IndĂ­genas pagam ‘pedĂ¡gio’ para chegar a municĂ­pio em Roraima

O "pedĂ¡gio" cobrado por fazendeiros pode chegar a R$ 300 por viagem, diz indĂ­gena ianomĂ¢mi.

IndĂ­genas pagam ‘pedĂ¡gio’ para chegar a municĂ­pio em Roraima

Da RedaĂ§Ă£o do BNC Amazonas

Publicado em: 04/02/2023 Ă s 17:09 | Atualizado em: 04/02/2023 Ă s 17:09

IndĂ­genas do povo ianomĂ¢mi, em Roraima, sĂ£o obrigados a pagar um “pedĂ¡gio” de pelo menos R$ 200 a fazendeiros para que possam a chegar Ă  sede do municĂ­pio de Alto Alegre, na regiĂ£o oeste do estado.

A denĂºncia consta em relatĂ³rio divulgado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de Roraima (Cedcar).

Conforme a AgĂªncia Brasil, o conselho visitou a cidade esta semana, acompanhando uma comitiva do MinistĂ©rio dos Direitos Humanos e Cidadania.

Dessa maneira, a entidade apresentou um documento com o resumo da visita em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (3), em Boa Vista. 

Em decorrĂªncia de toda essa questĂ£o do garimpo, eles precisam ir atĂ© a sede do municĂ­pio comprar alimentos. E a cobrança de forma ilegal e arbitrĂ¡ria de R$ 200 por cada grupo de indĂ­genas que possa passar pela terra de fazendeiros. A gente repudia isso, afirmou Paulo Thadeu, secretĂ¡rio-geral do Cedcar.

Ao mesmo tempo, a informaĂ§Ă£o tambĂ©m foi confirmada Ă  AgĂªncia Brasil pelo lĂ­der indĂ­gena JĂºnior IanomĂ¢mi. Segundo ele, o “pedĂ¡gio” cobrado por fazendeiros pode chegar a R$ 300 por viagem.  

“[Cobram] cerca de R$ 300 em pedĂ¡gio. A gente depende disso para poder chegar em Alto Alegre”, afirmou.

Sobretudo, o municĂ­pio faz fronteira com a terra indĂ­gena ianomĂ¢mi e Ă© muito acessado, por via terrestre, pelos indĂ­genas que vivem mais prĂ³ximos.

Eles precisam ir atĂ© a cidade comprar comida, mantimentos, sacar benefĂ­cios sociais, como o Bolsa FamĂ­lia, buscar atendimento de saĂºde, entre outros serviços.

No entanto, nem todos os indĂ­genas yanomami conseguem acesso por estradas. Maior Terra IndĂ­gena (TI) do paĂ­s, a reserva yanomami Ă© imensa e, em algumas localidades, sĂ³ Ă© possĂ­vel chegar por via Ă¡rea. 

O relatĂ³rio apresentado pelo Cedcar faz um resumo da visita realizada em quatro municĂ­pios que fazem fronteira com a terra ianomĂ¢mi.

Além de Alto Alegre, houve reuniões com gestores municipais de Mucajaí, Iracema e Caracaraí. 

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Garimpo

No distrito da Vila de Campos Novos, que pertence ao municĂ­pio de Iracema, a denĂºncia Ă© sobre a existĂªncia de pistas de pouso que atendem ao garimpo ilegal.

Foi dito que a Vila de Campos Novos, distrito do municĂ­pio de Iracema, serve de base de apoio logĂ­stico para a atividade garimpeira, pois a mesma fica bem na fronteira da Terra IndĂ­gena. As pistas de voo tambĂ©m ficam prĂ³ximas a esta Vila e nĂ£o tem nenhum controle das autoridades. O municĂ­pio nĂ£o possui um cadastro especĂ­fico de atendimento dos povos indĂ­genas. O Estado brasileiro precisa fazer uma aĂ§Ă£o emergencial na Ă¡rea de saĂºde, social e segurança nesta regiĂ£o“.

PrĂ³ximo Ă  sede do municĂ­pio de Alto Alegre, foi informada tambĂ©m a existĂªncia de uma estrutura de pouso e decolagens de helicĂ³pteros.

De acordo com o relatĂ³rio do Cedcar, empresĂ¡rios do garimpo cobram atĂ© R$ 8 mil para transportar garimpeiros para a Terra IndĂ­gena.

“Esse valor Ă© pago pelo empresĂ¡rio que serĂ¡ descontado depois do garimpeiro durante o seu trabalho na Ă¡rea de garimpo”, diz um trecho do documento. 

Falta de estrutura

Em MucajaĂ­, gestores municipais denunciaram a falta de estrutura do hospital da cidade para atender os indĂ­genas.

Eles tambĂ©m apresentaram um estudo sobre a contaminaĂ§Ă£o da Ă¡gua do municĂ­pio, que afeta o consumo da populaĂ§Ă£o local e a pesca. 

Em CaracaraĂ­, que fica mais ao sul, na beira do Rio Branco, conselheiros tutelares e gestores municipais informaram que pelo 30 indĂ­genas estĂ£o acampados na cidade e que nĂ£o hĂ¡ qualquer atendimento de poder pĂºblico para essas pessoas.

Segundo a denĂºncia, trĂªs crianças ianomĂ¢mi chegaram a ser acolhidas pelo Conselho Tutelar e depois devolvidas aos familiares, mas mais seis crianças seguem institucionalidades na unidade de acolhimento da rede pĂºblica. 

A gestĂ£o disse que hoje a etnia Catrimani jĂ¡ convive na cidade e que existem relatos de relacionamento entre indĂ­genas e nĂ£o indĂ­genas, o que ocasiona a gravidez dessas mulheres indĂ­genas e que muitas vezes acaba provocando o abandono das crianças, pois dificilmente seriam aceitas na comunidade.

Com informações da AgĂªncia Brasil.

Foto: ReproduĂ§Ă£o