Bolsonaro ouve cutucadas de Dodge, ignora-a e afaga chefe do STF

Publicado em: 06/11/2018 Ă s 14:26 | Atualizado em: 06/11/2018 Ă s 14:26

O presidente eleito Jair Bolsonaro retornou a BrasĂ­lia, nesta terça-feira (6), com recepĂ§Ă£o de poucos amigos. O ambiente nĂ£o era dos melhores: jornalistas barrados no Congresso, discurso contra motes da campanha eleitoral dele, alĂ©m de ignorar a fala da procuradora-geral da RepĂºblica, Raquel Dodge. Em contraponto, ele era sĂ³ alegria aos cochichos como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

A lista do cerimonial do Congresso tinha cerca de mil convidados para a sessĂ£o solene desta terça. Mas Ă s 9h50, quando Jair Bolsonaro (PSL) chegou Ă  CĂ¢mara, eram poucos os que estavam ali para recebĂª-lo, conforme publicou PolĂ­tica ao Minuto com informações da Folhapress.

A sessĂ£o, que comemorou os 30 anos da ConstituiĂ§Ă£o de 1988, estava marcada com antecedĂªncia e as terças-feiras costumam ser movimentadas em BrasĂ­lia, mas, desta vez, parlamentares e seus assessores comentavam o baixo quĂ³rum diante do sucessor de Michel Temer.

Timidamente aplaudido, Bolsonaro parecia nĂ£o se importar. Sentado Ă  ponta direita da mesa do plenĂ¡rio, disse que estava feliz em “rever velhos amigos” e “fazer novas amizades”.

Acenava ali ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, com quem trocou cochichos durante toda a sessĂ£o.

O chefe do Supremo, casa Ă  qual um dos filhos de Bolsonaro disse que bastavam “um cabo e um soldado” para fechĂ¡-la, fez um discurso ameno para o presidente eleito.

Disse acreditar que o capitĂ£o reformado cumprirĂ¡ a ConstituiĂ§Ă£o. E foi aplaudido por ele.

 

Procuradora-geral

JĂ¡ a procuradora-geral da RepĂºblica, Raquel Dodge, nĂ£o teve o mesmo destino.

Bolsonaro nĂ£o a olhou nem aplaudiu enquanto a autoridade mĂ¡xima do MinistĂ©rio PĂºblico Federal dizia que nĂ£o basta “reverenciar” a ConstituiĂ§Ă£o: “É preciso cumpri-la”, sentenciou.

Em pĂ© na tribuna, Dodge deu vĂ¡rios recados a Bolsonaro ao defender as minorias, o meio ambiente e a liberdade de imprensa, temas caros a ele.

O presidente eleito teve sua trajetĂ³ria polĂ­tica baseada em crĂ­ticas aos direitos humanos, por exemplo, alĂ©m de estudar agora a fusĂ£o dos ministĂ©rios da Agricultura e do Meio Ambiente, o que provocou crĂ­ticas entre ativistas e atĂ© entre seus apoiadores do agronegĂ³cio.

 

Desarmamento

A favor tambĂ©m do esvaziamento do estatuto do desarmamento, Bolsonaro foi instado por aliados que estavam no plenĂ¡rio a reproduzir com as mĂ£os uma arma, gesto que se tornou marca de sua campanha.

Sorriu e o fez rapidamente, mas logo o trocou por um coraĂ§Ă£o formado com os dedos.

Esta foi a primeira vez que Bolsonaro viajou a BrasĂ­lia desde o fim da eleiĂ§Ă£o -a Ăºltima foi em 5 de setembro, vĂ©spera do atentado a faca que sofreu em Juiz de Fora (MG).

Pousou perto das 9h de aviĂ£o da FAB (Força AĂ©rea Brasileira) e foi direto, em comitiva escoltada pela PolĂ­cia Federal, para a Praça dos TrĂªs Poderes.

Passou pelo tapete vermelho cercado de seguranças e apoiadores, como o senador Magno Malta (PR-ES), o deputado federal eleito Alexandre Frota (PSL-SP) e o ex-deputado JoĂ£o Caldas (PSC-AL).

Sorriu e acenou, mas, mais uma vez, evitou a imprensa que, atĂ© minutos antes do inĂ­cio da sessĂ£o, era impedida de ter acesso ao plenĂ¡rio.

Era um pedido da segurança de Bolsonaro. AtĂ© entĂ£o, acatado pela cĂºpula do Congresso.

EunĂ­cio Oliveira (MDB-CE), presidente do Senado, foi quem ordenou o volta atrĂ¡s e liberou os jornalistas pouco antes de receber o presidente eleito e os chefes dos outros Poderes em seu gabinete, jĂ¡ perto das 10h.

 

O presidente eleito Jair Bolsonaro participa no Congresso Nacional da sessĂ£o solene em comemoraĂ§Ă£o aos 30 anos da ConstituiĂ§Ă£o Federal.
Foto: AntĂ´nio Cruz/ABr

 

Com quase meia hora de atraso, de lĂ¡ saĂ­ram EunĂ­cio, Temer, Bolsonaro, Toffoli, Dodge e o presidente da CĂ¢mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Este, por sua vez, fez vĂ­deos com o presidente eleito. JĂ¡ demonstrou “convergĂªncias” com Bolsonaro em diversos temas e tem se movimentado para ser reconduzido Ă  chefia da Casa.

O presidente eleito deve permanecer em Brasília até esta quinta-feira (8).

As reuniões previstas envolvem representantes das Forças Armadas e novos encontros com os chefes dos TrĂªs Poderes.

 

Foto: José Cruz/ABr