PGR de Aras e LindĂ´ra Ă© cobrada pelo alinhamento com Bolsonaro
Dados da PGR dĂ£o conta que Aras estĂ¡ em constante conflito com procuradores que buscam investigar responsĂ¡veis por atos antidemocrĂ¡ticos

Publicado em: 10/01/2023 Ă s 10:23 | Atualizado em: 10/01/2023 Ă s 10:23
O gabinete do procurador-geral da RepĂºblica, Augusto Aras, extinguiu, em novembro do ano passado, grupos de investigaĂ§Ă£o do MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF) sobre a aĂ§Ă£o de extremistas polĂticos. A PGR tambĂ©m devolveu a procuradores nos estados pedidos de informações ao ExĂ©rcito e Ă PolĂcia de BrasĂlia sobre acampamentos em quartĂ©is. Em outro movimento, Aras acionou a corregedoria contra procuradores que buscavam no Supremo Tribunal Federal (STF) informações para alimentar esses inquĂ©ritos.
Aras Ă© criticado por colegas da PGR, e por procuradores de outras instĂ¢ncias, por demonstrar alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o nomeou. Procuradores e integrantes da PGR relataram ao EstadĂ£o que Aras tem demorado a agir, especificamente no caso dos atos de extremistas, por considerar que pode esbarrar em direitos como a liberdade de expressĂ£o dos manifestantes.
ApĂ³s os atos de vandalismo em BrasĂlia no domingo, 8, subprocuradores-gerais pediram, em ofĂcio, que PGR tome medidas “necessĂ¡rias Ă proteĂ§Ă£o do regime democrĂ¡tico”. No documento, Aras Ă© pressionado para buscar a responsabilizaĂ§Ă£o criminal do governador afastado Ibaneis Rocha (MDB). O ofĂcio Ă© assinado por dez subprocuradores-gerais da RepĂºblica.
Entrave
Documentos aos quais o EstadĂ£o teve acesso mostram que Aras estĂ¡ em constante conflito com procuradores que buscam investigar responsĂ¡veis por manifestações que questionam o resultado das eleições.
Em um dos casos, procuradores do Rio de Janeiro haviam feito um pedido endereçado ao STF e outro ao PGR, em um expediente usual, para obterem acesso a informações do inquĂ©rito das fake news, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. No documento, eles mencionam que estavam investigando “as manifestações com a finalidade de incitar forças militares a promoverem um golpe de Estado”.
AlĂ©m disso, os procuradores pediram o envio de informações obtidas pela PF, pela PRF, pelas PolĂcias Militar e Civil “quanto Ă identificaĂ§Ă£o de lideranças e veĂculos utilizados em bloqueios de rodovias fluminenses e manifestações realizadas em frente a unidades das Forças Armadas fluminenses”.
Chefe de gabinete de Aras, Darlan Airton Dias, procurador regional da RepĂºblica, encaminhou o pedido Ă Corregedoria do MPF para que o Ă³rgĂ£o avalie se houve “inobservĂ¢ncia de atribuiĂ§Ă£o legal conferida ao PGR”, por considerar que eles teriam atropelado as atribuições de Aras. A corregedora-geral, CĂ©lia Alvarenga, aliada de Aras, afirmou, em despacho, que os procuradores reduziram Aras a um “mero repassador de ato praticado por colega da carreira”.
Em outra investigaĂ§Ă£o, na esfera civil, onde nĂ£o hĂ¡ foro privilegiado, a Procuradoria dos Direitos do CidadĂ£o (PRDC) abriu procedimento para apurar responsabilidades sobre atos antidemocrĂ¡ticos em BrasĂlia, em novembro, apĂ³s o resultado das eleições.
TambĂ©m na condiĂ§Ă£o de expediente usual nesse tipo de inquĂ©rito, procuradores queriam oficiar o Comando do ExĂ©rcito, o MinistĂ©rio da Defesa, a Secretaria de Segurança PĂºblica de BrasĂlia e o Detran para que fornecessem informações e adotassem providĂªncias.
O chefe de gabinete de Aras, dessa vez, devolveu o documento sob a alegaĂ§Ă£o de que ela nĂ£o tinha atribuiĂ§Ă£o especĂfica para conduzir a investigaĂ§Ă£o. Segundo ele, esta deveria ser uma apuraĂ§Ă£o de competĂªncia criminal.
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Procuradores se queixam tambĂ©m da centralizaĂ§Ă£o de poderes dentro da PGR. Aras extinguiu no ano passado grupos criados em pelo menos trĂªs Estados e no Distrito Federal por procuradores-chefes do MPF para reforçar investigações sobre os atos antidemocrĂ¡ticos.
No lugar deles, Aras criou uma comissĂ£o na PGR que se reuniu apenas uma vez desde sua criaĂ§Ă£o atĂ© domingo, quando bolsonaristas invadiram os prĂ©dios pĂºblicos. Somente nesta segunda, 9, o PGR autorizou que procuradores de primeira instĂ¢ncia reforçassem o MPF no Distrito Federal, onde sĂ£o esperadas atĂ© mil audiĂªncias de custĂ³dia de presos apĂ³s os atos violentos.
Resposta
Por meio da assessoria de imprensa, a PGR afirmou que, no caso dos procuradores do Rio, “pela ConstituiĂ§Ă£o e pela Lei Complementar 75/93, quem atua no STF Ă© o PGR e o peticionamento direto constitui, em tese, uma violaĂ§Ă£o da legislaĂ§Ă£o”. JĂ¡ no caso da Procuradoria dos Direitos do CidadĂ£o, a PGR afirmou que o Ă³rgĂ£o “pretendia a obtenĂ§Ă£o de dados tĂpicos de investigaĂ§Ă£o criminal, sem ter atribuiĂ§Ă£o legal para isso”.
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Foto: Antonio Cruz/AgĂªncia Brasil