O Garantido perdeu e não aprendeu a lição  

Na foto, na concentração: Caprichoso organiza alegorias com guindante com capacidade para 500 toneladas; Garantido, com um de 25 toneladas

Alegorias dos bois na concentração do bumbódromo

Neuton Corrêa, do BNC Amazonas

Publicado em: 12/07/2023 às 06:27 | Atualizado em: 12/07/2023 às 20:32

Da primeira semana após o Festival Folclórico de Parintins saem sinais de que a crise que se abateu sobre a Cidade Garantido está distante do fim. 

A paz experimentada na trégua a uma semana da disputa com o Caprichoso, com o afastamento do presidente Antônio Andrade, acabou, sem solução permanente. 

A eleição que se avizinha acende a disputa do poder pelo poder, sem, contudo, mostrar como tirar do fundo do poço o boi branco.

Neste momento, na Baixa, os interesses particulares e de grupos se sobrepõem aos espíritos públicos mais elevados. 

Passado o novo vexame, dos candidatos, não se ouve falar em transparência, em responsabilidade. Não se ouve falar em compromisso social, ético, por exemplo. Em compromisso com a cidade, com o espétaculo, com o festival.

As cinco derrotas do boi, em sete disputas, não foram suficientes para mostrar que o Garantindo precisa mais do que um presidente. 

Os candidatos a candidatos, colocados na disputa por suas próprias vontades, ainda não compreenderam o tamanho da crise do boi. 

O lixo que cerca a Cidade Garantido é o tamanho dela. O mau cheiro que exala do curral do boi não é o do excremento que vira adubo. 

O fedor que exala dali é o de corrupção, da irresponsabilidade de grande parte dos que hoje se candidatam a mágicos. 

Os dirigentes do Garantido padecem de descrédito, de falta de confiança. E, talvez, não sejam os nomes postos, e já conhecidos, que tenham a varinha de condão para fazer o boi voar novamente.

Há torcedores interessados em tirar o bumbá da crise, mas, certamente, há também desconfiança com as soluções que se apresentam.

Ninguém se dispõem a ser uma nova Samel. Para lembrar: os donos da empresa Samel, em 2020, evitaram que a sede do boi fosse parar nas mãos de mais um agiota (prática contumaz ali). Os investidores compraram o curral e doaram o imóvel à agremiação, além de patrocinarem mais R$ 1,3 milhão ao bumbá. Mas hoje a marca da empresa desaparece no entulho de tudo o que não presta na Cidade Garantido.

Lição do contrário

Os atuais candidatos a dirigentes do Garantido não aprenderam consigo mesmo. Nem com o seu contrário, o Caprichoso. 

Guardadas as devidas proporções, o Touro Negro já experimentou crise também, mas, dela, como Fênix, refez-se das cinzas. 

O Garantido mandava no festival nas décadas de 1970, 1980, até a início dos anos de 1990. 

Nesse período, em 1982, o Azul e Branco não teve sequer condições de ir à disputa com o Garantido. 

No entanto, o bumbá se organizou e, em 30 anos, se tornou não apenas um boi vencedor, mas, também, representação de organização e responsabilidade. 

Mas grande parte da conquista do Caprichoso se deu em tomadas de decisões coletivas. 

O Movimento Marujada é o exemplo disso. 

No fim de 1980, estabeleceu-se em Manaus para socorrer o boi em Parintins. Conseguiu não somente isso, mas a ajudar a transformar o bumbá de Parintins na expressão cultural do Amazonas.

Recentemente, em 2019 o Caprichoso, após ser derrotado pelo Garantido, esteve perto de descarrilar sua gestão, mas a racionalidade prevaleceu apontando Jender Lobato presidente de consenso. 

É essa palavra que falta hoje ao Garantido: consenso. E bom-senso. 

No entanto, o começo da eleição no Garantido mostra o início de uma nova guerra. O final dessa história a Baixa de São José já conhece.