Presidente do partido de Wilson Lima sinaliza apoio a Lula

Integrantes da cĂºpula da UniĂ£o Brasil dizem que Bivar chegou a negociar internamente o endosso do partido a Lula sob promessas de apoio do petista para a reeleiĂ§Ă£o do deputado. Luciano Bivar nega

Publicado em: 16/08/2022 Ă s 11:54 | Atualizado em: 16/08/2022 Ă s 20:57

O presidente do UniĂ£o Brasil, Luciano Bivar, sinalizou defender que o partido se posicione contra Jair Bolsonaro (PL) em um eventual segundo turno entre o atual presidente e Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT).

“Claro que a UniĂ£o Brasil se posiciona. NĂ£o Ă© no segundo turno, posiciona-se hoje. Ela Ă© a favor da democracia”, afirmou o dirigente, para quem hĂ¡ ameaça de ruptura institucional no paĂ­s.
Em entrevista Ă  reportagem, Bivar admitiu ter mantido conversas com o PT, mas refutou que a aproximaĂ§Ă£o tenha sido a razĂ£o que o levou a desistir da disputa pela PresidĂªncia.

O deputado federal foi prĂ©-candidato ao PalĂ¡cio do Planalto atĂ© 31 de julho, quando anunciou que deixaria a corrida e buscaria a reeleiĂ§Ă£o Ă  CĂ¢mara dos Deputados. Em seu lugar, lançou a senadora Soraya Thronicke.

Integrantes da cĂºpula da UniĂ£o Brasil dizem que Bivar chegou a negociar internamente o endosso do partido a Lula sob promessas de apoio do petista para a reeleiĂ§Ă£o do deputado e para a busca de uma posiĂ§Ă£o de destaque no Congresso. Bivar nega.

Leia mais

Bivar abandona corrida ao Planalto e ajuda Lula no primeiro turno

A UniĂ£o Brasil Ă© resultado da fusĂ£o entre o DEM, um adversĂ¡rio histĂ³rico do PT, e o PSL, sigla fundada por Bivar e pela qual Bolsonaro foi eleito em 2018.
*
PERGUNTA – Por que o sr. desistiu de disputar a PresidĂªncia?

LUCIANO BIVAR – NĂ£o Ă© que eu desisti. A UniĂ£o Brasil continua com uma candidatura prĂ³pria, como sempre falei. AtĂ© entĂ£o a gente tinha um nome a definir. Soraya Ă© uma mulher qualificada, competente, senadora da RepĂºblica. A gente jĂ¡ vinha caminhando pelo Brasil todo. Talvez foi um sentimento da UniĂ£o Brasil que seria melhor eu na CĂ¢mara do que como candidato Ă  PresidĂªncia.P – Essa decisĂ£o foi tomada, segundo relatos de bastidores, apĂ³s conversas do sr. com o PT.

O sr. chegou a conversar internamente sobre a possibilidade de a UniĂ£o apoiar Lula?

LB – Isso tudo Ă© especulaĂ§Ă£o. A conversa que tive com o PT tive com todos os partidos, inclusive com o partido do presidente [Bolsonaro, o PL]. Isso nĂ£o faz nenhuma diferença. NĂ£o posso entender que isso tenha algum vĂ­nculo com a minha desistĂªncia. Muito pelo contrĂ¡rio. A UniĂ£o Brasil continua, e, como sempre disse, serĂ¡ protagonista desta eleiĂ§Ă£o.

P – Como foi a conversa que o sr. teve com Lula?

LB – A conversa que eu tive com o PT, como com o PL, como com o presidente atual, com todos, Ă© sempre em cima de coisas propositivas para o Brasil. Nada diferente disso. Cada um tem sua candidatura. Temos que nos preocupar com o Brasil.

P – Mas ele chegou a pedir para o sr. retirar a candidatura ou fazer gestões no partido para apoiar a candidatura dele?

LB – Jamais ele me pediu isso. NĂ£o Ă© da personalidade dele me fazer uma proposta dessa. Eu nĂ£o tive conversas sĂ³ com Lula, eu tive conversas com interlocutores. A minha famĂ­lia Ă© muito grande. SĂ£o 56 deputados, dez senadores, 13 candidatos ao governo, eles conversam entre si.

P – Com o Lula o sr. nĂ£o esteve pessoalmente?

LB – JĂ¡ estive vĂ¡rias vezes com o Lula pessoalmente. Recentemente, nĂ£o. Durante todo esse perĂ­odo de campanha a gente tem tido contato.

