Amazonas: pesquisa vê se há doença em parasitas no sauim-de-coleira
A presença das filárias é mais uma ameaça à população de sauins

Publicado em: 02/09/2024 às 19:31 | Atualizado em: 02/09/2024 às 19:31
Compreender o risco para a saúde pública dos parasitas de filárias zoonóticas que atingem o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) e eleger as opções de tratamento que possam reduzir o risco desses micro-organismos para as populações humana e deste primata, são objetivos de pesquisa apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Amparado via Programa Universal Amazônas, o estudo intitulado “Detecção e caracterização de filárias zoonóticas em sauim de coleira (Saguinus bicolor), e avaliação do risco para saúde pública” detectou a bactéria Wolbachia e outros parasitas filariais.
A presença das filárias é mais uma ameaça à população de sauins, que já é uma espécie afetada pela perda do seu habitat natural, em virtude do desmatamento das áreas verdes de Manaus.
A coordenadora do estudo e doutora em epidemiologia experimental aplicada às zoonoses, Alessandra Nava, do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia), afirmou que as filárias que foram encontradas nos animais analisados já foram encontradas em outros primatas.
“Agora nossa próxima questão é entender se há um risco zoonótico e o quanto a presença dessas filárias afetam a saúde dos sauins. O nosso grupo identificou um vetor antropofílico (que suga sangue de pessoas) com uma das espécies de filárias, que achamos em sauim (Mansonella marie). Isso pode indicar uma possibilidade de transmissão para as pessoas”, alertou a epidemiologista.
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Onde estão
Os sauins-de-coleira são primatas encontrados somente em Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara (distantes 57 km e a 176 km da capital, respectivamente) e que, muitas vezes, morrem atropelados ou eletrocutados.
Depois, esses animais são levados ao Projeto Sauim-de-Coleira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde são realizadas necropsias à procura do parasita adulto, que geralmente é encontrado na cavidade abdominal (área da barriga). Além da coleta de sangue, quando possível.
Nos animais vivos recebidos pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Ibama, são coletadas amostras de sangue para exames e detecção de parasita.
Alessandra disse ainda que a melhor estratégia é entender quais os vetores envolvidos na transmissão e compreender sobre as áreas de maior ocorrência.
Conforme ela, os animais silvestres são ótimos sentinelas de saúde ambiental, isto é, são espécies que podem indicar a circulação de um patógeno ou contaminante ambiental.
“Cada vez mais, a vigilância de patógenos com potencial zoonótico é estratégico para o bioma amazônico, para entendermos quais patógenos estão circulando e quais áreas são prioritárias para risco e quais alterações na paisagem (desmatamento, ocupações humanas) podem aumentar esses riscos”.
Apoio da Fapeam
“O apoio da Fapeam foi crucial para o desenvolvimento dessa pesquisa, que gerou outras perguntas de pesquisa e resultados muito interessantes que foram publicados em revistas de impacto. Além da pesquisa, gerou a capacitação local de alunos de pós-graduação, iniciação científica e ensino médio”, afirmou a pesquisadora.
Foto:Acervo Alessandra Nava e Marcelo Gordo/divulgação