Especialistas alertam que Brasil pode virar importador de crédito de carbono

A regulamentaĂ§Ă£o pendente e a necessidade de novas iniciativas sĂ£o desafios. A presidĂªncia do G20 Ă© uma oportunidade para liderar a transiĂ§Ă£o energĂ©tica global.

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Publicado em: 13/06/2024 Ă s 11:07 | Atualizado em: 13/06/2024 Ă s 11:07

O Brasil, um dos paĂ­ses com maior potencial no mercado de carbono global, corre o risco de se tornar importador de crĂ©ditos de carbono se nĂ£o for eficiente na reduĂ§Ă£o do desmatamento. Especialistas alertam que, se o paĂ­s nĂ£o cumprir suas metas climĂ¡ticas, terĂ¡ de comprar licenças para emitir gases de efeito estufa.

A presidĂªncia do Brasil no G20 pode trazer novas fontes de financiamento para a transiĂ§Ă£o energĂ©tica, mas a demanda interna por crĂ©ditos de carbono pode exceder a oferta devido a emissões nĂ£o mitigadas e obstĂ¡culos Ă  venda dos crĂ©ditos brasileiros no mercado global.

Marcos da Costa Cintra, doutor em energia pela Universidade de SĂ£o Paulo, destaca que o Brasil tem um grande potencial para liderar o mercado de crĂ©dito de carbono devido Ă  sua capacidade de reduĂ§Ă£o de emissões, mas as regras do Acordo de Paris e da UniĂ£o Europeia restringem esse potencial.

Ele aponta que, embora o Brasil seja um dos paĂ­ses que mais reduzem emissões, principalmente atravĂ©s de seu setor de energia renovĂ¡vel e projetos de reflorestamento, essa reduĂ§Ă£o nĂ£o tem sido adequadamente remunerada.

O Brasil foi um dos principais exportadores de Reduções Certificadas de EmissĂ£o (RCEs) sob o Protocolo de Kyoto. No entanto, a mudança de regras liderada pela UniĂ£o Europeia interrompeu essa dinĂ¢mica.

A regulamentaĂ§Ă£o do mercado de carbono brasileiro ainda estĂ¡ pendente no Congresso Nacional com o Projeto de Lei 2.148/15, que estabelece o Sistema Brasileiro de ComĂ©rcio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE).

As normas europeias, que permitiam a compra de RCEs emitidas pelo Brasil atĂ© 2012, agora sĂ³ permitem a venda de reduções de emissĂ£o por pequenos paĂ­ses insulares e paĂ­ses de menor desenvolvimento relativo.

Cintra observa que o mercado de carbono atual exige que os créditos provenham de reduções de emissões adicionais.

Assim, projetos jĂ¡ estabelecidos, como os na Floresta AmazĂ´nica e na produĂ§Ă£o de biocombustĂ­veis, nĂ£o sĂ£o elegĂ­veis para gerar crĂ©ditos. Isso limita o Brasil a explorar plenamente seu potencial sem novas iniciativas significativas.

Ludovino Lopes, especialista em direito ambiental, alerta que o Brasil precisa reduzir drasticamente o desmatamento e incluir setores atualmente fora dos compromissos climĂ¡ticos internacionais para evitar se tornar um importador lĂ­quido de crĂ©ditos de carbono.

Ele enfatiza a necessidade de modernizar os instrumentos da economia verde para atrair capital internacional.

O Brasil se comprometeu a reduzir emissões em 37% até 2025 e 50% até 2030, comparado aos níveis de 2005, e atingir a neutralidade de emissões até 2050.

AlĂ©m de reduzir o desmatamento, o paĂ­s precisa investir em tecnologias renovĂ¡veis e prĂ¡ticas sustentĂ¡veis.

Jorge Arbache, vice-presidente de Setor Privado do Banco de Desenvolvimento da AmĂ©rica Latina, vĂª potencial no Brasil para atrair mais financiamento para a descarbonizaĂ§Ă£o, especialmente atravĂ©s do powershoring, que poderia agregar bilhões de dĂ³lares em exportações e investimentos.

Na presidĂªncia do G20, o Brasil tem uma oportunidade Ăºnica de liderar a criaĂ§Ă£o de novas fontes de financiamento para a transiĂ§Ă£o energĂ©tica global.

Parcerias nacionais e internacionais podem promover prĂ¡ticas sustentĂ¡veis, como restauraĂ§Ă£o e reflorestamento, reduzindo o risco de uma ‘dĂ­vida’ em carbono.

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Foto: Tv Brasil