Cardeal do Vaticano não bota fé em padre casado na Amazônia

Publicado em: 03/10/2019 às 18:30 | Atualizado em: 03/10/2019 às 18:59
O cardeal Marc Ouellet concedeu rara entrevista à imprensa nesta quarta-feira, dia 2, e disse que é cético quanto à proposta de se ordenar homens casados na Amazônia.
Para ele, a região amazônica sequer tem catequistas suficientes para ensinar os leigos sobre a fé, muito menos para formar diáconos e padres indígenas.
A posição de Ouellet é significativa. Ele é um importante assessor do papa Francisco no Vaticano, e conhece bem a realidade da igreja latino-americana.
Além disso, de forma alguma, faz parte do grupo de cardeais, bispos e leigos conservadores anti-Francisco que se opõe à pauta deste sínodo.
Sua afirmação foi publicada pela National Catholic Reporter, na tradução de Isaque Gomes Corrêa.
Canadense, o cardeal falou durante lançamento de seu livro “Amigos do esposo: por uma visão renovada do celibato sacerdotal” (Edições Cristo Rei, 2019).
Na obra, ele fala abertamente sobre os desafios enfrentados pelos padres na atualidade, em meio a um declínio nas vocações e a danos à reputação da igreja católica em decorrência dos escândalos de abusos sexuais.
Prefeito da Congregação para os Bispos e membro da comissão da Santa Sé para a América Latina, o cardeal disse reconhecer que a região amazônica sofre de uma escassez de padres e que está aberto para o debate sobre como enfrentar a questão durante o Sínodo para a Amazônia, a ocorrer neste mês, em Roma.
“Eu me faço essa pergunta. Sou cético. E acho que não sou o único”, disse ele. “E acima de mim existe alguém que é ainda mais cético e que autorizou o debate, e isso é bom”, declarou em aparente referência ao papa Francisco.
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Polêmica da assembleia
O sínodo, de 6 a 27, deverá ser um dos mais polêmicos desde o começo do atual pontificado. Oficialmente, a assembleia abordará um leque de temas relacionados à Amazônia, incluindo questões ambientais de desmatamento e as necessidades pastorais dos povos indígenas.
O tema, no entanto, que recebeu uma maior atenção é a proposta, presente no documento de trabalho, de se realizar um estudo sobre se homens casados podem ser ordenados ao sacerdócio, para que os católicos indígenas, em comunidades remotas, possam receber os sacramentos com maior regularidade, visto que muitos ficam meses sem estar na presença de um padre.
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Foto: Reprodução/Vatican News