Unidos, mas mirando diretamente as recentes medidas anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump contra produtos brasileiros. A resposta brasileira teve eco imediato: cerca de 40 países, entre eles China, Índia, Rússia, Austrália, Canadá e membros da União Europeia, declararam apoio público à posição do Brasil.
A manifestação brasileira foi feita nesta terça-feira (23 de julho) pelo secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, Philip Fox‑Drummond Gough, em discurso contundente no conselho-geral da OMC, em Genebra.
O diplomata criticou a imposição unilateral de tarifas como “atalho perigoso para a guerra econômica” e alertou para o risco de que o sistema multilateral seja desvirtuado por práticas autoritárias.
As tarifas anunciadas por Trump, que visam especialmente o Brasil com alíquotas de até 50% a partir de 1º de agosto, foram justificadas pelo republicano como uma reação ao que chamou de “perseguição política” a Jair Bolsonaro. A fala do ex-presidente norte-americano, feita por meio de sua rede social em 9 de julho, associou abertamente as medidas econômicas a um posicionamento ideológico em defesa do aliado brasileiro — revelando, portanto, um uso explícito da política comercial como ferramenta de ingerência externa.
Alinhamento político e resposta
O episódio representa mais do que uma disputa comercial: expõe um embate entre dois modelos de política externa.
De um lado, o governo de Trump, que promove ações unilaterais, personalistas e com forte conteúdo ideológico; de outro, o Brasil, que buscou reunir apoio internacional para construir uma resposta dentro do marco institucional multilateral, inclusive acionando os mecanismos de solução de controvérsias da OMC.
Nos bastidores, o Itamaraty articulou previamente a fala de Genebra com diversos países e blocos econômicos, o que garantiu o amplo apoio demonstrado durante a sessão.
A diplomacia brasileira trabalhou para isolar politicamente Trump no cenário internacional, sem comprometer o canal de diálogo com autoridades comerciais dos Estados Unidos.
A estratégia também envolveu o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, que se reuniu recentemente com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, em tentativa de despressurizar a relação bilateral.
Após o encontro, Alckmin descreveu o diálogo como “bom e frutífero”, embora nenhuma sinalização de recuo tenha sido apresentada pela Casa Branca.
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Impactos e reação interna
Na esfera econômica, os setores mais afetados pela medida incluem agronegócio, energia, tecnologia e indústria aeronáutica.
Para conter os impactos, o governo brasileiro prepara um pacote emergencial de crédito para empresas exportadoras, conforme antecipado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A resposta será baseada na nova Lei de Reciprocidade Comercial, aprovada neste ano.
O endurecimento do discurso brasileiro na OMC também reforça o posicionamento do presidente Lula da Silva, que, apesar das pressões internas para adotar um tom mais agressivo, optou por consolidar apoio no cenário internacional e preservar a imagem do Brasil como defensor do sistema de comércio baseado em regras.
Trump x Brics
O enfrentamento com o Brasil ocorre em um momento de reconfiguração geopolítica. Ao atacar diretamente um dos principais membros do BRICS — bloco que inclui também Rússia, China, Índia e África do Sul — Trump acirra a polarização global e eleva os riscos de um novo ciclo de confrontos comerciais com motivações políticas.
Mais do que uma resposta pontual a Trump, a ação do Brasil foi interpretada como uma defesa estratégica do multilateralismo diante da ameaça de um novo isolacionismo agressivo nos EUA. A ampla adesão à fala brasileira sugere que há espaço para resistências coordenadas à lógica de coerção tarifária como ferramenta de intimidação política.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil