UBS de Manaus continuam a receitar cloroquina para tratar covid
Médico receitou hidroxicloroquina para pessoa que atestou com covid e ainda indicou UBS em que ela deveria retirar o "tratamento precoce"

Da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 11/05/2021 às 16:44 | Atualizado em: 11/05/2021 às 16:44
Contrariando a ciência, médicos de UBS de Manaus ainda apostam no “tratamento precoce” da cloroquina contra a covid (coronavírus). Um caso denunciado na capital do Amazonas nesta terça (11) comprova que o remédio da malária continua sendo distribuído.
O BNC Amazonas teve acesso a uma receita de pessoa atendida na UBS João Nogueira da Matta, no bairro Zumbi dos Palmares, zona leste de Manaus.
De acordo com o que afirmou a pessoa denunciante, ele procurou a UBS porque estava resfriado. Atendido pelo médico Emanuel Jorge Akel Thomaz de Lima, lhe foi receitada a cloroquina porque estaria com covid.
E ainda indicou que retirasse os comprimidos na vizinha UBS Alfredo Campos.
Segundo ela, o médico passou o remédio sem ter feito qualquer teste específico da doença.
“Não fiz o teste de covid porque o médico falou que não precisava. Era só tomar remédio pra dor e pra febre, mais a hidroxicloroquina e a azitromicina”.
Conforme a prescrição do médico, a hidroxicloroquina de 400 mg deveria ser tomada duas vezes no primeiro dia. Depois, pelos seis dias subsequentes, apenas um comprimido a cada 24 horas.
Segundo afirmou ao BNC Amazonas nesta terça, a pessoa tomou apenas a azitromicina. A farmácia da UBS indicada não tinha a cloroquina indicada pelo médico, e ela estava sem dinheiro para comprar.
“Portanto, não tomei a hidroxicloroquina. Fiquei só na azitromicina mesmo, e hoje estou bem”.
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Manaus, alvo da cloroquina
À Secretaria de Saúde (Semsa), da Prefeitura de Manaus, por meio do setor de comunicação, foi pedida uma manifestação sobre o caso.
As UBS da capital foram alvo da gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello para uso do “tratamento precoce” da cloroquina e outros em pacientes da covid.
Conforme está sendo investigado como um dos objetos da CPI da covid, até uma força-tarefa, com a secretária Mayra Pinheiro, a “Capitã Cloroquina”, à frente, o governo federal usou Manaus para “desovar” grandes quantidades de cloroquina.
Pazuello chegou a fazer visita a várias UBS da capital para pressionar médicos a prescrever o “kit covid” que montou em sua gestão.
O fato, aliado à crise da falta de oxigênio no início do ano, portanto, já foi anunciado pelo presidente da CPI da covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), como alvo das investigações.
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Alerta de autoridades
A respeito de cloroquina, cujo maior defensor no Brasil é o próprio presidente da República, há mais de um ano, a maior autoridade de saúde do mundo já emitiu recomendação de que não seja usada para tratar contaminado de covid.
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a hidroxicloroquina aumenta o risco de efeitos adversos.
Além dela, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) diz que estudos não apontaram benefício do “kit covid”. Ao contrário, em alguns casos foram constatados “efeitos colaterais”.
Foto: Reprodução/cedida pelo denunciante