Bolsonaro Ă© ingrato com o Amazonas

O presidente venceu a eleiĂ§Ă£o no Amazonas; recebeu quase 66% dos votos da capital, mas retribui o apoio com perseguiĂ§Ă£o aos amazonenses

Bolsonaro Ponte Sàƒo Gabriel da Cachoeira

Neuton CorrĂªa, do BNC AMAZONAS

Publicado em: 07/04/2022 Ă s 07:04 | Atualizado em: 08/04/2022 Ă s 08:56

O presidente Jair Bolsonaro (PL) retribui com ingratidĂ£o a vitĂ³ria que obteve no Amazonas nas eleições de 2018.

Ele venceu o pleito mesmo sendo um ilustre desconhecido da grande maioria dos amazonenses.

Apenas isso jĂ¡ seria suficiente para mostrar a confiança que o povo daqui lhe creditou.

Mas o grau dessa confiança pode ser ressaltado na quantidade de votos que ele recebeu naquela eleiĂ§Ă£o. Foram 686.999 votos, que representaram mais da metade dos eleitores do Amazonas.

Manaus nem se fala. A capital, onde mora mais da metade dos 4,2 milhões dos habitantes do Estado, foi ainda mais generosa com Bolsonaro. Isso porque a cidade lhe deu quase 66% dos votos de seus eleitores.

E o tempo estĂ¡ mostrando que aquela votaĂ§Ă£o nĂ£o foi acidental. NĂ£o. As pesquisas publicadas atĂ© aqui mostram que o presidente ainda tem a maioria dos votos dos amazonenses, sendo Manaus sua principal fortaleza eleitoral.

Seus eleitores lhe expressam lealdade, apesar de nĂ£o terem visto uma grande obra de seu governo. Seu Ăºnico projeto no Estado foi uma ponte de madeira na zona rural de SĂ£o Gabriel da Cachoeira, cuja inauguraĂ§Ă£o custou mais cara do a execuĂ§Ă£o da pinguela.
Mais que lealdade, a confiança que seus eleitores demostram é de fidelidade. Isso, de fiel, talvez de devotos.

Basta ver que essa fidelidade tolera promessas nĂ£o cumpridas, como, por exemplo, a de concluir as obras da BR-319. A estrada piorou.

Chantagem

O problema é que Bolsonaro, agora, abusa dos votos, da confiança, da lealdade e da fidelidade do povo amazonense.

Abusa do povo do qual jĂ¡ faz parte por condiĂ§Ă£o polĂ­tica. Bolsonaro Ă© amazonense. A ALE-AM lhe deu o tĂ­tulo.

Mas ele estĂ¡ boicotando a cidade que lhe deu uma votaĂ§Ă£o consagradora e chantageando o estado mais leal a seu governo.

Faz isso quando segura R$ 1,1 bilhĂ£o de investimentos para Manaus, apenas por ter recebido fofoca de que o prefeito da cidade apareceu ao lado de seus adversĂ¡rios, embora seus aliados tambĂ©m estivessem tido la.

Faz isso com o Amazonas, quando cria insegurança aos investidores tirando as vantagens comparativas dos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus por meio do decreto de reduĂ§Ă£o do IPI.

Mostra sua ingratidĂ£o agora, quando mira artilharia contra o polo de bebidas, um dos maiores segmentos do Polo industrial de Manaus e o Ăºnico do PIM a gerar empregos diretos no interior do Amazonas.

É exatamente isso: Bolsonaro agora avalia cortar os incentivos fiscais do polo de concentrados.

Essa Ă© a indĂºstria do PIM que compra o guaranĂ¡ de MauĂ©s e regiĂ£o; que compra a cana de aĂ§Ăºcar de Presidente Figueiredo.

Mais que isso. É o setor que compra o açaí que é produzido em todos os municípios amazonenses.

Enfim, Bolsonaro fragiliza a economia do Estado e mostra nĂ£o ter nenhum compromisso com o Ăºnico modelo de desenvolvimento regional do paĂ­s que militares de espĂ­ritos elevados criaram para descentralizar as riquezas do Brasil.

E nĂ£o contente em prejudicar o modelo, agora o presidente joga o Estado contra todas as unidades da FederaĂ§Ă£o. Assim age, quando diz que a ZFM e os polĂ­ticos do Amazonas tentam impedir o desenvolvimento do paĂ­s por causa da renĂºncia fiscal que a ZFM recebe.

Mentira: a ZFM Ă© apenas 8% do tal de renĂºncia tributĂ¡ria do governo. AlĂ©m disso, Ă© superavitĂ¡ria.

Ainda mais pior Ă© que o presidente prejudica a populaĂ§Ă£o do Amazonas, tomando-a de refĂ©m com o propĂ³sito de retaliar seus adversĂ¡rios polĂ­ticos regionais.

A Zona Franca de Manaus nĂ£o Ă© projeto de polĂ­tico. Ela Ă© um projeto de PaĂ­s.

NĂ£o Ă© possĂ­vel esperar outra coisa de Bolsonaro, nem sequer espĂ­rito republicano, porque o espĂ­rito que lhe domina Ă© o de porco.

Assim sendo, vĂª-se que o presidente tornou-se ingrato com todos aqueles que dele, em 2018, esperavam ao menos consideraĂ§Ă£o. Ao contrĂ¡rio, em troca, entregou perseguiĂ§Ă£o.

PorĂ©m, a ingratidĂ£o tem preço e o tempo poderĂ¡ lhe cobrar a fatura.

Foto: Marcos CorrĂªa/PR