Fluxo de circulação reforça risco de segundo pico do coronavírus no Noroeste Amazônico
Nota técnica do ISA sobre a probabilidade de disseminação do coronavírus no Noroeste Amazônico indica uma série de fatores, além do isolamento e controle de fluxo, que pode interferir no ritmo da contaminação

Publicado em: 17/08/2020 às 13:45 | Atualizado em: 17/08/2020 às 13:45
Pesquisa elaborada pelo Instituto Socioambiental (ISA) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) não descarta a possibilidade de um segundo pico de disseminação do coronavírus (covid-19) no Noroeste Amazônico.
Segundo o estudo, quando consideradas as diferentes dinâmicas sociais e fluxos de circulação entre as localidades rurais e sedes municipais.
“Desta maneira, é essencial que os órgãos gestores se mantenham atentos no acompanhamento de novos casos e nas novas demanda de atendimento hospitalar”, afirma a análise.
Passados cerca de três meses do registro dos primeiros casos de coronavírus em São Gabriel da Cachoeira, os números mostram tendência de interiorização.
Com cerca de 45 mil habitantes, o município é conhecido por concentrar a maior população indígena do país. Dessa forma, cerca de 26 mil pessoas vivem nas comunidades afastadas.
Exemplo de que o vírus está atingindo os povos indígenas mais distantes é que, dos 68 casos registrados na terça (11), apenas quatro vivem em ambiente urbano.
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Conforme apontam especialistas, há um quadro de incerteza sobre a pandemia no Alto Rio Negro, devido a fatores como desconhecimento sobre o vírus, baixa testagem e insuficiência de dados.
No entanto, eles reforçam que o aumento do fluxo entre comunidades e ambiente urbano tende a causar aumento de casos nos territórios indígenas.
Na cidade de São Gabriel, o clima é de aparente normalidade: ruas lotadas, comércio cheio, com poucas pessoas usando máscaras.
O município vinha registrando queda nas internações nas últimas semanas e não há óbitos causados pelo novo coronavírus desde 27 de julho.
Segundo a Semsa, desde 9 de julho a cidade registrava entre dois e quatro casos de internação. Na terça, esse número passou para sete.
Entretanto, no comparativo dos meses de junho e julho, as comunidades apresentaram alta mais acentuada que o ambiente urbano.
Em São Gabriel, entre 30 de junho e 30 de julho, os casos da covid-19 tiveram alta de 22%, passando de 2.710 para 3.321.
Já no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei Yanomami), a alta foi mais acentuada nesse período: 134%, passando de 151 para 353 casos.
De acordo com a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Luiza Garnelo,”esse modelo de Manaus, que vai para o interior, como uma onda, vemos se replicar nos municípios”.
Para Garnelo, a tendência em São Gabriel é que o vírus avance para as áreas rurais, em função do fluxo das pessoas.
Nesse momento de pandemia, os indígenas têm se dirigido ao ambiente urbano principalmente para sacar benefícios sociais.
A nota técnica indica uma série de fatores, além do isolamento e controle de fluxo, que pode interferir na intensidade do ritmo da contaminação.
Contudo, segundo a bióloga Natália Pimenta, quanto maior o controle da movimentação, menor o risco de contágio.
A análise mais ampla possibilita maior clareza sobre os fatores que influenciam a curva de contágio dependendo da comunidade.
Leia a reportagem de Ana Amélia Hamdan, publicada no portal Unisinos.
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Foto: Ana Amélia Handam/ISA