O acordo Embraer-Boeing serĂ¡ bom para o Brasil?

Publicado em: 06/02/2018 Ă s 09:54 | Atualizado em: 06/02/2018 Ă s 09:54
Por FĂ¡bio Augusto Jacob*
Em 21 de dezembro Ăºltimo foi noticiado que a Embraer, nossa empresa fabricante de aeronaves, e a Boeing estariam em negociações para uma possĂvel parceria. Antes de tomar um lado, a favor ou contra, vamos lembrar dois pontos importantes sobre o assunto.
O primeiro ponto Ă© sobre o mercado de aviaĂ§Ă£o. Inserido como meio de transporte indispensĂ¡vel, rĂ¡pido e seguro, o Ăºnico que permite Ă s pessoas conhecerem e fazerem negĂ³cios no mundo todo, este mercado em expansĂ£o estĂ¡ em constante mudança. Hoje o mercado americano Ă© o maior do mundo, mas vem sendo alcançado pela China, que absorve centenas de aeronaves novas a cada ano, e que transportou, sĂ³ em aeronaves da Embraer em 2017, mais de 17 milhões de passageiros.
Dois grandes players dominam o jogo dos fabricantes de aeronaves, a Boeing e a Airbus. A Airbus Ă© um consĂ³rcio europeu, que atingiu o status da sua concorrente Boeing e com ela vem travando intensa disputa pelo mercado. A Boeing, por sua vez, cresceu adquirindo outras empresas fabricantes e reinava absoluta, atĂ© a chegada da Airbus. Logo atrĂ¡s destas vem a Bombardier, canadense, e a Embraer, brasileira, que cresceram vendendo aeronaves menores, destinadas Ă aviaĂ§Ă£o regional, aviaĂ§Ă£o executiva e tambĂ©m uma parcela de aeronaves militares.
O segundo ponto a ser notado, Ă© a relevĂ¢ncia da Embraer para o Brasil. Fruto do dinamismo e competĂªncia de pessoas como Ozires Silva, que a criou em 1969, Ă© ela hoje um dos sĂmbolos da capacidade do paĂs em competir com tecnologia de ponta no mercado internacional, seus aviões estĂ£o hoje voando nos cinco continentes. Mais do que isso, a Embraer participa ativamente em diversos programas do governo brasileiro, como o de satĂ©lites de comunicaĂ§Ă£o, controle das fronteiras e desenvolvimentos de sistemas. Tem sido, tambĂ©m, desenvolvedora de aeronaves para a Força AĂ©rea Brasileira desde os primĂ³rdios.
Assim, esse ponto a coloca em uma situaĂ§Ă£o de ser considerada estratĂ©gica para o paĂs. NĂ£o sĂ³ pelo nĂºmero de empregos, mais de 20 mil, e pela forte exportaĂ§Ă£o de produtos manufaturados, mas pela capacidade tecnolĂ³gica que mantĂ©m e desenvolve com pessoal tĂ©cnico brasileiro. Desta forma, qualquer acordo com a gigante americana precisa de salvaguardas, como o poder de veto do governo brasileiro, de modo a garantir que a parceria seja uma injeĂ§Ă£o de força na empresa.
ExperiĂªncias anteriores mostram nestas associações uma prevalĂªncia da maior sobre a menor e, eventualmente, uma subordinaĂ§Ă£o, que nĂ£o nos interessa de forma alguma. Nesse caso, seria a perda da autonomia no controle e decisĂ£o, alĂ©m de perda de poder do paĂs. Por outro lado, a simples recusa a um acordo pode gerar um ambiente agressivo das demais empresas, incluindo a Boeing, que poderiam colaborar para combatĂª-la.
Se bem realizado, com um pouco de audĂ¡cia e muita firmeza no formato, o acordo pode nos trazer uma situaĂ§Ă£o bastante favorĂ¡vel, como crĂª o fundador da empresa, Ozires Silva, que se pronunciou favoravelmente a este respeito. E cuja opiniĂ£o, sempre bem fundamentada, deve ser sempre considerada.
*O autor Ă© coronel aviador da reserva da Força AĂ©rea Brasileira, coordenador e professor da Academia de CiĂªncias AeronĂ¡uticas Positivo da Universidade Positivo
Foto: ReproduĂ§Ă£o/Sineaa