Fabricantes de escavadeiras faturam alto com garimpo ilegal na Amazônia

As multinacionais envolvidas assumiram compromissos socioambientais, mas mas pouco fazem para impedir que as máquinas sejam usadas pelo crime

Publicado em: 28/10/2021 às 14:53 | Atualizado em: 28/10/2021 às 14:56

As escavadeiras hidráulicas e pás carregadeiras se tornaram aliadas de primeira hora de garimpeiros ilegais na Amazônia. Hyundai, New Holland, Sany, Caterpillar e Volvo são algumas das multinacionais que abastecem a atividade ilegal na região com máquinas pesadas.

As máquinas são comuns em obras da construção civil, onde facilitam o trabalho pesado de revirar a terra com seu braço articulado.

Equipadas com uma pá de grandes proporções, uma cabine que gira para ambos os lados e rodas ou esteiras que avançam sobre qualquer terreno, esses equipamentos conseguem cavar enormes buracos em poucos dias no meio da floresta, agilizando o serviço para garimpeiros e multiplicando as chances de lucro.

Também são empregados na derrubada da mata para abrir as clareiras onde vai se instalar a atividade ilegal. Uma máquina dessas pode custar até R$ 1 milhão.

“É a máquina mais relevante no garimpo. O ouro está no subsolo, então o principal trabalho da escavadeira é remover a camada superior de terra. O resto do serviço é feito com jatos de água, motores e bombas de sucção de lama”, explica o perito da Polícia Federal Gustavo Caminoto Geiser.

Não à toa, na primeira semana de outubro, uma operação da Polícia Federal, Ibama e Funai no Pará fez garimpeiros ilegais correrem para esconder as máquinas na floresta.

Uma consulta no banco de dados abertos do Ibama demonstra que agentes encontraram, apreenderam e destruíram dezenas de escavadeiras e pás carregadeiras em garimpos ilegais em terras indígenas e áreas protegidas nos últimos anos.

Em pelo menos 17 casos, a Repórter Brasil identificou os fabricantes: são multinacionais que assumiram compromissos socioambientais, como o enfrentamento do aquecimento global, mas pouco fazem para impedir que as máquinas sejam usadas pelo crime.

“Ainda que juridicamente haja um debate sobre a responsabilidade dos fabricantes, é fato que esses agentes precisam ser chamados a conferir sustentabilidade aos seus negócios, saindo de uma postura de cegueira deliberada e adotando mecanismos mais rigorosos no controle de vendas”, sinaliza Ana Carolina Haliuc, procuradora do Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas e coordenadora da força-tarefa Amazônia.

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Foto: Vinícius Mendonça/Ibama