Mundurukus denunciam garimpeiros, prostitutas e traficantes em suas terras

Em reunião com Ibama, PF, Funai e Justiça Federal, Mundurukus apresentaram decisão unânime de caciques pela expulsão dos garimpeiros

Publicado em: 31/08/2020 às 19:50 | Atualizado em: 01/09/2020 às 03:36

O Ministério Público Federal (MPF) recebeu na última quinta-feira (27) uma carta do povo indígena Munduruku em que pedem a expulsão dos garimpeiros ilegais de seus territórios.

Conforme denunciam os indígenas, a invasão de garimpos vem se expandindo, provocando severos danos ambientais e levando os tráficos de drogas e de armas e a prostituição para muito perto das aldeias.

“O território que pela Constituição deveria ser de usufruto exclusivo dos mundurukus está servindo para o lucro de pessoas de fora da terra indígena”, disse Ademir Kaba, uma das lideranças.

Os indígenas fizeram reunião de emergência em 20 e 21 de agosto, entre caciques, guerreiros, professores e associações, após a visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, à cidade de Jacareacanga, no início do mês, em que ele conversou com garimpeiros ilegais e apoiou publicamente a atividade.

O apoio do ministro, segundo os mundurukus, aumentou a insegurança das lideranças que se opõem ao garimpo, com aumento das ameaças de morte.

Uma liderança teve que fugir de sua própria aldeia e está escondida. Mesmo assim, a carta em que se posicionam contra a mineração foi aprovada por unanimidade por todos os líderes.

“As lideranças que falam contra o garimpo vivem ameaçadas de morte, algumas já tiveram que deixar suas aldeias e casas”, disseram.

 

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De acordo com Ademir, “a atividade de garimpo não cessou por causa do isolamento social. Quando a operação [de fiscalização] foi cancelada, foi dito pelo ministro que o povo munduruku tinha pedido a suspensão da operação e isso não é verdade”.

“Não tem proteção para nenhum de nós que estamos ameaçados. E quem tá entregando armas, drogas, para os índios? Isso é o branco que tá levando para dentro do território”, disse outra liderança presente.

Estavam presentes na reunião membros do MPF. A juíza federal de Itaituba Sandra Maria Correia da Silva também ouviu os relatos dos indígenas.

Durante o evento foram apresentadas ainda as conclusões de uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) sobre a contaminação por mercúrio entre os mundurukus.

Segundo o estudo, foram encontrados níveis de mercúrio até oito vezes acima do normal na população, que já apresenta sintomas de intoxicação como problemas neurológicos, perda de reflexos e dificuldades de locomoção.

A equipe que iria apresentar o resultado dos estudos para os caciques mundurukus foi atacada por garimpeiros na mesma pista de pouso em Jacareacanga onde o ministro Ricardo Salles esteve no início de agosto. Dessa forma, eles foram obrigados a retornar para Santarém.

Danicley Aguiar, do Greenpeace, que acompanha a situação dos garimpo nos territórios do povo munduruku definiu a situação dos garimpos ilegais na Amazônia como um desafio civilizatório.

“Um dos povos mais organizados e com maior capacidade de resposta política da Amazônia, os mundurukus estão pedindo socorro. É um desafio civilizatório”, disse.

A procuradora Ana Carolina Bragança, da Força-Tarefa Amazônia do MPF, explicou a obrigação constitucional da instituição. “É um modelo predatório que não produz desenvolvimento, não produz riquezas. O que acontece hoje na terra indígena munduruku é exemplar da crise existencial que vivemos enquanto sociedade, ao permitir a dilapidação do meio ambiente que garante a vida a todos, pelo lucro de poucos”, disse.

A situação do garimpo ilegal no Tapajós também foi apresentada a representantes da Aeronáutica, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Polícia Federal e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Fonte: MPF

 

 

Foto: Adi Spezia/Cimi