“No vestibular, os primeiros lugares sempre eram do ColĂ©gio Estadual”

Publicado em: 17/03/2019 Ă s 22:51 | Atualizado em: 18/03/2019 Ă s 07:39
InstituiĂ§Ă£o que teve alunos renomados como o escritor Thiago de Mello, o professor MĂ¡rio Ypiranga Monteiro, o economista OsĂris Silva e o ex-vice-governador Samuel Hanan, o ColĂ©gio Estadual D. Pedro II completou 150 anos na Ăºltima quinta-feira, dia 14 de março.
Com uma histĂ³ria que se confunde com a do Amazonas, por ser o primeiro colĂ©gio do estado, foi na comemoraĂ§Ă£o dos 100 anos de fundaĂ§Ă£o que os primeiros grandes resultados de ensino começaram a ser registrados.
Diretor do ColĂ©gio Estadual no ano de seu centenĂ¡rio em 1969, o professor Manoel do Carmo Chaves Neto, conhecido como Maneca, hoje com 74 anos, relembra a Ă©poca.
Foi durante sua gestĂ£o que o Estadual passou a ser protagonista nas aprovações no vestibular para a Universidade do Amazonas- UA ( hoje Ufam).
“No ano de seu centenĂ¡rio, em 1969, o ColĂ©gio Estadual passou a ser protagonista nas aprovações no vestibular para a (UA), Universidade do Amazonas, hoje Ufam”, destaca Maneca.
Foi tambĂ©m com Maneca que as fronteiras da instituiĂ§Ă£o se alargaram para contemplar o esporte.
“Com o ColĂ©gio Estadual gozando de elevado prestĂgio e começamos a expandir a atuaĂ§Ă£o para o esporte que passou a protagonizar importantes momentos no desporto estudantil de sua Ă©poca”, conta, com orgulho.
E no desfile de 5 de setembro de 1969, um marco inédito:
“Desde os seis primeiros alunos foi contada no decorrer da apresentaĂ§Ă£o do ColĂ©gio, com a evoluĂ§Ă£o do fardamento nas diversas Ă©pocas e as alegorias que o ColĂ©gio apresentou em anos anteriores na frente dos desfiles. Foi um trabalho muito bonito e enriquecedor para todos nĂ³s”.
Confira trechos da entrevista com o professor Maneca, concedida ao BNC Amazonas neste sĂ¡bado, dia 16.
1. Como foi administrar e preparar o ColĂ©gio Estadual para o seu centenĂ¡rio, em 1969?
Eu fui convidado pelo professor Bartolomeu Dias, entĂ£o diretor do [escola estadual] SĂ³lon de Lucena, a assumir, em 1968, a vice-diretoria do ColĂ©gio Estadual. O Professor Bartolomeu Dias era um nome bastante respeitado na EducaĂ§Ă£o do Amazonas e estava fazendo um trabalho de excelĂªncia no SĂ³lon de Lucena quando foi convidado para assumir a a diretoria do ColĂ©gio Estadual (ficaria na diretoria de ambos os colĂ©gios), tendo aceitado na condiĂ§Ă£o de eu ser seu vice-diretor no Estadual. Assim se deram os fatos. Assumi a vice-diretoria do ColĂ©gio Estadual em meados de 1968 e como os resultados foram bons, assumi definitivamente a diretoria em 1969, o ano de centenĂ¡rio.
Naquela Ă©poca era preciso fazer um trabalho de reconstruĂ§Ă£o da imagem do ColĂ©gio Estadual, melhorando sua eficiĂªncia, entĂ£o passei a reunir com os professores mensalmente a fim de detectar os problemas e corrigi-los. Começamos implementando uma polĂtica para que todos os tempos de aula fossem, de fato, ministrados aos alunos e que o conteĂºdo programĂ¡tico das matĂ©rias fosse abordado em sua plenitude em sala de aula, cumprindo a programaĂ§Ă£o.
“Com o ColĂ©gio Estadual gozando de elevado prestĂgio, começamos a expandir a atuaĂ§Ă£o para o esporte que passou a protagonizar importantes momentos no desporto estudantil de sua Ă©poca.”
Os resultados foram aparecendo, e no ano seguinte, em 1969, assumi de maneira efetiva a diretoria do ColĂ©gio Estadual e seguimos com essa polĂtica em busca da excelĂªncia levando este conceito atĂ© Ă s Ăºltimas consequĂªncias ao ponto de, como diretor, chegar a dar aula de matemĂ¡tica no lugar de professores que eventualmente nĂ£o compareciam. Com isso, consegui sensibilizar os colegas a nĂ£o faltar porque era constrangedor para eles o diretor dar aula de matemĂ¡tica em seu lugar.
Chegamos ao ano do centenĂ¡rio, 1969, com o ColĂ©gio Estadual gozando de elevado prestĂgio e começamos a expandir a atuaĂ§Ă£o para o esporte que passou a protagonizar importantes momentos no desporto estudantil de sua Ă©poca.
No ano de seu centenĂ¡rio, em 1969, o ColĂ©gio Estadual passou a ser protagonista nas aprovações no vestibular para a (UA), Universidade do Amazonas, hoje Ufam.