P – Mas o sr. conversou com Lula no Ăºltimo mĂªs?

LB – Se um dia chamar vocĂªs para jantar em SĂ£o Paulo e alguĂ©m perguntar se estive com vocĂªs, quem tem que falar isso Ă© vocĂªs. NĂ£o sou inconfidente.

P – NĂ£o ficou uma chateaĂ§Ă£o do sr. pela forma como Bolsonaro saiu do partido?

LB – Isso foi hĂ¡ trĂªs anos. Ele saiu porque nĂ³s temos diferenças. Eu entendo que a gente tem que preservar a democracia no Brasil a qualquer preço. Qualquer coisa que possa arranhar isso nĂ£o soa bem.

P – O sr. tentou levar a UniĂ£o a apoiar o Lula?

LB – NĂ£o, em nenhum momento. A UniĂ£o Brasil brigou internamente e externamente para ter sua candidatura prĂ³pria, mas tem setores da imprensa que querem eleger atĂ© quem Ă© a terceira via. É inadmissĂ­vel. A candidata mais qualificada chama-se Soraya Thronicke, tem um projeto econĂ´mico sem igual. Tem um vice-presidente, o Marcos Cintra, que Ă© um economista irretocĂ¡vel.

NĂ³s temos projeto prĂ³prio para tudo, de educaĂ§Ă£o, de saĂºde pĂºblica, segurança pĂºblica, com [Sergio] Moro [ex-ministro da Justiça]. Minas e Energia com [o deputado] Fernando [Coelho] Filho [UniĂ£o-PE]. NĂ£o tem ninguĂ©m que tenha algo parecido com o nosso plano de governo. E nosso projeto econĂ´mico, o imposto Ăºnico, Ă© a soluĂ§Ă£o desse paĂ­s. Quero brigar pelo imposto [Ăºnico], pela simplificaĂ§Ă£o tributĂ¡ria.

P – Caso o sr. seja reeleito, avalia a possibilidade de disputar a presidĂªncia da CĂ¢mara?

LB – NĂ£o, isso Ă© uma questĂ£o da CĂ¢mara. O partido que vai definir isso.

P – Na eventualidade de um segundo turno, qual posiĂ§Ă£o defenderia?

LB – Eu posso dizer que, se der um pouco de atenĂ§Ă£o ao projeto da senadora Soraya, ela estarĂ¡ no segundo turno.

P – Caso isso nĂ£o ocorra, com quem a UniĂ£o Brasil deve seguir?

LB – Se minha avĂ³ fosse mais nova, andava de bicicleta. Meu projeto Ă© o Brasil. Eu sou democrata e preservo as instituições a qualquer preço. A UniĂ£o Brasil nasceu para fortalecer as instituições. A fusĂ£o do PSL com o DEM foi para criar nĂ£o sĂ³ uma musculatura na nossa democracia, mas para defender nossos ideais.

P – Essa posiĂ§Ă£o, entĂ£o, Ă© contrĂ¡ria ao que Ă© associado hoje ao presidente Bolsonaro [e suas ameaças golpistas]?

LB – É claro que Ă© preocupante. Todas as fustigações que ele faz Ă s instituições nos assustam, mas isso Ă© uma decisĂ£o do eleitor.

P – No segundo turno, Ă© preciso que a UniĂ£o Brasil se posicione ou pode adotar neutralidade?

LB – Claro que a UniĂ£o Brasil se posiciona. NĂ£o Ă© no segundo turno, posiciona-se hoje. Ela Ă© a favor da democracia. Esse Ă© o laço mais forte que nĂ³s fizemos com a fusĂ£o, para defender as instituições e a democracia.

P – EntĂ£o podemos depreender que, entre um e outro, vocĂªs tĂªm posiĂ§Ă£o mais contrĂ¡ria a Bolsonaro pelo que ele expressa hoje?

LB – VocĂª, como jornalista, tem todas as ferramentas possĂ­veis e imaginĂ¡veis para depreender de acordo com a coletĂ¢nea de informações e entrevistas. A UniĂ£o Brasil nĂ£o se furta tambĂ©m Ă  liberdade de imprensa.

P – ​O sr. vĂª algum risco de ruptura institucional no paĂ­s?

LB – Eu me preocupo. NĂ£o Ă© Ă  toa que estou aqui, na minha idade, brigando pela minha democracia.

P – Por que a candidatura do Sergio Moro nĂ£o deu certo?

