Arthur muda rumo da convenção do PSDB e frustra Alckmin

Por Rosiene Carvalho, Da Redação

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), mudou o rumo da convenção do PSDB neste sábado, dia 9, que pretendia, além de eleger o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como presidente nacional da sigla, lançar sua pré-candidatura à Presidência da República de 2018.

Para os planos de Alckmin e seus aliados, Arthur jogou um verdadeiro balde de água fria. Durante toda a semana, as principais lideranças tucanas, incluindo o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, deram entrevistas à mídia nacional dando como certo o anúncio da pré-candidatura de Alckmin à presidência. E, de certa forma, demonstrando ignorar as intenções de Arthur Virgílio.

Para os rumos de Arthur no ninho tucano, a convenção deste sábado representou verdadeira reviravolta. Além de frustrar a intenção de Alckmin sair do encontro como pré-candidato, de discursar em tempo igual aos demais membros da sigla, o prefeito de Manaus também garantiu assento na Executiva Nacional do Partido.

Foi uma reviravolta para quem, há seis meses, teve que ir para as redes socais se queixar de não ter sido convidado para reunião que o PSDB avaliava com suas principais lideranças os rumos da sigla no Governo Temer.

As lideranças tucanas permaneceram ignorando a opinião de Arthur até poucos dias atrás, quando resolveram acabar com as diferenças internas e se unificar em torno do nome de Alckmin para a presidência nacional da sigla.

Não convidado para o encontro, Arthur reagiu e disse que o PSDB deveria acabar com as “reuniõeszinhas”, se reavaliar para ajudar o País a tomar novos rumos.

Sem festa

Nos bastidores, no entanto, houve forte movimentação para tentar evitar que Arthur discursasse e mantivesse na convenção a defesa de prévias no PSDB para a indicação do candidato presidência da República. Alckmin escalou interlocutores para dissuadir Arthur da ideia.

Não tendo êxito, o próprio governador de São Paulo tentou conversar com prefeito de Manaus. Segundo matérias do jornal Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, Alckmin e Arthur tiveram uma “conversa ríspida” e demorada que entrou pela madrugada com a presença de outras lideranças tucanas, nesta sexta, dia 8.

De acordo com matéria da Folha de São Paulo, o tom ente Alckmin e Arthur alterou e foi preciso a intervenção do senador Tasso Jereissati (CE) para acalmar os ânimos. O jornal informa que Tasso e Arthur foram para outra sala e depois Alckmin os reencontrou.

No entanto, Arthur manteve sua decisão de disputar as prévias que foi defendida no discurso de cerca de dez minutos na convenção deste  sábado:

“Terei a honra para enfrentar e derrotar Geraldo Alckmin na disputa pela Presidência da República”, disse o prefeito de Manaus.

Prévias

Arthur defende que a convenção do PSDB será ampla e percorra vários estados para garantir a participação de mais de 1 milhão de militantes.

“A convenção será ampla. Não vai ser pequena. Votarão 1,2 milhão de pessoas. Nós teremos 10 debates nas principais cidades do País. Iremos fazer uma catarse desse partido. O partido não basta a si próprio, tem que se renovar”

Tucanos ouvidos pelo BNC fazem leitura do estatuto do PSDB indicando que a sigla não é obrigada a realizar prévias, mas garante que elas podem ocorrer caso haja mais de um candidato.

No entanto, a insistência de Arthur Neto numa escolha democrática, associada à exposição dos problemas internos da sigla na mídia podem piorar a imagem do partido, que também saiu muito arranha do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e das investigações da Lava-Jato.

Especialmente as que atingiram o senador Aécio Neves (PSDB), que era até hoje o presidente afastado da sigla. Aécio foi vaiado e ficou pouco tempo na convenção de seu partido.

Arthur portanto criou um grande constrangimento interno. Mas na votação e apoio que Alckmin recebeu na eleição para presidência nacional do PSDB teve mostra da força política que está desafiando.

O governador de São Paulo foi eleito presidente com 470 votos,  três votos contrários e uma abstenção. O primeiro vice-presidente, que assume na ausência de Alckmin, será o governador de Goiás, Marconi Perillo.

PSDB desacreditado

O prefeito de Manaus, depois  de ser vaiado, disse aos militantes tucanos que não se enganassem e que aquele ambiente da convenção não era a realidade do País.

“Nós estamos vivendo uma falsa realidade. Não vamos pensar que isso aqui é o Brasil. Porque o Brasil nos repudia hoje. Temos que nos encontrar com a sinceridade, reformas e decência. Tem que cortar na carne. Tem que punir quem praticar corrupção (…) O PSDB é hoje um partido mais desacreditado que os outros”, defendeu Arthur Neto.

Vaias

Ao ser vaiado no início do discurso, quando disse que ia derrotar Alckmin nas prévias, Arthur ironizou dizendo que “também tinha levado claque”. Disse também que seria melhor vaiar o pré-candidato à presidência e deputado federal Jair Bolsonaro, a quem chamou de “homofóbico e fascista”.

“Acho melhor vaiar o Bolsonaro e me aplaudam se eu vencer o Geraldo Alckmin nas prévias”, disse.

Sindicato dos corruptos

Artur também atacou o ex-presidente e pré-candidato à presidência Luís Inácio Lula da Silva. Disse que o “meliante” quer voltar à presidência e que Lula quase funda o “Sindicato dos Corruptos”.

“Não vejo que essa mediocridade binária entre Lula e Bolsonaro vá dar certo”, avaliou no discurso.

Reformas

Arthur também criticou a postura do PSDB de não tomar decisão favorável à reforma da previdência.

“O PSDB pratica a meu ver algo que me arrepia, quando o PSDB exita e fechar questão em defesa da reforma tributária. Temos que aprovar a reforma da previdência, sim. Dá voto, tira voto. O PSDB quando se formou não pensava em tirar e dar voto, pensava em servir ao Brasil”, disse Arthur no discurso da convenção.

 Manaus

Arthur Neto declarou, ainda, aos membros do PSDB na convenção que não estava “brincando de ser candidato” e elogiou a si próprio como gestor da “cidade mais equilibrada fiscalmente do País”.

“Não entro nas coisas para brincar. Jamais brinquei com o PSDB. Jamais brinquei com a coisa pública. Não brinco com a gestão de uma Manaus que é hoje a cidade mais equilibrada fiscalmente do País inteiro, que tem a melhor previdência pública do País inteiro”, disse.

Foto: Divulgação PSDB