Mais de 1,2 mil pistas clandestinas servem a garimpeiros na AmazĂ´nia

De acordo com agentes de saĂºde indĂ­gena ouvidos pelo The New York Times, o governo brasileiro perdeu completamente a gerĂªncia de algumas dessas pistas

Publicado em: 04/08/2022 Ă s 10:17 | Atualizado em: 04/08/2022 Ă s 17:30

Garimpeiros ilegais que atuam na floresta amazĂ´nica tĂªm utilizado cerca de 1.269 pistas de pouso irregulares para impulsionar a atividade na regiĂ£o. As informações sĂ£o do jornal The New York Times, que publicou uma reportagem com base em imagens de satĂ©lites analisadas desde 2016.

g1 solicitou posicionamento do governo federal, da AgĂªncia Nacional de AviaĂ§Ă£o Civil (Anac), do ExĂ©rcito Brasileiro (EB) e da PolĂ­cia Federal (PF), e aguarda retorno.

Segundo a publicaĂ§Ă£o, as pistas sĂ£o utilizadas para que aviões de pequeno porte transportem equipamentos e outros materiais que auxiliam na atividade extrativista a Ă¡reas de difĂ­cil acesso, onde nĂ£o hĂ¡ estradas.

AlĂ©m das estruturas construĂ­das pelos prĂ³prios mineiros, atĂ© pistas de propriedade do governo brasileiro, utilizadas para que agentes de saĂºde cheguem a lugares remotos da floresta amazĂ´nica, estĂ£o sendo apropriadas por garimpeiros.

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De acordo com agentes de saĂºde indĂ­gena ouvidos pelo The New York Times, o governo brasileiro perdeu completamente a gerĂªncia de algumas dessas pistas. Os relatos da reportagem afirmam que garimpeiros jogam combustĂ­veis na pista quando nĂ£o reconhecem uma aeronave que se aproxima e desejam dificultar o pouso.

Ao menos 362 das pistas estĂ£o a poucos quilĂ´metros de Ă¡reas onde hĂ¡ extraĂ§Ă£o de minĂ©rio. Deste total, em torno de 60% das pistas estĂ£o situadas em reservas indĂ­genas, onde Ă© vedado qualquer tipo de exploraĂ§Ă£o.

A publicaĂ§Ă£o ainda cita que a indĂºstria do garimpo ilegal cresceu ao longo do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Terras Yanomami

Ao longo da reportagem, o The New York Times tambĂ©m cita que as imagens de satĂ©lites registram pelo menos quatro pistas nas terras indĂ­gena dos Yanomami, que permeia os territĂ³rios do Amazonas e de Roraima.

Maior territĂ³rio indĂ­gena do paĂ­s, a reserva tem sido devastada pelo avanço do garimpo. As marcas da natividades ilegal na regiĂ£o sĂ£o visĂ­veis nas Ă¡guas turvas dos rios e nas crateras a cĂ©u aberto.

O relatĂ³rio “Yanomami sob ataque”, divulgado pela Hutukara em abril deste ano, apontou que, em 2021, a degradaĂ§Ă£o causada pelo garimpo chegou Ă  marca de 3.272 hectares, frente aos 2.234 hectares de 2020 — 1.038 hectares a mais em um ano.

Em quatro anos, de outubro de 2018 atĂ© o fim de 2021, a Ă¡rea destruĂ­da pelo garimpo ilegal quase dobrou de tamanho, ultrapassando 3,2 mil hectares.

As regiões com maior degradaĂ§Ă£o causada pelo garimpo sĂ£o, respectivamente, WaikĂ¡s, Homoxi e Kayanau. Com excesso das regiões Surucucu, MissĂ£o Catrimani e Uraricoera, todas as Ă¡reas tiveram um crescimento na degradaĂ§Ă£o de 2020 atĂ© o fim de 2021.

Pistas prĂ³ximas a bases do ExĂ©rcito

Ainda de acordo com a publicaĂ§Ă£o, foram identificadas 35 pistas nĂ£o catalogadas a cerca de 80 quilĂ´metros de trĂªs bases de monitoramento do ExĂ©rcito Brasileiro na terra dos Yanomami.

A suspeita é que as pistas também sejam utilizadas por mineradoras.

AlĂ©m disso, o The New York Times destaca fragilidades na legislaĂ§Ă£o que dificultam a aplicaĂ§Ă£o de multas a responsĂ¡veis pela construĂ§Ă£o de pistas irregulares.

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