Pasto equivale a 75% de terras públicas desmatadas na Amazônia
Um estudo constata que o desmatamento para pecuária em áreas públicas são processos resultantes de grilagem de terras

Publicado em: 27/10/2021 às 13:32 | Atualizado em: 27/10/2021 às 13:46
Três de cada quatro hectares de terras públicas que foram desmatados deram lugar a pasto para atividade pecuária na Amazônia.
Os dados constam em um estudo lançado hoje pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
A pesquisa, assinada por Caroline Salomão, Marcelo Stabile, Lucimar Souza, Ane Alencar, Isabel Castro, Carolina Guyot e Paulo Moutinho, mostra ainda que, entre 1997 e 2020, 87% do desmatamento nessas terras são em áreas não destinadas, ou seja, em florestas ou outras áreas do estado ou União.
Isso foi impulsionado pela falta de fiscalização, grilagem e avanço de áreas de pastagem.
Grilagem
De acordo com os pesquisadores, o desmatamento para pecuária em áreas públicas são processos resultantes de grilagem de terras.
“As pastagens, em comparação com outros usos do solo, parecem ser a principal ferramenta para a ocupação de terras públicas na Amazônia, em especial em regiões de fronteira de desmatamento”, dizem os autores.
Diz o estudo ainda que, uma vez desmatadas, as florestas não destinadas dão lugar predominantemente às pastagens. “O boi é utilizado como uma espécie de ‘zelador’ da terra grilada e usado para ensejar a sua ‘posse’. Historicamente, esta tem sido a prática da grilagem na Amazônia”, aponta.
Segundo a principal autora do estudo, a pesquisadora Caroline Salomão, já era esperado que a pecuária fosse a líder em desmatamento nessas áreas.
“O que o estudo mostrou é que o pasto não só foi um vetor para entrada desse desmatamento, como ele permaneceu nessas áreas durante, por exemplo, os dez anos seguintes. Isso quer dizer que houve um investimento financeiro para que essas áreas continuem como pastagem”, diz.
O levantamento mostra ainda que cerca de 20% das áreas invadidas e desmatadas nas terras públicas foram abandonadas após ocupação e desmate e apresentaram hoje algum grau de regeneração.
“Aí tem um acúmulo de prejuízos nessa área porque, além do investimento para abrir desmatando, a gente tem uma perda imensa de serviços de ecossistema, como o próprio carbono”, afirma.
Área desmatada maior que o “Paraná“
Segundo o estudo, 21 milhões de hectares das terras públicas foram destruídos entre 1997 e 2020, o que corresponde a 8% dos 276,5 milhões de hectares de florestas públicas existentes da Amazônia Legal.
“É uma área maior do que o Paraná”, diz o estudo.
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Foto: Divulgação