Parlamentares, prefeitos e fazendeiros pedem fim da violência no sul do Amazonas

Lideranças do sul do Amazonas pedem trégua e diálogo ao governo diante da repressão em operações ambientais.

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 03/07/2025 às 21:37 | Atualizado em: 03/07/2025 às 21:38

Parlamentares do estado do Amazonas, prefeitos e produtores rurais dos municípios do sul do Amazonas se reuniram, em Brasília, nos últimos dois dias, com autoridades do governo federal, incluindo as ministras Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima).

Esses dois encontros contaram com as presenças dos senadores Omar Aziz (PSD-AM), coordenador da bancada do Amazonas, no Congresso Nacional, e do senador Eduardo Braga (MDB-AM). E ainda dos deputados federais Sidney Leite (PSD-AM) e Átila Lins (PSD-AM).

Contaram ainda com as participações de cinco prefeitos, presidentes de Câmaras Municipais, vereadores e representantes da Federação da Agricultura e Sindicatos Rurais de agricultores.

Dessa forma, a pauta central das reuniões foi discutir o impasse gerado pelas operações de fiscalização ambiental nos municípios de Apuí, Boca do Acre, Manicoré, Humaitá, Novo Aripuanã e Lábrea.

Segundo relato dos prefeitos e representantes dos produtores rurais da região, as ações do Ibama, ICMbio e Polícia Federal têm causado pânico e opressão entre produtores rurais. E a principal reclamação é a desproporcionalidade da fiscalização.

A região do sul do Amazonas é onde estão os maiores índices de desmatamento e grilagem de terras – a prática ilegal de apossamento de terras públicas ou privadas mediante a falsificação de documentos de propriedade ou a adulteração de títulos de posse.

Assim, o objetivo principal dos encontros com as autoridades do governo federal foi buscar um pacto amigável e uma solução definitiva para a convivência entre a produção local e a preservação ambiental.

“Nesses encontros, levamos uma pauta urgente: encontrar caminhos para garantir o desenvolvimento sustentável da nossa região sem abrir mão da preservação ambiental. Apresentamos à ministra Gleisi Hoffmann uma proposta de diálogo entre o governo federal, Ministério do Meio Ambiente, Ibama e ICMBio, que possa construir soluções reais para o povo das cidades do sul do Amazonas”, declarou o coordenador da bancada, senador Omar Aziz.

Opressão e intimidação

Segundo os parlamentares e líderes locais, as operações do Ibama, ICMBio e Polícia Federal, embora visem combater o desmatamento ilegal.

No entanto, estão resultando em ações repressivas extremas, como incêndios de currais e equipamentos, invasões de propriedades, e punindo muita gente, que não tem nada a ver com a situação. Essas ações estariam criando um clima de opressão e intimidação e estado de pânico na população, ao invés de confraternização.

De acordo com o deputado federal Átila Lins, as operações, que começaram em Apuí e Matupi, e agora estão se iniciando em Boca do Acre, nos mesmos moldes, são consideradas desproporcionais ao crime eventualmente cometido, resultando em agressões e ofensas.

“Claro que não interessa estimular o desmatamento ilegal, mas na hora de punir os responsáveis, você exagera e pune muita gente, até alguns que não tem nada a ver com a situação. Foi o que aconteceu no Apuí. Portanto, muita gente foi prejudicada, muitos currais incendiados, equipamentos queimados e invasões de propriedades, tudo em função de que o Ibama acha que esse que essas propriedades geraram um desmatamento ilegal em níveis muito alto de abril para cá”, declarou Lins.

Diálogo racional

Os representantes do Amazonas propuseram uma solução que envolva o apoio dos produtores para evitar o desmatamento ilegal, em troca da paralisação da ação considerada desproporcional.

De acordo com o senador Eduardo Braga, a ideia é buscar uma trégua de seis meses para que se possa sentar à mesa com prefeitos e lideranças e encontrar caminhos. Um documento assinado por todos os gestores do sul do Amazonas foi preparado, pedindo essa trégua para abrir um canal de negociação. A meta é que aqueles que produzem a terra e querem agir de forma correta e legal possam continuar trabalhando com tranquilidade.

Respostas

A ministra Gleisi Hoffmann se colocou à disposição para abrir essa interlocução, buscando um equilíbrio entre o cuidado com a floresta e as oportunidades de quem vive nela. Ela foi elogiada por sua recepção e por se mostrar disposta a manter contato com as autoridades ambientais.

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Por outro lado, a ministra Marina Silva foi percebida como tendo uma conversa sempre muito difícil, sendo descrita como dona da verdade e não querendo aceitar as propostas de diálogo e negociação que envolveriam os prefeitos e lideranças locais.

Apesar do impasse, Gleisi Hoffmann determinou que seu secretário executivo, André Ceciliano, mantivesse contato com o Incra para buscar uma solução. E uma nova conversa foi agendada para a próxima segunda-feira (7/7).

Fotos: divulgação