O que podia ser celebrado naquela Ă©poca, perĂodo da ditadura militar no Brasil?
Olha, os colĂ©gio tinham liberdade ampla para implantar o seu ensino. NĂ£o havia interferĂªncia dos militares no nosso ensino. Sempre fui muito bem tratado pelos militares, com respeito e dignidade. Sempre me convidavam para as solenidades nos quarteis e nos eventos por eles realizados. Havia respeito mĂºtuo.
No que a rotina de funcionĂ¡rios e alunos se diferenciava dos dias atuais?
No ColĂ©gio Estadual exigĂamos uma aplicaĂ§Ă£o maior dos estudantes para que mais tarde eles galgassem sucesso.
Quais os trĂªs momentos mais marcantes que o ColĂ©gio Estadual viveu durante a sua administraĂ§Ă£o?
Pontuando, podemos dizer que primeiro trabalhamos a reconstruĂ§Ă£o da imagem do ColĂ©gio Estadual, em seguida implantamos polĂtica de ensino, passamos a investir no esporte, tudo isso junto vai resultar em bons resultados, que levam, por exemplo, Ă aprovaĂ§Ă£o de nossos alunos nos exames de vestibulares. Nossos alunos passaram a ser protagonistas no quesito aprovaĂ§Ă£o na Universidade do Amazonas.
“Acredito que naquela Ă©poca o ensino era melhor devido ao sistema, havia maior exigĂªncia do sistema.”
Com relaĂ§Ă£o ao CentenĂ¡rio do ColĂ©gio Estadual, ocorrido em minha gestĂ£o, posso dizer que o ponto alto da festa do CentenĂ¡rio foi o desfile de 5 de Setembro quando os professores fizeram ampla pesquisa em torno dos cem anos de histĂ³ria e a reproduziram atravĂ©s do desfile na Eduardo Ribeiro. A histĂ³ria do ColĂ©gio desde os seis primeiros alunos foi contada no decorrer da apresentaĂ§Ă£o do ColĂ©gio, com a evoluĂ§Ă£o do fardamento nas diversas Ă©pocas e as alegorias que o ColĂ©gio apresentou em anos anteriores na frente dos desfiles. Foi um trabalho muito bonito e enriquecedor para todos nĂ³s.
Como a educaĂ§Ă£o da Ă©poca se diferenciava da educaĂ§Ă£o atual? Na sua opiniĂ£o, o que mudou, seja para melhor ou para pior?
Fiquei na direĂ§Ă£o do ColĂ©gio estadual atĂ© fevereiro de 1973 e, ao sair, assumi a diretoria de ensino da Escola TĂ©cnica Federal do Amazonas (antiga Etfam, hoje, Ifam – Instituto de Federal de EducaĂ§Ă£o do Amazonas). Acredito que naquela Ă©poca o ensino era melhor devido ao sistema, havia maior exigĂªncia do sistema. Mas havia resultado positivo. Os melhores alunos saĂam das escolas pĂºblicas.
Quais ilustres amazonenses foram alunos durante a sua administraĂ§Ă£o, ou atĂ© mesmo antes e depois, em especial, da polĂtica? O senhor teve contato direto com eles? Lembra-se de algum episĂ³dio relevante?
Os melhores alunos sempre se destacam, por exemplo, nos exames vestibulares. Via de regra, os primeiros lugares sempre eram do ColĂ©gio Estadual. Eu me recordo de nomes como Nelson Hanan, que se destacou no campo da pesquisa nos Estados Unidos. Temos no campo polĂtico, Samuel Hanan, ex-vice governador e que tambĂ©m foi secretĂ¡rio de Fazenda. Mas temos muitos professores destaques no nosso Estado oriundos do ColĂ©gio Estadual, como por exemplo, Manoel Octavio Rodrigues de Souza, lecionava HistĂ³ria Geral. O MĂ¡rio Ypiranga Monteiro, professor de Geografia, HistĂ³ria, um dos grandes nomes do Amazonas, que dĂ¡ nome a uma de nossas principais avenidas em Manaus. E o professor Farias de Carvalho (Carlos Farias Ouro de Carvalho), que ministrava aulas de LĂngua Portuguesa e Literatura e foi um jornalista destacado, tendo contribuĂdo com grandes jornais da Ă©poca.
“Os melhores alunos saĂam das escolas pĂºblicas”
O ColĂ©gio Estadual completa 150 anos de existĂªncia em 2019. O que o senhor espera que seja feito pela instituiĂ§Ă£o por parte de gestores, alunos e poder pĂºblico?
Espero que o ColĂ©gio Estadual ofereça uma boa qualidade de ensino e que possamos continuar formando gerações que contribuam com o desenvolvimento do ensino do nosso Estado, como fazĂamos na Ă©poca do CentenĂ¡rio. E, que os professores continuem atuando com o mesmo entusiasmo e dedicaĂ§Ă£o dos de minha Ă©poca.
Foto do CentenĂ¡rio: Arquivo/Professor Maneca. Da esquerda para Ă direita: Aloisio Nogueira de Melo, JĂºlio Silva, Ernani Barbosa, Manoel Chaves Neto, Francisco Sales Evangelhista, Patriarca ,Claudio Chaves e Tu de Moutinho da Costa Filho.