LB – O Podemos [ex-partido de Moro, que ingressou depois na UniĂ£o Brasil] nĂ£o deu condições de ele ser candidato a presidente.

P – Mas e na UniĂ£o Brasil?

LB – Quando veio, ele jĂ¡ nĂ£o era mais candidato a presidente. Veio como candidato ao Senado pelo estado de SĂ£o Paulo [a Justiça barrou sua transferĂªncia de domicĂ­lio eleitoral, e ele deve ser candidato ao Senado pelo ParanĂ¡]. Essa foi a conversa pessoal que eu tive com ele. Ele veio com essa condiĂ§Ă£o. Ele gostaria de saber se tinha legenda para ele ser candidato ao Senado.

P – Ele chegou a falar com o sr. nos Ăºltimos dias sobre as conversas da UniĂ£o Brasil com Lula?

LB – NĂ£o. Ele estĂ¡ centrado na disputa no ParanĂ¡, e as pesquisas mostram ele Ă  frente, quando nem começou a propaganda em canal aberto.

P – O sr. considera integrar o governo Lula?

LB – NĂ£o considero. O nosso projeto Ă© estar na CĂ¢mara e defender o imposto Ăºnico, a nossa bandeira Ă© destravar o paĂ­s.

P – Para aprovar isso, vai precisar de entendimento com o governo. Caso nĂ£o seja a UniĂ£o Brasil, o partido vai estar aberto para conversar ou compor esse governo?

LB – O que quero Ă© o projeto Brasil, qualquer que seja o governo. E preservar a democracia. Se quiser acabar com esse manicĂ´mio tributĂ¡rio, conte com a UniĂ£o Brasil.

P – A expectativa Ă© eleger quantos deputados, senadores e governadores?

LB – A gente passa de 60 deputados federais, acho que faz dez senadores e ao menos uns sete governadores.

P – Em Pernambuco, uma preocupaĂ§Ă£o dos polĂ­ticos locais Ă© a UniĂ£o nĂ£o conseguir eleger trĂªs deputados…

LB – A UniĂ£o Brasil estĂ¡ brigando para eleger trĂªs deputados federais. Hoje estou em Pernambuco, a minha terra, pedindo votos, dando duro para que a gente consiga ter votos suficientes para eleger trĂªs federais.

P – Em 2018, o PSL ficou marcado pelas candidaturas laranjas, a situaĂ§Ă£o de mulheres que foram lançadas com muito dinheiro e quase nenhum voto. O que o sr. tirou de liĂ§Ă£o desse episĂ³dio e o que o partido pretende fazer agora?

LB – Primeiro, quero dizer que nĂ£o fui nem indiciado. As trĂªs candidatas que foram indiciadas foram absolvidas. Porque nĂ£o pode fazer uma relaĂ§Ă£o direta de quanto investe e [quanto o eleitor] vota. Se tivesse isso, jĂ¡ sabia o eleito agora.

P – Mas era uma discrepĂ¢ncia muito grande entre o valor investido e o voto obtido.

LB – Um dado nesta eleiĂ§Ă£o agora, no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]: quase 3% das candidatas tiveram de zero a um voto, [em] todos os partidos, exceto o PSL. A verdade factual Ă© que vocĂª tem dificuldade de ter candidaturas em cima de cotas. Isso nĂ£o Ă© um problema sĂ³ da UniĂ£o Brasil. A gente tem um compliance [normas para evitar fraudes ou crimes]. Acho que nenhum partido tem tanta preocupaĂ§Ă£o com isso quanto a UniĂ£o Brasil, e a gente vai seguir Ă  risca aquilo que determina a lei.

P – Alguns adversĂ¡rios do sr. afirmam que a Soraya foi colocada nessa posiĂ§Ă£o exatamente para conseguir alcançar a cota das mulheres. Como o sr. responde a isso?

LB – É um preconceito muito grande. Por que esse preconceito com mulher? Ela Ă© competente, mais do que 90% dos homens naquele Congresso. NĂ£o sou sexista, mas acho que a mulher Ă© tĂ£o competente quanto o homem.


LUCIANO BIVAR, 77


Formado em direito, fundou o PSL em 1994. Deputado federal em trĂªs mandatos, jĂ¡ presidiu o Sport Clube do Recife, time de futebol de Pernambuco, seu estado natal. É empresĂ¡rio do ramo de seguros.

Leia mais no NotĂ­cias ao Minuto